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PELO MUNDO...
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O “NOBRE LORD”
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Ainda a proposito do recente centenario
de Lord Byron damos a seguir urna bella
pagina de Paul Bourget, o g'pande roman
cista francez, como já no nosso numero de
Junho demos uma interessante pagina de
Charles Foley.
ti'Es*
A primeira entrevista de Lord Byron com a condessa
Giuccioli, segundo o quadro de George Cain.
E’ preciso Ier a biographia do poeta, as
cartas, os fragmentos dos seus admiraveis
Memoranda para se conhecerem os detalhes
exactos da violencia das suas paixões na
adolescencia e na juventude. Só então se
comprehenderá que as ironias do Don Juan,
as maldições contra a vida que tornam esse
poema o mais prodigioso breviario de sar
casmos, as revoltas de Manfredo e Lara,
as satánicas apologias do Corsario e Giaour,
formam apenas o lado inverso de urna exis
tencia Iouca e intensamente pintada com to
das as fortes cores do prazer. Longe estava
elle do raciocinio systematico pelo qual um
joven allemão discípulo de Hartmann, que
nunca saiu das bibliothecas, ou algum jovem
russo virgem, que raspa o cabello e esconde
*
*
■ •
*
Morte de Lara.
os olhos atrás de lunetas, chegam a consi
derar o mundo um pesadello e a condemnar
a vida, sem querer conhecer-lhes as alegrias.
Parallelamente á idea revolucionaria, exis
tiu sempre em Byron o orgulho de grande
senhor a quem magóa o contacto com o
populacho e que contempla a rnob com um
ar de soberano desprezo. O personagem d’Alp,
no «O cerco de Corintho», não encama bem,
com a energia do patricio que se vinga,
essa suprema aristocracia do desdem pelos
Seus agentes de vingança ? Em Byron ha
o amor ás grandes attitudes, a garridice até
na dedicação, a fatuidade até no heroísmo.
Elle foi sempre o elegante inglez que, antes
de partir para a Grecia, experimentava, deante
do espelho, um turbante de ouro, sobre a
ondeada cabelleira. Era da raça daquelles
que fazem questão de ser priginaes, não só
pelo desejo de embasbacar os outros, como
pela necessidade de encontrar sensações que
mais ninguém conhece. Esses podem dar o
sangue á revolução, á democracia e á li
berdade, mas nunca o coração; ha nelles
algo de solitario que lhes desmente o mar-
k.» >
Missolonghi, onde morreu Lord Byron, segundo um
desenho de Clarkson Stanfield.
tyrio e é por isso que Byron cada vez
se torna mais conhecido na historia pelo
cognome de «nobre lord». E’ por isso, q ue
o orgulho de nascimento não o abandonou
nunca e que a revolta contra a sociedade
era nelle, apenas, um excesso desse senti
mento, por mais social que ella fosse.
Hoje que já se faz a necessária sepa
ração entre as idéas d® poeta e a sua m-
dolé, Byron apparece-nos isolado na sua al
titude e no seu orgulho. Como artista em
pregou tambem methodos que não são os
nossos. Nos seus contos orientaes, que de
orientaes só têm o scenario, ha urna certa
enscenação theatral. Os prosodistas da mo
derna Inglaterra criticam-lhe os erros de
.grammatica e rythmo, o que os leva a pr e "
ferir o complicado, mas tão inventivo ShelleV-
E’ o triste destino de toda a obra,
por maior que seja, acaba sempre analysada
palavra por palavra, até se transformar nuin
caso de grammatica. Extranha e irónica con
tradição do destino litterario, não perder un
rethorico ou grammatico, como La Bruyer e ’
por exemplo, nada do seu valor através do