PELO MUNDO...
se approximasse de uma estação. Elle, alar
mado, começou a preparar-se.
— Socega, disse-lhe eu, ainda falta outra
estação para chegares onde vaes. Pago te o
bilhete.
— Que, senhor 1 replicou elle com simpli
cidade maliciosa. O empregado dando o bi
lhete repararia em mim. Muitas vezes me
perseguiram sem conseguir ver-me de perto,
e eu não quero ficar conhecido. Feliz via
gem, senhor! O senhor é a jnelhor alma que
tenho encontrado nos trens.
Retirou-se pelos estribos, agarrado ao cor
rimão e sumiu na escuridão, procurando sem
duvida putro sitio onde continuar com so-
cego a sua viagem.
Paramos em uma estação pequena e silen
ciosa. Ia já estender-me para dormir quando
no caes resoaram vozes imperiosas.
Eram os empregados, os agentes da esta
ção e Um par de guardas civis que corriam
em differentes direcções procurando alguém.
— Por aqui... Corta-lhe o passo !... Dois
por outro lado para que não escape... Agora,
tomou o trem... Segurem-no!...
E, effectivamente, em breve os tectos dos
wagons tremiam ao galope louco dos que
o perseguiam naquellas alturas.
Era, sem duvida, o amigo, quem se havia
descoberto, e vendo-se cercado, refugiava-se
no ponto mais alto do trem.
Estava eu na janellinha do lado opposto
do caes, e vi um homem pular do tecto
do wagón immediato, com a assombrosa li
geireza que dá o perigo. Caiu de bruços
num campo, andou de gatinhas uns instantes
como se a violencia da pancada não lhe
permittisse endireitar-se, e afinal fugiu cor
rendo, sumindo na escuridão a mancha bran
ca de suas calças.
O chefe do trem gesticulava deante dos
perseguidores, alguns dos quaes riam ás
gargalhadas.
— Que houve ? perguntei ao empregado.
— Um vagabundo que tem o costume de
viajar sem bilhete, respondeu elle com em-
♦O -Q-
phase. Já o conhecemos desde tempos: ê um
parasita do trem, porém será extraordinario
se muito breve não o apanharmos para man-
dal-o para a prisão.
Nunca mais vi • o pobre parasita. No in
verno muitas vezes me recordei do desgra
çado, e via-o nos arredores de uma estação,
talvez fustigado pela chuva ou pela neve,
esperando o trem que passa como um fu
racão para tomal-o de assalto com a sere
nidade do bravo que assalta uma trincheira.
Agora, acabo de lêr que na linha da es
trada de ferro, perto de Albacete, achou-se
o cadáver de um homem 'despedaçado pelo
trem... E’ elle, o pobre parasita. Não preciso
de mais dados para crel-o, diz-me o coração.
«Quem ama o perigo nelle perecerá».. Tai-
vez lhe faltasse inesperadamente a agilidade;
talvez algum viajante assustado por seu re
pentino apparecimento fosse menos compas
sivo que eu e o lançasse em baixo das rodas.
Sabe-se lá o que pode acontecer na escuri
dão da noite.
Depois que o conheci, concluiu o amigo
Peres, passaram-se quatro annos. Nesse pe
riodo corri o mundo, dentro e fóra de Hes-
panha e vendo como quanta gente viaja por
capricho e para combater o tedio, mais de
urna vez pensei no pobre trabalhador que,
separado de sua familia pela miseria, quando
queria ver os filhos, tinha que arriecar-se a
ser perseguido e acuado como uma fera, e
affrontar a tnorte com a calma de um bravo.
m ■—«c ■ a»'
Vinhos de Champagne no Japão
Segundo informa um jotnal chinez, bebe-se
actualmente no Japão e na China mais 33 q.
do que outrora, e os Estados Unidos é que
são a causa primeira desse phenomeno, devido
á celebre lei secca.
No Japão os vinhos de Champagne e de
Bordeaux são immensamente apreciados.
Quanto ao champagne, os nlppões tambem
o fabricam com um arroz especial que man
dam vir de Indo China.
-— O - O»
(!:
O MARIDO — Não comprehendo para que serve — Previno-o desde já que nesse quarto ha um es-
tanta roupa, andando tu quasi nua. pirito, mas se lhe der dez tostões elle o deixará dor
mir socegado.
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