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PELO MUNDO...
— Obrigada, Blake. Fizeste muito bem de
me informar sobre isto.
Depois ella subiu ao seu quarto onde Be-
eston, a sua camareira, estava á sua espera.
Minutos depois das quatro apresentou-se a
senhorita Mitcheson, e conduzi-a á sala onde
a senhora a esperava. Então, com a curiosi
dade, que espero o leitor me perdoará, pois
havia recebido certas ordens do Sr. Adams,
approximei-me da porta que, de proposito,
havia deixado entreaberta, e applicando o ou
vido, escutei. A voz da senhora resoava bas
tante claramente.
— Não, a menos que a senhorita e seus
amigos me tragam a quantia que eu indi
carei, amanhã antes de anoitecer. Estou can-
çada dessas questões. Não se portaram de
vidamente. Elle fez o trato e seguramente
tenciona cumpril-o.
— Porém, eu supplico-lhe, imploro-lhe,
senhora Hagelthorn que tenha compaixão de
Dick I exclamava a moça acabrunhada. Eu...
eu... e pareceu desatar em soluços.
— E’ uma tolice chorar, disse a minha
commovem. Não se comportam como devem,
patroa duramente. As suas lagrimas não me
— Nem também a senhora, replicou a moça
promptamente, contendo as lagrimas.
— Isto é commigo, resmungou a (minha pa
troa.
— A senhora fez cair Dick numa embos
cada, affirmou a moça. Elle não o sus
peita, mas eu, sim, suspeito, mais _ do que
a senhora pensa. Dick jamais imaginou que
o Sr. Brambley havia travado amizade com
elle para um fim... para apresental-o a si!
— Como ? que quer dizer ? exclamou a se
nhora em voz alta, indignada. Não per-
mitto que me insulte deste modo. Disse-lhe
que se me trouxer o dinheiro... ou a outra
garantia... amanhã á tarde, não tomarei me
didas.
— Porém, Dick não tem o dinheiro ! ex
clamou a moça desesperada. Não o pode
rá obter I
— Já lhe disse o que quero, respondeu a
senhora com voz firme e decidida.
— Mas pense... pense no que resultará pa
ra nós I gritou a moça desvairada.
— E' inútil continuarmos a discutir o as
sumpto. Talvez o melhor será procurar o
meu sobrinho na sua casa da rua Half Moon
logo á noite. Diga-lhe que esteja lá ás oito
horas.
Ouvi os seus passos na sala para tocar
o tympano.
Esperei uns instantes para attender ao seu
chamado e depois acompanhei a moça até
fóra de casa. Em caminho trocámos alguna
significativos olhares. A rêde estava bem
estendida.
A conversa não me saiu do espirito toda
a tarde. Brambley chegou meia hora de
pois e durante muito tempo ficou com a tia
na bibliotheca.
A senhora avisou-me que só receberia o
Sr. Lmdbeck que chegou ás seis horas e
meia para falar com ella e com o sobrinho.
A’ saida, meia hora depois, elle disse á mi
nha patroa:
— Voltarei amanhã e talvez a senhora te
nha mais alguma coisa para contar-me.
— Espero que sim, disse ella rindo.
— Blake, esta noite, janto fóra e não vol
tarei senão depois do theatro. Se alguém
perguntar por mim... digas que de novo se
gui para Brightan e que não sabes quando
regressarei.
Está claro que é preciso seres discreto. Fi
zeste muito bem avisar-me sobre a moça in
solente.
O facto da senhora jantar fóra essa tarde
me fez tomar o partido de ir observar a
casa de Brambley para assistir á chegada
do amigo da senhorita Mitcheson.
Cheguei á esquina de Piccadilly com Half
Moon ás oito horas menos um quarto. A’s
oito horas menos cinco vi chegar Brambley,
e dez minutos depois um cavalheiro de trinta
annos, mais ou menos, que dobrou a es
quina de Piccadilly e cruzou. commigo mur
murando umas palavras de saudação, parando
deante da casa onde morava Brambley e
tocando a campainha. Era o Sr. Sheil Adams.
Elle era o «Dick» a quem a senhorita
Mitcheson se havia referido na desesperada
supplica.
O que aconteceu na casa de Brambley na°
sei. Esperei pacientemente que saisse o visi
tante, coisa que só succedeu meia hora de
pois e notei nos seus olhos uma expressão de
firme resolução.
Dobrou em Piccadilly Circus e eu o se
gui. Entrou num grande café á extremidade
de Piccadilly onde a sua noiva o esperava
com impaciencia. Trocaram algumas palavras
e a senhorita Mitcheson saiu seguida P or
seu companheiro.
O par caminhou pela rua Com'pton e en
trou num restaurante onde me reuni a eH eS
e estivemos conversando algum tempo. App a ‘
rentemente tudo ia bem.
Quando a senhora voltou para casa, e
já lá estava para abrir a porta.
— O meu sobrinho não telephonou ? foi
sua primeira pergunta á qual respeitosaineiu
respondi que não.
— Ninguém perguntou por mim ?
— Ninguém, minha senhora. ¿
Pareceu socegar, e entregando a capa
sua camareira, subiu para o quarto.
Justamente ao cair da tarde, no dia s
guinte, resoou a campainha da porta, e
novo me achei deante da senhorita Mitd 1
son. . n
—- A senhora Hagelthorn foi para Brighto »
disse eu, cumprindo a ordem da patrôa.
Ella sorriu maliciosamente. , 0
— Obrigada, respondeu a moça. Quan
ella regressar á casa, diga-lhe que não vo
tarei mais a visital-a. ,
Virou-se bruscamente e desceu a escao
ria.
No mesmo instante fui informar a senho^j
Estava ella escrevendo uma carta. As
brancelhas franziram-se-lhe e notei que
faces impallideciam.
— Está bem, Blake, disse ella em respo 5
está bem.
Mas eu vi que não estava bem...
Meia hora depois, abri a porta para , ,
entrada a Brambley acompanhado de Li
beck e os tres tiveram uma prolongada c £
versa na sala. Logo se tornou calorosa
ouvi perfeitamente Lindbeck chamar de es
pida a minha patrôa.