Full text: 1.1915,18.Aug.=Nr. 12 (1915000112)

SELECTA 
pelle dum christâo, custa a sabir. Felizmente ella é 
moça. Isso passa. Passa — que ella nao ha de ficar 
assim para toda a vida. 
Mas logo uma duvida o assaltava: 
— Falle compadre ? Diga o que você acha ? Por 
que se ella morrer eu não resisto! 
E vinham-lhe as lagrimas aos olhos, escorrendo 
depois pelas erosões da face enfermiça, amiserada e 
idosa. 
Diante daquella dor, o Manduca despedia-se. 
Montava o baio ronceiro e largava estrada em fóra, 
todo pendido para diante, tristemente. 
Jánas varzeas,ao choro lento do carnaúbal, diante 
do sol faiscante e alto, olhando os fumos das quei 
madas, longe, nas abas das serras, soltava para o ar 
quente do dia a vibração sonora e lassa duma qua 
dra matuta : 
« Quem tiver moça bonita 
Traga presa na corrente 
Que eu também já tive a minha 
Jacaré levou no dente. . . » 
De novo entrava no mato. De novo sombras o 
envolviam. Baixava a cabeça branca com um sus 
piro. E o baio sentindo o desfallecimento do caval- 
leiro, ainda chouteava mais devagar. 
A Luiza cada vez andava mais triste. Depois do 
sol posto, na curta e doce claridade do crepúsculo, 
ella dava um gyro pelo campo. Seguia a estrada até 
o corrego ou subia o morro, e lá de oima olhava os 
tons da tarde que esmaeciam no valle, violetando 
os carrascaes e os campos de plantio cheios de ru 
gas. Nas varzeas passavam cicios de brizas e demo 
rava no ar o arrulho gemente das pombas. Ficava 
pensativa alli, no alto, muito tempo. Depois tornava 
á casa, arrastando os passos. Quando passava em 
frente ás Malaquias, ellas murmuravam apiedadas, 
trocando os bilros. 
Um dia não voltou do passeio. Procuraram-na 
com fachos, aos gritos, pela catinga espessa. Muito 
tarde, guiados pelo rasto, já apagado quasi do pisar 
dos bichos, o Manduca e o pai acharam-n’a cahida 
de costas, em cima do cerro, no mesmo logar em 
que agora se levantava a cruz. Estava morta. Tinha 
os olhos abertos e muito ennevoados. 
Um anno depois o Estevam casára na Canoa. 
Hoje em dia morava alli perto. Tinha uma fazenda 
e filhos. A mulher era rica. O Selleiro ainda arras 
tava a sua dôr e a sua saudade pelo mundo. Já os 
bordados de suas caronas sahiam tremidos. N3° 
havia muito tempo que um freguez lhe devolvera 
uns arreios completos. Ia ficando cégo. Uma cata 
rata pertinaz cobria-lhe aos poucos os olhos glaucos. 
Arrimava-se a um jucá forte e pendia para o chão. 
Dera para devoto. Vivia balbuciando preces com os 
beiços molles. ■ 
Em tomo, na mata viçosa, a passarada cantava 
alto. Gemiam aguas num marulho preguiçoso. Uma 
grande frescura errava no ar. O vento trazia perfu 
mes suaves de resinas. E na dormência daquella 
rara abundancia sertaneja deixei cahir uma pe 1 ' 
gunta: 
— De que morreu a Luiza ? 
O pagem sorrio: 
— O velho conta que foi de um ataque, mas o 
povo diz que ella morreu de amor. 
João do Norte 
V- :i," ,|l ,v -.1 
■ ■' |! ...'V ; v'M.ri 11 ' Ml , III.-.. L. 1 , . ■ : |. JU 1 .- 1 1 ' ’ 
A CARICATURA ESTRANGEIRA 
u 
<3 
CL 
& 
1 
A VIDA NO HOTEL 
Garçon, o gruyere que nos serviu está todo molhado. 
Está, sim; senhor ! N’este tempo o bom gruyere chora. 
Ah ! ah ! Pois leve este... e traga-nos um que esteja consolado. 
(Desenho de J. Henxafd)
	        
© 2007 - | IAI SPK

Note to user

Dear user,

In response to current developments in the web technology used by the Goobi viewer, the software no longer supports your browser.

Please use one of the following browsers to display this page correctly.

Thank you.