Full text: 3.1924=Nr. 8 (1924000308)

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PELO MUNDO... 
DHRRHÇHD DE PER^ 
“ De noite Pery teve um sonho; a senhora appa- 
receu ; estava triste e falou assim 
i 
José de ^ Alencar ^ 
o VESTIDO 
O INDIO começou, na sua linguagem tão rica e poe- 
-— tica, com a doce pronuncia que parecia ter apren- 
Ç dido das auras da sua terra ou das aves das flores 
tas virgens, esta simples narração 
“ Era o tempo das arvores de ouro. 
" A terra cobriu o corpo de Araré, e as suas ar 
mas ; menos o seu arco de guerra. 
‘‘ Pery chamou os guerreiros de sua nação, c disse 
" — Pae mor- 
I aquelle que 
t°r o mais forte 
en tre todos terá o 
arco de Araré. 
Guerra ! 
p " Assim fallou 
1 er y ; os guerrei- 
ros responderam 
guerra 1 
“ Emquanto o 
S0 ‘ allumiou a ter- 
ra , caminhamos ; 
Quando a lúa su- 
0l .u ao céo, che- 
gamos. Combate- 
m °s como Goyta- 
^azes. Toda a noite 
í? 1 urna guerra, 
nouve sangue, 
«ouve fogo. 
,'" Quando Pery 
abaixou o arco de 
Araré não havia na 
aba dos brancos 
■na cabana em pé, 
m homem vivo, 
mdo era cinza. 
v .em o dia 
a,1 umiou o 
Po 
e 
cam- 
veio o venlo e 
i , , V 
e 'í?n a c 'uza. 
dnc Pe ^- chefe 
fi?, s Goytacazes, 
. ho de Araré, tu 
d, ° t ®ais valente 
ten, ’ e 0 ma ‘ s 
te mido do inimigo; 
7 a máe che_ 
^«ed.sse: 
dos Pe ^’ , chefe 
filho ri 9'“ytacazes, 
és „ de Af are, tu 
fortf rande ’ tu és 
jí t c u7° teu 
ama. 
mãe te 
Miss Joyce Barbour exhibindo a original crcação da moda ingleza. 
ch„„? s guerreiros 
r an f? ram e disse- 
®°ytaca ’ Che ^ e dos = 
e 0 m ? z ® s > f.'" 10 de Araré, tu és o mais valente da tribu, 
<• » 18 temido do inimigo ; os guerreiros te obedecem, 
“ p mulh ?res chegaram e disseram : 
ftexivei P r ' me >ro de todos, tu és bello como o sol e 
mulh er „ cotno a canna selvagem que te deu o nome ; as 
" p e| ; s s 3o tuas escravas. 
Uiãe ( ouviu e não respondeu ; nem a voz de sua 
Uiuih e nem 0 canto dos guerreiros, nem o amor das 
h]‘ es ' 0 fez sorrir. 
a s enhnr aS j da cruz > 110 me ‘° d° fogo, Pery ti 
er a beli. dos francos; era alva como a filha 
" Tinh como . a garça c'o rio. 
c abeiio s . 1 cdr do c é° uos olhos ; a cor do sol nos 
es trellnc ’ es f ava vestida de nuvens, com um cinto de 
" o'f e P ma Pluma de luz. 
°go passou ; a casa da cruz caiu. 
11 Pery, guerreiro livre, tu és meu escravo ; tu me 
seguirás por toda a parte, como a estrella grande 
acompanha o dia. 
“ A lua tinha voltado o seu arco vermelho, quando 
tornamos da guerra ; todas as noites Pery via a senhora 
na sua nuvem ; ella não tocava a terra, e Pery não 
podia subir ao céo. 
“ O cajueiro quando perde a sua folha parece morto ; 
não tem flór, nem sombra, ; chora umas lagrimas 
doces como o mel dos seus frutos. 
“ Assim Pery ficou triste. 
“ A senhora não appareceu mais ; e Pery via sem 
pre a senhora nos seus olhos. 
“As arvores ficaram verdes; os passarinhos fize- 
_____________________ ram seus ninhos ; 
o sabiá cantou ; tu- 
ALAO BRANCO” doria; o filho de 
Araré lembrou-se 
de seu pae. 
“ Veiu o tempo 
da guerra. 
* Partimos ; an 
damos ; chegámos 
ao grande rio. Os 
guerreiros arma 
ram as rêdes; as 
mulheres fizeram 
fogo ; Pery olhou 
o sol. 
“ Viu passar o 
gavião. 
“Se Pery fosse 
o gavião, ia ver a 
senhora no céo. 
“ Sentiu passar 
o vento. 
“Se Pery fosse 
o vento, carregava 
a senhora no ar. 
"Viu passar a 
sombra. 
“ Se Pery fosse 
a sombra, acom 
panhava a senhora 
de noite. 
“ Os passarinhos 
dormiram tres ve 
zes. 
“Sua mãe veiu 
e disse : 
" Pery, filho de 
Araré, guerreiro 
branco salvou tua 
mãe; virgem bran 
ca também. 
11 Pery tomou 
suas armas e par 
tiu ; ia ver o guer 
reiro branco para 
ser amigo ; e a fi- 
1 h a da senhora 
tinha visto 
filha da lua ; 
para ser escravo. 
“O sol chegava 
ao meio do céo 
e Pery chegava 
também ao rio ; avistoujonge aitua casa grande. 
“A virgem branca appareceu. 
“Era a senhora que Pery tinha visto; não estava 
triste como da primeira vez ; estava alegre ; tinha dei 
xado lá a nuvem e as estrellas. 
“ Pery disse 
“A senhora desceu do céo, porque a lua sua mãe 
deixou ; Pery, filho do sol, acompanhará a sua senhora 
na terra. 
“ Os olhos estavam na senhora ; e o ouvido no coração 
de Pery. A pedra estalou e quiz fazer mal a senhora. 
“A senhora tinha salvado a mãe de Pery, Pery não 
quiz que a senhora ficasse triste, e voltasse ao céo. 
“ Guerreiro branco, Pery, primeiro de sua tribu, filho 
de Araré, de nação Goytacaz, forte na guerra, te offe- 
rece o seu arco ; tu és amigo.
	        
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