Full text: 3.1924=Nr. 2 (1924000302)

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PELO MUNDO... 
ções, e quem remexe o leito de tanque esta 
gnado para tr.azer á superficie o que está no 
fundo, faz surgir dali redemoinho fervido de 
imagens. Tudo que tem relação com a idéa, e 
pode enriquecel-a e alimental-a, e formar 
corpo com ella, e destacar o seu relevo, e 
reforçar a sua côr, tudo desperta e obedece 
ao poderoso esconjuro. Mil recordações do 
thesouro de observação consciente e incon 
sciente que armazenou na existencia aventu 
rosa, mil notas de sua sciencia do mundo, 
acudiram ao pensamento de Cervantes, 
para reunir-se ao esboço que concebeu de 
seu heroe, para accrescentar-lhe um toque 
de verdade e de vida. Essas lembranças, es 
sas representações, são as partículas de pe 
dra que dos ambientes do mundo, concorrem 
FIGURAS DA TELA 
Patsy Ruth Sfiller, a deliciosa estrella, cujo ul 
timo éxito foi “O corcunda de Nossa 
Senhora”’ 
para reconstruir o semblante da estatua, para o 
contemplador deante delia em muda expe 
ctativa. Talvez se esforce em luta a alma 
do artista nesse momento da concepção; tal 
vez se afflija na impaciencia de evocar to 
dos os elementos que o interessam e fazem 
falta, assim como ardia em ancia e penas de 
amor a contemplação do eremita. Não lhe 
basta rebuscar no accumulo de recordações, 
mas, ao passo que o preoccupa o precioso 
germen que traz nas entranhas, tem os 
olhos attentos para a realidade, afim de lhe 
dar novos traços de expressão, e embeber 
se nos vivos reflexos de sua formosura, ao 
modo como a mãe antiga em expectativa de 
maternidade, se cercava de fôrmas perfeitas. 
Não lhe basta também recordar e observar, 
mas precisa meditar sobre o recordado e ob 
servado, de sorte que a inconnexa pluralida 
de das imagens se traduza em synthese har 
moniosa. Porém, a meditação, que dirige e 
coordena a ordem que a meditação produz 
% 
na obra de fantasia, também não basta. 
Nunca passaria essa ordem de ordem lógica, 
de disposição artificiosamente calculada, se 
engrandecendo o acerto com que o compõe 
o raciocinio, não perseverasse a inconscien 
te força do amor, que como calido sopro 
plasmante, circula por entre as relações e 
juntas que a mente estabelece. E nunca che 
garia “viver” o personagem imaginario, 
nunca a sua imagem se moveria com vida 
pessoal e enérgica comparável á dos cara 
cteres mais individuaes que vemos na reali 
dade, se o amor do artista chegando ao seu 
mais alto ponto, ao extase em que culmina, 
inspirado e triumphante, congregando num 
rapto os elementos que poz de accordo, 
compenetrando-os e traspassando-os, comp 
que por um golpe intuitivo na ¡Iluminação 
divinal, não suscitasse finalmente a visão 
única, simultanea, completa, da creatura de 
sonho: a allucinação que a põe em pleno 
sol da consciencia do artista, e depois da 
qual, não é preciso senão a vontade que 
execute e a mão que obedeça. Quando a 
chama de amor, transbordando dos olhos 
que almejam a suspirada fôrma, colheu na 
nuvem fluctuante onde a procurou, a ima 
gem é de definitiva fôrma, com vida immor- 
tal. A virtude plástica da concepção, depen 
de da efficacia deste utimo acto instantâneo 
e insubstituível, no qual os que o' precede 
ram, acham a sua recompensa e fructo. 
E’ tudo prezidido por uma mesma força 
na actividade creadora da imaginação: o 
primeiro desejo que excita á realização da 
belleza; a evocação enérgica e tenaz que 
congrega os elementos com que a compoz; 
a inspiração que vivifica e também a obsti 
nação e perseverança da vontade. Tudo é pre 
zidido por uma só força: a mesma que, cha 
mando af finidade, produz ás' fôrmas har 
moniosas dos crystaes, as estrellas e' hexá 
gonos nos quaes se coalha a neve; e cha 
mando-se attracção, rege o sublime accordo 
dos mundos; e chamando-se amor dos sen 
tidos, reproduz a proporção e belleza dos 
seres vivos; e chamando-se amor desinte 
ressado e ideal, floresce na divina formosu 
ra das cousas de arte. 
Hpparelhn interessante 
Um homem de sciencia americano, o 
dr. W. W. Cobentz, af firma que se se pu 
desse concentrar sobre um dedal cheio de 
agua todo o calor que nos chega das 
estrellas, ellas gastariam dois séculos em 
levar o liquido ao ponto de ebulição. 
Esse mesmo doutor aperfeiçoou um ap- 
parelho para medir o calor, podendo com 
elle determinar que o calor irradiado por 
uma estrella é tão insignificante, tão infi 
nitesimal que levará um milhão de annos 
o raio de uma estrella a esquentar um 
volume de agua equivalente ao de um 
tostão de nickel dos pequenos. 
O apparelho em questão mede o calor 
de uma vela a dois kilometros de dis 
tancia.
	        
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