Full text: 2.1923=Nr. 8 (1923000208)

67 - 
PELO MUNDO... 
seease 
AS EXTRAORDINARIAS FAÇANHAS DA LAMPREIA 
Tudo que sabemos, nós que não somos na 
turalistas nem biologos, acerca da lampreia, 
se reduz á historia do rei guloso que morreu 
engasgado comendo uma pratada delias, e a 
de um Cezar insensato que lançou os seus es 
cravos no tanque afim de as alimentar. 
Porém, a lampreia é realmento um proble 
ma scientifico. Não póde ser catalogada como 
um peixe não tendo barbatanas, e o seu appa- 
relho respiratorio não se parecendo com os 
dos peixes em geral. Parte do tempo ella passa 
no mar e parte na agua doce do rio. Faz um 
ninho e 
põe os seus 
ovos r1 o 
acima nos 
cursos de 
agua da 
Europa e 
da Ameri 
ca, e é nos 
rios que 
ella é pes 
cada. Hou 
ve tempo 
que se pes 
cavam no 
Tamisa 
mais de um 
milhão de 
lamp reias 
annuaes, 
aue se ven 
diam como 
isca aos 
pescadores 
de baca- 
Iháo e de 
robalo dos 
mares do 
Norte. 
A lam 
preia se 
contrapõe 
a algumas 
de nossas 
noçõespre- 
d i iectas, 
pois, pos 
suindo o 
mais dimi 
nuto cerebro entre os peixes, demonstra en 
tretanto um grau de inteliigencia que é quasi 
humana. 
No principio da primavera, abandona a lam 
preia o mar e remonta os rios, afim de pro 
curar um lugar apropriado onde depositar os 
seus ovos, e nesse lugar faz um buraco. Abre 
o buraco enrolando e desenrolando o corpo 
repetidamente, e desse modo retira a lama e 
areia do leito do rio. A agua turva-se então, e 
torna-se barrenta; porém logo que fica con 
cluido o trabalho, póde-se ver uma cova bem 
feita e alisada. Algumas lampreias contentam- 
se com esse buraco para desovar; porém ou 
tras parecem necessitar de um modo mais com 
plicado. 
Carregam e amontoam pedras com as quaes 
constroem uma especie de gruta. As pedras pe 
quenas são levadas pela bocea e pousadas 
uma a uma no monte. Mas a lampreia não se 
satisfaz com um ninho feito somente de pedras 
pequenas, também se compraz edificar o seu 
lar com material mais consistente e volumoso, 
e ahi é que poderiamos sentir admiração se 
não soubéssemos quanto se parece com a in 
teligencia um instincto secular hereditario. 
A lampreia possueuma bocea extraordinaria, 
larga, redonda e elástica. Por meio delia póde 
agarrar 
q ualquer 
objecto, e 
ajudada 
apenas pe 
ia corren- 
t e z a da 
agua, carre 
ga pedras 
de peso 
g ran d e, 
despropor- 
cio nadas 
ao seu ta 
manho. A 
h abitação 
da lam 
preia é ef- 
f e c t i v a- 
mente fei 
ta em geral 
com pe- 
d r a s de 
grande vo 
lume, cujo 
tra nsporte 
é feito de 
modo en- 
genhosis- 
slmo. 
Em pri 
meiro lu- 
garellavae 
buscar as 
ditas pe 
dras « rio 
'acima», de 
modo que 
, a corren 
teza da agua collabora no transporte em vez 
de o difficultar. 
Nunca se verá uma lampreia buscar os seus 
materiaes de consírucção abaixo do seu proje- 
ctado ninho ou de sua casa em construcção, 
porque teria que lutar contra a corrente. 
Algumas pedras sendo demasiado grandes 
para serem carregadas sem interrupção, são 
arrancadas e carregadas a intervallos, ora 
empurradas, ora arrastadas com o auxilio da 
corrente. 
Porém o facto mais notável concernente á 
construcção do lar da lampreia consiste no 
auxilio mutuo que se prestam umas ás outras. 
Se uma lampreia não póde arrastar uma 
pedra, um par delias a arrastarão de collabo- 
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O ninho da lampreia.
	        
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