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PELO MUNDO...
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PELO MUNDO
MAQAZINE MENSAL ILLUSTRADO
Director: Castro Moura
ANNO II — N. 3
Rio de Janeiro, Abril de 1923
Numero avulso 2$000
• nos Estados... 21200
> atrazado 3ÍOOO
Prop. da “Empreza de Publicações Modernas”
de Moura, Barreto & C.
Capital realizado 600:0001000
Av. Henrique Valladares, 145—(Edif. proprio)
Teleph. C. 4559 — End. Teleg. MOURETO
Assionatura Annual
Registrada
Rio e Estados 301000
Extrangeiro 40$000
***** VICTOR HUGO SEGUNDO OS PARNASIANOS *****
~ =** " .
Segundo Renán, Hugo era tão bruto como o
Himalaya. Sem duvida, era muito bruto, e nisso
estamos de accordo. Mas era o mais vibrante dos
homens e, queiramos ou não, é impossível não se
emocionar ante seu fervor lyrico. Nós, parna
sianos, fomos
accusados de
querer comba-
tel-o. Nada mais
falso. Tinhamos
um grande res
peito por elle, e
ainda pensamos
nelle para enca
beçar nosso pe
queno grupo.
Era a época
em que funda-
vamos “O Par
naso". Reunia-
mo-nos a meudo,
Coppée. Leconte
de Liste, Catulle
Mendés e eu, na
livraria Lemerre,
e o primeiro nu
mero de nossa
revista estava
por sair.
Um de nós,
não me lembro
quem, propoz
que se pedisse a
Hugo, então des
terrado em Guer-
nesey, urna carta
prefacio. Esta
idea foi acolhida
com enthusias-
mo e escrevemos immediatamente ao ¡Ilustre
proscripto. Alguns dias mais tarde, veiu-nos
uma epistola extraordinaria: “Jovens, sou o
passado e vós sois o futuro; não sou mais que
uma folha; sois a floresta; não sou mais que
urna chamma; sois os raios do sol; não sou...
etc. etc." Assim continuava durante quatro
grandes paginas, ao fim das quaes havia a
firma “Víctor Hugo".
Lemos juntos essa enlouquecedora missiva. Des
dea segunda linha, puzemo-nos a rir; na quarta,
apertámos o estomago, e na decima morríamos
de riso convulsivo.
Catulle Mendès gritava que eramos victimas
duma odiosa
mystificação.
Essa resposta
funambulesca
não podia ser do
grande homem.
Os agentes da
censura imperial
deviam sem du
vida, ter inter
ceptado nossa
carta, e resol
vido a pregar
nos uma peça.
Mas não nos dei
xaríamos burlar.
Consultamo-
nos sobre o que
se devia fazer.
Decidiu-se que
nos poríamos em
co mmunicação
com Juliette
Drouet, que vi
via então perto
de seu deus, em
Guernesey. Con
fiamos-lhe nossa
desgraça e nos
sa impaciencia
por obter uma
verdadeira carta
de Victor Hugo.
Seis dias depois,
recebemos a resposta de Drouet. A pobre se
nhora não sabia o que fazer. A primeira carta
era, effectivamente, de Victor Hugo. Sua fiel
amiga nol-o affirmava, e extranhava que não
descobríssemos o seu genio nessas paginas.
Sem embargo, não publicámos a carta. Pensá
mos, piedosamente, que podería deshonral-o.
Como eramos ingenuos! Nada deshonraos deusesl
Anatole Franco.
Uto.
m\\
LJmet cacada fructuosa