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pelo munuo...
m Saturação eléctrica da atmosphera g
Provavelmente, será grande de interesse para
a maioria dos nossos leitores, o phenomeno
meteorológico de que lhes vamos dar conhe
cimento.
Referiu-se a elle, n’uma communicação em
carta dirigida á Sociedade Astronómica de Fran
ça, e lida na sessão d’esta, de 3 de Fevereiro
de 1918, o Sr. Léon Deloy, encarregado de
Missão, na America do Norte, na qual assigna-
la os curiosos effeitos por elle proprio obser
vados, em De
zembro de 1917,
e devidos á sa
turação eléctri
ca da atmosphe
ra, nos Estados
Unidos. Escre
veu elle o se
guinte :
« Os últimos
dias de Dezem
bro e os primei
ros dias de Ja
neiro foram as-
signalados, nos
Estados Unidos,
por frios de 25
graus abaixo de
zero. Em Bel-
mar, com um
tempo esplendi
do, este grande
frio tornava o
ar tão sêcco,
que se podia
verificar a ten
são eléctrica por
meio de urna ex
periencia curio
sa. Se se fazia
o percurso de
um aposento,um
pouco rapida
mente, esfre
gando os pés no
tapete, podia-se,
em seguida, ti
rar faiscas, de
perto de um
centimetro de
comprimento,
approximando
um dedo a um
objecto metallico, em communicação com o
solo, ou mesmo approximando-o de alguem que
não estivesse em cima do tapete. Divertimo-
nos, durante algum tempo, a multiplicar este
genero de experiencias.»
Já em 1904, conforme a este proposito, re
cordou Flammarion, na sessão de 2 de Março,
da mesma Sociedade Astronómica, uma senhora,
Mlle. Hélène de Harven, referindo-se á sua
viagem a Winnipeg, e aos grandes frios do Ca
nadá, contou o seguinte, que é interessante :
«Chego ao hotel Clarendon, onde os meus
amigos me esperavam; encontro-me n’uma
vasta sala, com numerosas e grandes janellas
duplas, sem cortinas; enterro os pés no fofo
tapete, e, apezar da impressão um poüco suf-
focante do calorífero, reconforta-me o aspecto
d’este civilisado recinto. Recebo um acolhimen
to caloroso; meu primo avança para mim com
alvoroço e rapidez, de mão estendida; tiro
a luva para lh’a apertar e sinto, ao contacto
da sua mão, urna picada na palma da minha
e uma sacudidela no cotovello. Então, minha
prima, para manifestar, sem duvida, a alegria
que sente por me vêr, executa uma volta de
valsa em torno do salão e dá-me a face, di
zendo: «Beija-me!» Candidamente, dou-lhe o
beijo pedido; a mesma picada aguda me atra
vessa os beiços e me sacode.
«Então, todos se riem do meu pasmo e da
minha ignoran
cia. Com muita
experiencia do
facto, conhecem,
como todos os
habitantes do
paiz, o poder
dos effluvios
eléctricos; sa
bem que, por
toda a parte, em
torno de si, ás
menores fricções
dos corpos, se
sente, se vê, se
ouve a electri
cidade ambien
te, sob a forma
de relámpagos
em miniatura;
seja ella volun
tariamente pro
vocada ou não,
a lei physica
opera-se com a
sua precisão in-
fallivel, e nin
guém procura
ria a menor in
tervenção occul-
ta n’estes fados
normaes e habi-
tuaes da vida
canadiana.
«Em breve fui
iniciada no se
gredo do phe
nomeno, e eis a
experiencia, que
immediatamente
realizei. Fize-
ram-me desli-
sar, a passo ar
rastado e rápido, evitando roçar, mesmo com a
borda do vestido, por qualquer movei ou qual
quer objecto, afim de guardar em mim mesma
o fluido accumulado; — isto explica-me o sen
tido da valsa de ha pouco. — Abriram um bico
de gaz; toquei o orificio d’elle com a ponta do
indicador... instantaneamente, com um peque
no estalido sêcco, saltou a faisca azul, o gaz
inflammou-se e appareceu a luz! Eu tinha ac-
cendido o gaz com o meu dedo.»
Sarah Bernhardt já havia, também, obser
vado, pessoalmente, o mesmo phenomeno,
que muito admirara pela lextranheza d’elle,
e de que, egualmente, havia dado conta a
Flammarion. Não ha duvida que esta mani
festação eléctrica é de natureza a despertar
vivo interesse.
Pelo Mundo... da arto
■
BARBARA DEAN
Trabalho executado por Alfred Cheney Johnslon, segundo uma photographin.