Full text: 1.1922=Nr. 5 (1922000105)

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PELO MUNDO... 
A 
POESIA DA NEVE «=> 
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A natureza 
do Brazil 
não nos dá o 
aspecto ex- 
t ranho e 
cheio de poe 
sia da neve 
de que tan 
tas outras 
terras se 
ufanam. Se 
rá mesmo 
poesia, ou 
desolação ? 
Que o ava 
liem os 
olhos que 
pousarem 
sobre estas 
paginas em 
que damos 
varias pho- 
t ographias 
colhidas em 
H es ponha, 
que quer 
hombrear 
com a Suis- 
sa no que 
respeita á 
poesia da 
neve. 
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I 
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ÍJm dos picos mais elevados dos Pyrineus àk H 
hespanhóes. ^ 
A neve branca e impolluta foi sempre um vestido 
e gala para os montes alterosos; ornato das arvores 
esqueléticas, retorcidas sob o céo pardacento, como 
em convulsões de agonia; polido espelho onde o 
oeijo do sol se reflecte num impeto, despedindo 
scentelhas de luz; grande niveladora das desegual- 
uades naturaes, já que, por sua causa, se confundem 
a verde louçania dos prados e a hostil aridez dos 
ermos; a planicie e a sinuosidade; o valle placido e 
a escarpa perigosa. A’ approximação da neve, busca- 
se sempre o morno ambiente do lar, o fogão que 
erepita como um inferno, onde os espíritos do mal 
ailam o sabbat phantastico das chammas nervosas. 
Os poetas, eternos sonhadores, pintam-nos bellos 
quadros de amor e de perseverança sobre o fundo 
'inmaculado de monotona alvura, e dizem-nos com 
‘enues palavras subtis, como gemidos de dôr, as tra 
gedias que o 
manto frio co- 
P r e, sepultura 
'«clemente do 
dpe erra, atto- 
mto, na immen- 
sidade da steppe 
P°r onde avança, 
'atai e tragica, 
* figura sinistra 
«a Morte... 
Já lá se foi 
esse tempo ro 
mântico e senti 
mental. Já se não 
'°ge da neve, 
"em se teme sua 
quéda. A silhue 
ta gentil da cas- 
*ellá debruçada 
da janella gothi- 
Ca , indifferente 
ao caminhar das 
horas, com o 
pinar perdido no 
horizonte nebu- 
'°so e o cora- 
«o no amado 
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Vista panorámica da serra- 
^ Ponte da fonte do Fígado, em Panticosa na 
Hespanha. 
que está longe, é hoje substituida pela galhardia da 
alpinista audaz, indómita arrostadora do frio, que, 
vestida com o branco jersey e o encantador gorro 
ponteagudo de lã, põe sobre os montes desamparados 
e aggressivos a nota de sua alegria e o thesouro im 
ponderável de sua juventude e de sua belleza. 
As paragens de neves perpetuas consideram-se, nos 
tempos modernos, como sanatorios. Sobre ellas, pla 
nejam-se grandes edificios, onde a moderna thera- 
peutica reune copiosos materiaes de defeca contra o 
mal, e esparge, no desconsolado viver dos incuráveis, 
a misericordiosa semente de uma esperança. 
Desapparecido o temor que a lenda e o abandono 
punham sobre os campos nevados, são elles procura 
dos, pela geração actual, para fortalecer o corpo e 
regosijar o espirito ; para abstrahir-se na contempla 
ção do espectáculo que proporcionam, ou para ascen 
der aos elevados 
picos que as nu 
vens coroam e 
abandonar-se da 
altura numa te 
meraria descida 
vertiginosa que 
prende a respi 
ração, contrahe 
os pulmões e 
brune a pelle 
com o áspero 
resvalar do ar, 
subtil como um 
fio de gelo. 
Uma bem or 
ganizada propa 
ganda, efFicaz- 
mente servida 
pela arte dos 
photographos, 
que procuram os 
sítios maispitto- 
rescos para di- 
vulgal-os pelo 
mundo, conse 
guiu para a Suis- 
sa um grande
	        
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