Full text: 3.1924=Nr. 7 (1924000307)

PELO MUNDO... 
se approximasse de uma estação. Elle, alar 
mado, começou a preparar-se. 
— Socega, disse-lhe eu, ainda falta outra 
estação para chegares onde vaes. Pago te o 
bilhete. 
— Que, senhor 1 replicou elle com simpli 
cidade maliciosa. O empregado dando o bi 
lhete repararia em mim. Muitas vezes me 
perseguiram sem conseguir ver-me de perto, 
e eu não quero ficar conhecido. Feliz via 
gem, senhor! O senhor é a jnelhor alma que 
tenho encontrado nos trens. 
Retirou-se pelos estribos, agarrado ao cor 
rimão e sumiu na escuridão, procurando sem 
duvida putro sitio onde continuar com so- 
cego a sua viagem. 
Paramos em uma estação pequena e silen 
ciosa. Ia já estender-me para dormir quando 
no caes resoaram vozes imperiosas. 
Eram os empregados, os agentes da esta 
ção e Um par de guardas civis que corriam 
em differentes direcções procurando alguém. 
— Por aqui... Corta-lhe o passo !... Dois 
por outro lado para que não escape... Agora, 
tomou o trem... Segurem-no!... 
E, effectivamente, em breve os tectos dos 
wagons tremiam ao galope louco dos que 
o perseguiam naquellas alturas. 
Era, sem duvida, o amigo, quem se havia 
descoberto, e vendo-se cercado, refugiava-se 
no ponto mais alto do trem. 
Estava eu na janellinha do lado opposto 
do caes, e vi um homem pular do tecto 
do wagón immediato, com a assombrosa li 
geireza que dá o perigo. Caiu de bruços 
num campo, andou de gatinhas uns instantes 
como se a violencia da pancada não lhe 
permittisse endireitar-se, e afinal fugiu cor 
rendo, sumindo na escuridão a mancha bran 
ca de suas calças. 
O chefe do trem gesticulava deante dos 
perseguidores, alguns dos quaes riam ás 
gargalhadas. 
— Que houve ? perguntei ao empregado. 
— Um vagabundo que tem o costume de 
viajar sem bilhete, respondeu elle com em- 
♦O -Q- 
phase. Já o conhecemos desde tempos: ê um 
parasita do trem, porém será extraordinario 
se muito breve não o apanharmos para man- 
dal-o para a prisão. 
Nunca mais vi • o pobre parasita. No in 
verno muitas vezes me recordei do desgra 
çado, e via-o nos arredores de uma estação, 
talvez fustigado pela chuva ou pela neve, 
esperando o trem que passa como um fu 
racão para tomal-o de assalto com a sere 
nidade do bravo que assalta uma trincheira. 
Agora, acabo de lêr que na linha da es 
trada de ferro, perto de Albacete, achou-se 
o cadáver de um homem 'despedaçado pelo 
trem... E’ elle, o pobre parasita. Não preciso 
de mais dados para crel-o, diz-me o coração. 
«Quem ama o perigo nelle perecerá».. Tai- 
vez lhe faltasse inesperadamente a agilidade; 
talvez algum viajante assustado por seu re 
pentino apparecimento fosse menos compas 
sivo que eu e o lançasse em baixo das rodas. 
Sabe-se lá o que pode acontecer na escuri 
dão da noite. 
Depois que o conheci, concluiu o amigo 
Peres, passaram-se quatro annos. Nesse pe 
riodo corri o mundo, dentro e fóra de Hes- 
panha e vendo como quanta gente viaja por 
capricho e para combater o tedio, mais de 
urna vez pensei no pobre trabalhador que, 
separado de sua familia pela miseria, quando 
queria ver os filhos, tinha que arriecar-se a 
ser perseguido e acuado como uma fera, e 
affrontar a tnorte com a calma de um bravo. 
m ■—«c ■ a»' 
Vinhos de Champagne no Japão 
Segundo informa um jotnal chinez, bebe-se 
actualmente no Japão e na China mais 33 q. 
do que outrora, e os Estados Unidos é que 
são a causa primeira desse phenomeno, devido 
á celebre lei secca. 
No Japão os vinhos de Champagne e de 
Bordeaux são immensamente apreciados. 
Quanto ao champagne, os nlppões tambem 
o fabricam com um arroz especial que man 
dam vir de Indo China. 
-— O - O» 
(!: 
O MARIDO — Não comprehendo para que serve — Previno-o desde já que nesse quarto ha um es- 
tanta roupa, andando tu quasi nua. pirito, mas se lhe der dez tostões elle o deixará dor 
mir socegado. 
- G8 —
	        
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