- 41
PELO MUNDO...
Rance sentou-sc num canapé e franzindo
o sobrolho, começou nestes termos:
—Vou dizer-lhe tudo sem falta de uma
virgula. O meu quarto de serviço começa ás
dez horas da noite para acabar ás seis da
manhã. A’s onze horas houve uma briga no
(.Coração de Prata» mas, coisa sem importan
cia, ficando dahi em deante tudo em so-
cego.
A’ uma hora, a chuva começou a cair.
Encontrei . então Harry. Murcher, o colle-
ga do bairro de Hollanda e demorámo-nos
um pouco a conversar ao canto da rua Hen-
riqueta. De repente, deviam ser duas horas,
ou duas e alguns minutos, pensei em dar
Rance sobresaltou-se e olhou Sherlock com
a mais completa expressão de pasmo.
—Mas... foi isso exactamente o que se pas
sou, meu caro senhor. Como é que o sabe ?...
Bem... Vou continuar. Parei deante da porta,
e olhando para o edificio tão só e tão. silen
cioso, pensei commigo que não era tolice ir
buscar Um camarada. O senhor comprehen-
de... Eu da parte dos homens não tenho me
do de coisa alguma; mas, não sei por que,
lembrei-me do sujeito da febre typhoide que
viesse espiar o tal negocio do esgoto. Senti
com essa idéa um arrepio por todo o corpo
e voltei á vedação a ver se avistava ai lan
terna de Murcher. Nem viv’alma!
PELO MUNDO.., PITTORESCO 1
•H**,
«piiS
«rip-**?'
1
PANORAMA DE CASTELLAMARE
Perto de Nápoles, na costa, ergue-se Castellamare, um dos pontos que, com enthusiastica
assiduidade, os touristes visitam todos os annos.
uma volta pelos lados de Brixton Road, a
ver se não havia novidade por lá. Estava
tudo horrivelmente enlameado e deserto. Não
encontrei viv’alma ao longo do caminho. Um
ou dois fiacres me passaram adeante. Avan
çava eu, pois, devagarinho, a pensar no
quanto me faria bem um copo de vinho
quente, quando avistei uma luz na janella
da casa em questão. Ora, eu sabia que aquel
las duas casas do Jardim Lauriston estavam
desalugadas, pelo motivo do proprietário se
recusar a reparar o esgoto, e morrera ali
um individuo, o ultimo locatario, de febre
typhoide. Fiquei estupefacto de ver a casa
illuminada, e suspeitei de qualquer coisa.
Ao chegar á porta...
—... você parou... Depois, veiu até á grade...
Por que foi que você fez isso ? atalhou meu
companheiro.
—Ninguém ha rua ?
—Nem um ser humano, meu caro senhor 1
Nem um cachorro. Tomei coragem, voltei,
e abri a porta. Socego completo no interior.
Penetrei no aposento onde a luz brilhava, e
encontrei sobre o fogão uma vela a arder,
uma vela de cera vermelha. Então vi...
—Sim, eu sei o que você viu. Você deu
varias voltas á roda da sala. Ajoelhou-se
perto do cadaver. Depois foi experimentar
a porta da cozinha, e em seguida...
John Rance levantou-se de um salto, e
desconfiado e espantado perguntou:
- —Onde estava o senhor, para poder ver
isso tudo ? Parece-me que o senhor sabe mais
do que é natural...
PIolmes riu e atirou seu cartão sobre a
mesa.
( Continua na pag. 111).