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PELO MUNDO..
O trem, como
dono da casa,
invadía a esta'
ção, produzin
do o barulho
que faz sem
pre a entrada
do chefe em
sua secção. As
pránchas gi~a-
toiias gemlam
debaixo das ro_
das, prOduzin-
do o ruido de
metralha; o
guarda - chaves
abria as agu
lhas para que
o senhor to
masse a linha
do caes; as ban-
deirinhas agi:a-
vam-se, as vi
brações do tim
bre eléctrico
chamavam os
empregados, e
emquanto os
gua r da-freios se
iam despencan
do dos telha
dos dos vagões,
as secções da
estação vomi
tavam por suas
portas, telegra-
phisías, empre
gados da tra-
cção, carregadores e outros empregados que
iam e vinham confundidos, e aos gritos de:
Miranda; vinte minutos; restaurant. Por
fim o monstro parou e poz-se a irespirar, des
cançando da sua carreira vertiginosa, mas
pérmittlndo se ainda de vez em 1 quando al
guns sibilos para que minguem puzesse em du
vida a solidez dos seus pulmões. Então co
meçou a descida dos viajantes, de frente
os magros e de lado os gordos, reproduzm-
do-se as mvariavels phrases de:
— Apresse-se, que não ha tem'po a perder.
— Ai, que calo ¡
— Oh menina ¡
— Por aquí.
-— A bolsa ?
— Meus sapatos, que levo adundados.
Quem esta ultima phrase dizia era D. Res-
tituta, a esppsa de D. Canuto, empregado
no Tribunal de Contas, que pela primeira
vez ia a Parts e praticava o francez pelo
caminho. Porque la me esquecendo de di-
zer-lhes que a acção se passa no expresso
de Madrid que vae á capital da República
vistnha.
~i Ponha-os depressa.
— Já Os puz.
— E lembra-te que se chamam souliers.
— Ah; Como o romancista ?
— Isso mesmo.
Entre eátas e outras (as outras fot urna
parada, que, como mulher, se permittiu fa
zer D. Restituta ao passar por uns laosques,
para ver o que havta lá dentro,) chega
ram ao restaurant, onde já os esperavam, al
moçando, não
só os compa
nheiros de via
gem mris ligei
ros ou menos
curiosos, mas
também os pro
cedentes de Bil.
báo deseiíibar-
ca.'os cinco mi
nutos antes.
Por felicida
de as viajantes
eram poucas e
encontraram lo
go dois logares
livres, que oc-
cuparam, não
direi para co
mer, mas para
engolir os ali
mentos que com
muita agitação
mas com pouca
1 i g e i r e za, se
servem em ge
ral nas estações
das estradas de
ferro h e s p a-
nholas.
Que mulher
tão boniie ? !...
disse D. Resti
tuía, fixando
uma moça que
tinha na sua
frente e na qual
seu mando já
tinha assestado duas olhadelas, capazes de
partir a gallinha que em vão tentava trinchar.
Sim, não é feia; — respondeu hypocrita-
mente o marido.
Como olha para ti. E com effeito, a senhora
parecia que procurava quem lhe pagasse
o almoço. Não descreverei o rosto d’ella,
em primeiro logar porque estou com pressa,
e depois porque cada um tem, o peu typo de
belleza e receio não contentar a todos. Era
bonita: e como oircumsfancia aggravante pos
suía turna ¡pinta em um dos cantos do labio, que
fazia perder a cabeça a qualquer isjugeito
(como dizia um poeta aragonez); exemplo
D. Canuto, que se fez servir tres vezes de
um macarrão ao parmezão, que fincava com
o girfo e tirava feitos em madeixas de fi
lamentos, produzidos pelo casamento do Par
mezão com Grugére, que era tudo um só.
A D. Resíi/uta também se abriu o appe-
iite pediu segunda dose, e como a visinha
tez outro tanto, houve um cruzar de sornsos
entre os tres, que rompendo o silencio, in
duziu a exclamar:
— "íls sont três riques.
Ce plat est reelbement deliciéux — con
firmou a bella desconhecida, Bastou isso
para dar azas á conversa. Cinco minutos
depois sabia o casal que Mlle. Nmi era o
nome Oa pinta, a sua patria Beaucaire o
seu rumo Paris.
Ah; Vae também para Paris? Nós sau-
cisse(Hl). Desde aquelle momento ficou feito
um pacto de alliança e combinaram que to-
©«a PE^o fio <FEtíA
SE AO NOVELO m