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PELO MUNDO...
A JARRETEIRA
E' a ordem mais importante das que existem em In
glaterra. Foi fundada a 19 de Janeiro de 1350, por
Eduardo III, sem que de modo positivo se saiba nem
a occasião nem o motivo porque a creou.
O seu nome inglez garter, que em portuguez signi
fica liga, terfl origem numa tradição, muito propa
lada e admittida, que attribue a fundação desta Ordem
a um episodio verdadeiramente curioso.
Diz-se que a condessa de Salisbury, a quem Eduardo
III amava tão apaixonadamente que ella foi conside
rada sua favorita, perdeu num baile uma das suas
ligas, que o rei se entregou a procurar e que precipi
tadamente levantou do chão. Esse acto excitou a hi
laridade dos cdrtezãos, o que fez que o rei excla
masse: “fionni
soit qai mal y
pense. (Mal haja
quem disto pense
mal). Talvez aquel-
les que se riram
algum dia se jul
guem muito hon
rados por traze
rem uma seme
lhante!” E pouco
tempo depois,para
consolar a sua
amante da contra
riedade que o ca
so e a attitude dos
cortezãos lhe ha
viam produzido,
prometteu-lhe col-
locar tão alto a
sua liga que ella
chegaria a ser uma
insignia que os
mais orgulhosos e
altivos fidalgos
ambicionariam ; e
cumpriu sua pro
messa com a fun
dação da Ordem.
Outra tradição
attribue a sua ori
gem ao desejo de
perpetuar a victo
ria de Crécy, di
zendo que foi cha
mada Jarreteira
— ou porque o rei
de Inglaterra tinha
dado o signal do
combate levantan
do uma liga com
a ponta da sua
lança, ou porque
era esta a palavra
de ordem que ha
via dado ás suas
tropas.
Nenhuma destas
explicações se
apoia em textos contemporâneos; porém, a admitir
se qualquer delias, não deixa de causar extranheza
que um facto tão insignificante, embora curioso, tenha
dado logar á fundação de uma Ordem tão importante,
que é concedida sómente aos soberanos de Inglaterra,
e algumas vezes a soberanos e grandes personagens
extrangeiros.
Apezar da sua antiguidade, e de se terem modifi
cado os seus Estatutos a 21 de Abril de 1722, é a
instituição menos apartada, talvez, do seu primitivo
espirito. A sua organização é inteiramente feudal;
seu grão-mestre é o principe reinante de Inglaterra,
e o logar de reunião de seus membros é a capella do
castello de Windsor.
Compõe-se de uns 50 cavallelros, dos quaes 25 per
tencem á mais alta nobreza de Inglaterra, e os outros
são os membros da familia real ingleza; alguns mui
poucos, soberanos extrangeiros e uma ou outra per
sonagem importante dos diversos paizes.
Suas insignias são uma liga de velludo azul escuro,
que se usa por baixo do joelho esquerdo; um me
dalhão suspenso de uma fita também azul, collocada
como banda, da direita para a esquerda, e uma placa
sobre o lado esquerdo do peito.
Seu lemma é o celebre: Ñonni soit qui maly pense.
- — Maria Antonieta 1 ■ —
Maria Antonieta, a filha de Francisco I e de Maria
Thereza, compareceu perante o tribunal judiciário
de Fouquier Tinville da segunda-feira, 14 de Outubro
de 1793.
Aos trinta e oito annos de edade, a rainha havia
envelhecido. Completamente abandonada, a viuva de
Luiz XVI soffrera
as maiores inju
rias. Se a desditosa
austríaca teve algo
de censurável na
sua vida intima,
não se lhe pode
deixar de admirar
a attitude que as
sumiu, com digni
dade, no julga-
mento a que foi
submettida.
A tremenda ac-
cusação quelhefoi
feita,comportando
as mais monstruo
sas infamias, fez
com que Hébert
abordasse os mais
variados pontos,
quando deu o seu
testemunho, e che
gasse a referir-se
a um facto que di
zia respeito a Ma
ria Antonieta e a
seu filho. A ex-rai-
nha ousou repli
car, e um dos mem
bros do tribunal
observou que ella
não respondera ao
arguido.
Maria Antonie
ta,emocionada,re
plicou: "Eu não
respondi,porque a
natureza se recusa
a responder a uma
accusação seme
lhante atirada con
tra uma mãe. Ap-
pello para todas as
mães que aqui
estão 1”
O proprio Ro-
bespierre chegou
quasi a lançar uma imprecação contra o infame Hé
bert que, mais tarde, pagou com a cabeça toda3 as
calumnias que assacara.
A's quatro horas da manhã da quarta-feira, 16 de
Outubro, foi conhecida a sentença: após dous dias e
duas noites de interrogatorio, Maria Antonieta rece
beu a condemnação á morte.
Ao meio dia e um quarto, a cabeça da rainha cahia,
decepada pela guilhotina. O carrasco ergueu-a e mos
trou-a ao povo que, inconscientemente compenetrado
da alta vantagem social que o cadafalso proporcio
nava, gritava em delirio: Viva a Republica!
Teem reparado que falamos todos do proximo,
como se nós-proprios fossemos umas perfeições ? —
Lucien Biart.
MONARCHA DE ETARIA
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T"T.
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Mr. W. H. Berry na opereta" O rei da ilha’ levada no Adelphi Theatre,
de Londres. Esse papel foi desempenhado por Air. Berry com ir-
reststivel comicidade, o mesmo succedendo a Mr. Oeorge Bishop, que
interpretou o do commandante Fairchilde, oheróe da peça.