Full text: 3.1924=Nr. 8 (1924000308)

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PELO MUNDO... 
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O “NOBRE LORD” 
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Ainda a proposito do recente centenario 
de Lord Byron damos a seguir urna bella 
pagina de Paul Bourget, o g'pande roman 
cista francez, como já no nosso numero de 
Junho demos uma interessante pagina de 
Charles Foley. 
ti'Es* 
A primeira entrevista de Lord Byron com a condessa 
Giuccioli, segundo o quadro de George Cain. 
E’ preciso Ier a biographia do poeta, as 
cartas, os fragmentos dos seus admiraveis 
Memoranda para se conhecerem os detalhes 
exactos da violencia das suas paixões na 
adolescencia e na juventude. Só então se 
comprehenderá que as ironias do Don Juan, 
as maldições contra a vida que tornam esse 
poema o mais prodigioso breviario de sar 
casmos, as revoltas de Manfredo e Lara, 
as satánicas apologias do Corsario e Giaour, 
formam apenas o lado inverso de urna exis 
tencia Iouca e intensamente pintada com to 
das as fortes cores do prazer. Longe estava 
elle do raciocinio systematico pelo qual um 
joven allemão discípulo de Hartmann, que 
nunca saiu das bibliothecas, ou algum jovem 
russo virgem, que raspa o cabello e esconde 
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* 
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Morte de Lara. 
os olhos atrás de lunetas, chegam a consi 
derar o mundo um pesadello e a condemnar 
a vida, sem querer conhecer-lhes as alegrias. 
Parallelamente á idea revolucionaria, exis 
tiu sempre em Byron o orgulho de grande 
senhor a quem magóa o contacto com o 
populacho e que contempla a rnob com um 
ar de soberano desprezo. O personagem d’Alp, 
no «O cerco de Corintho», não encama bem, 
com a energia do patricio que se vinga, 
essa suprema aristocracia do desdem pelos 
Seus agentes de vingança ? Em Byron ha 
o amor ás grandes attitudes, a garridice até 
na dedicação, a fatuidade até no heroísmo. 
Elle foi sempre o elegante inglez que, antes 
de partir para a Grecia, experimentava, deante 
do espelho, um turbante de ouro, sobre a 
ondeada cabelleira. Era da raça daquelles 
que fazem questão de ser priginaes, não só 
pelo desejo de embasbacar os outros, como 
pela necessidade de encontrar sensações que 
mais ninguém conhece. Esses podem dar o 
sangue á revolução, á democracia e á li 
berdade, mas nunca o coração; ha nelles 
algo de solitario que lhes desmente o mar- 
k.» > 
Missolonghi, onde morreu Lord Byron, segundo um 
desenho de Clarkson Stanfield. 
tyrio e é por isso que Byron cada vez 
se torna mais conhecido na historia pelo 
cognome de «nobre lord». E’ por isso, q ue 
o orgulho de nascimento não o abandonou 
nunca e que a revolta contra a sociedade 
era nelle, apenas, um excesso desse senti 
mento, por mais social que ella fosse. 
Hoje que já se faz a necessária sepa 
ração entre as idéas d® poeta e a sua m- 
dolé, Byron apparece-nos isolado na sua al 
titude e no seu orgulho. Como artista em 
pregou tambem methodos que não são os 
nossos. Nos seus contos orientaes, que de 
orientaes só têm o scenario, ha urna certa 
enscenação theatral. Os prosodistas da mo 
derna Inglaterra criticam-lhe os erros de 
.grammatica e rythmo, o que os leva a pr e " 
ferir o complicado, mas tão inventivo ShelleV- 
E’ o triste destino de toda a obra, 
por maior que seja, acaba sempre analysada 
palavra por palavra, até se transformar nuin 
caso de grammatica. Extranha e irónica con 
tradição do destino litterario, não perder un 
rethorico ou grammatico, como La Bruyer e ’ 
por exemplo, nada do seu valor através do
	        
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