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PELO MUNDO...
DHRRHÇHD DE PER^
“ De noite Pery teve um sonho; a senhora appa-
receu ; estava triste e falou assim
i
José de ^ Alencar ^
o VESTIDO
O INDIO começou, na sua linguagem tão rica e poe-
-— tica, com a doce pronuncia que parecia ter apren-
Ç dido das auras da sua terra ou das aves das flores
tas virgens, esta simples narração
“ Era o tempo das arvores de ouro.
" A terra cobriu o corpo de Araré, e as suas ar
mas ; menos o seu arco de guerra.
‘‘ Pery chamou os guerreiros de sua nação, c disse
" — Pae mor-
I aquelle que
t°r o mais forte
en tre todos terá o
arco de Araré.
Guerra !
p " Assim fallou
1 er y ; os guerrei-
ros responderam
guerra 1
“ Emquanto o
S0 ‘ allumiou a ter-
ra , caminhamos ;
Quando a lúa su-
0l .u ao céo, che-
gamos. Combate-
m °s como Goyta-
^azes. Toda a noite
í? 1 urna guerra,
nouve sangue,
«ouve fogo.
,'" Quando Pery
abaixou o arco de
Araré não havia na
aba dos brancos
■na cabana em pé,
m homem vivo,
mdo era cinza.
v .em o dia
a,1 umiou o
Po
e
cam-
veio o venlo e
i , , V
e 'í?n a c 'uza.
dnc Pe ^- chefe
fi?, s Goytacazes,
. ho de Araré, tu
d, ° t ®ais valente
ten, ’ e 0 ma ‘ s
te mido do inimigo;
7 a máe che_
^«ed.sse:
dos Pe ^’ , chefe
filho ri 9'“ytacazes,
és „ de Af are, tu
fortf rande ’ tu és
jí t c u7° teu
ama.
mãe te
Miss Joyce Barbour exhibindo a original crcação da moda ingleza.
ch„„? s guerreiros
r an f? ram e disse-
®°ytaca ’ Che ^ e dos =
e 0 m ? z ® s > f.'" 10 de Araré, tu és o mais valente da tribu,
<• » 18 temido do inimigo ; os guerreiros te obedecem,
“ p mulh ?res chegaram e disseram :
ftexivei P r ' me >ro de todos, tu és bello como o sol e
mulh er „ cotno a canna selvagem que te deu o nome ; as
" p e| ; s s 3o tuas escravas.
Uiãe ( ouviu e não respondeu ; nem a voz de sua
Uiuih e nem 0 canto dos guerreiros, nem o amor das
h]‘ es ' 0 fez sorrir.
a s enhnr aS j da cruz > 110 me ‘° d° fogo, Pery ti
er a beli. dos francos; era alva como a filha
" Tinh como . a garça c'o rio.
c abeiio s . 1 cdr do c é° uos olhos ; a cor do sol nos
es trellnc ’ es f ava vestida de nuvens, com um cinto de
" o'f e P ma Pluma de luz.
°go passou ; a casa da cruz caiu.
11 Pery, guerreiro livre, tu és meu escravo ; tu me
seguirás por toda a parte, como a estrella grande
acompanha o dia.
“ A lua tinha voltado o seu arco vermelho, quando
tornamos da guerra ; todas as noites Pery via a senhora
na sua nuvem ; ella não tocava a terra, e Pery não
podia subir ao céo.
“ O cajueiro quando perde a sua folha parece morto ;
não tem flór, nem sombra, ; chora umas lagrimas
doces como o mel dos seus frutos.
“ Assim Pery ficou triste.
“ A senhora não appareceu mais ; e Pery via sem
pre a senhora nos seus olhos.
“As arvores ficaram verdes; os passarinhos fize-
_____________________ ram seus ninhos ;
o sabiá cantou ; tu-
ALAO BRANCO” doria; o filho de
Araré lembrou-se
de seu pae.
“ Veiu o tempo
da guerra.
* Partimos ; an
damos ; chegámos
ao grande rio. Os
guerreiros arma
ram as rêdes; as
mulheres fizeram
fogo ; Pery olhou
o sol.
“ Viu passar o
gavião.
“Se Pery fosse
o gavião, ia ver a
senhora no céo.
“ Sentiu passar
o vento.
“Se Pery fosse
o vento, carregava
a senhora no ar.
"Viu passar a
sombra.
“ Se Pery fosse
a sombra, acom
panhava a senhora
de noite.
“ Os passarinhos
dormiram tres ve
zes.
“Sua mãe veiu
e disse :
" Pery, filho de
Araré, guerreiro
branco salvou tua
mãe; virgem bran
ca também.
11 Pery tomou
suas armas e par
tiu ; ia ver o guer
reiro branco para
ser amigo ; e a fi-
1 h a da senhora
tinha visto
filha da lua ;
para ser escravo.
“O sol chegava
ao meio do céo
e Pery chegava
também ao rio ; avistoujonge aitua casa grande.
“A virgem branca appareceu.
“Era a senhora que Pery tinha visto; não estava
triste como da primeira vez ; estava alegre ; tinha dei
xado lá a nuvem e as estrellas.
“ Pery disse
“A senhora desceu do céo, porque a lua sua mãe
deixou ; Pery, filho do sol, acompanhará a sua senhora
na terra.
“ Os olhos estavam na senhora ; e o ouvido no coração
de Pery. A pedra estalou e quiz fazer mal a senhora.
“A senhora tinha salvado a mãe de Pery, Pery não
quiz que a senhora ficasse triste, e voltasse ao céo.
“ Guerreiro branco, Pery, primeiro de sua tribu, filho
de Araré, de nação Goytacaz, forte na guerra, te offe-
rece o seu arco ; tu és amigo.