Full text: 3.1924=Nr. 9 (1924000309)

46 - 
PELO MUNDO... 
-Q-UU-Q- 
•ea-raüro- 
Historia 
de urna 
Uaranda 
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01h:;r um balcão e olhar para um balcão 
não é a mesma coisa. No primeiro caso 
triumpha o continente, e no segundo adju- 
dica-se a victoria ao conteúdo. O quadro e 
a moldura, o copo e o licor, a melodia b 
seus versos, tudo emfim que fórma parelha, 
vive em apparente alliança mas em perpetua 
luta. 
Do «café» do predio em frente, Jorge 
olhava para a varanda sem Ver a varaínda, 
sorvendo o liquido da maneira que os gallos 
bebem agua. Duas manhãs antes encontrara- 
se, no atrio da egreja com o «conteúdo», mais 
formoso desse «continente» que ali estava de- 
ante delle. 
Andaluz dos melhores, Jorge ceceava sem 
mentir, traço esse que o distinguia de mui 
tos andaluzes e, sobre tudo, dos typos que 
mentem sem cece; r. Não considero a men 
tira, por mãe da fortuna, mas não é a sua 
mais torpe característica. Andaluz que não 
mente, pouco dinheiro tem. 
Jorge, portanto, resultava moffensivo. 
Lá, em Sevilha, havia vivido um tanto ama 
lucadamente, preferindo os divertir/entos aos 
estudos. As guitarradas e as modinhas, os 
namoricos e as libações são reclamos infal- 
liveís para os passarinhos loucos que a ju 
ventude abriga no coração. Também ha, ahi, 
■varandas e flores. E por essas e outras Jorge 
teve que emigrar aos vinte e dois annos. 
Decidiu, então, descobrir e explorar os fi 
lões potosinos, empresa essa arriscada a que 
podeos andaluzes se aventuram, preferindo as 
conquistas de outros paizes americanos. Jorge 
herdara a poderosa accommettividade da es 
tirpe. Houvera sido um bom companheiro de 
Cortez e Magalhães, mas ao seu modo, já 
se vê. 
Antes de embarcar na caravella, ou ber 
gantim, a que o destinassem, teria comprado 
por uns miseráveis maravedís mil bagatelas 
de latão e vidro, destinadas ao engano dos 
aborigens, mas, chegado o momento de ° ¿ 
trocar, os camaradas de Jorge se teriam, na 
delle, vendó-o negociar as suas coisas só p®| 
beijos e abraços. Tudo isto, como se es j 
vendo, depõe muito contra as suas faculdad 
adquisitivas. 
A menina da varanda, além de moça, er 
rica e fazia honra ao bello sexo bolíviafl ■ 
Rica, em sentido monetario, era a única b 
qualidade da sua amada que Jorge ignorav \ 
Talvez fingisse ignoral-a ou se engfinasse 
si proprio creando-se a illusão de qu e 
joven beldade se achava ao alcance das s 
pretençôes. Em principio', o que elle not 
contente é que tinha agradado á moça. 
Falemos agora da varanda, movei P 11 ®^. j 
que mereceria capitulo á parte. E’ uma ■ 
randa -- o tempo não soube respeital-o 
que merece o qualificativo de movei. De r . 
e formosíssima madeira, artisticamente 
em talha, em columnas e rendilhados, a 
bstituir com vantagem o ferro. A jnarcena. f 
usurpando as funeções do ferreiro, a cons 
um conjuncto digno do crcão mais luXj 1 ’ 
e da commoda mais custosa. Os potosí ^ 
mineiros afortunados, empregavam desse m° 
os troncos das arvores do paiz. Podiam 
forjado as grades das suas varandas, L g 
nellas e cancellas com prata fina, tão ê raJ ^ 0 
foi a abundancia do pallido metal l una 0 
nos socavões do famoso serro. Somente*^, 
temor pelos homens que haveriam de 
depois, lhes tirou tal idéa da cabeça- s 
suas varandas, por isso, chegaram até n ° ¿ 0 s 
dias a salvo dos Montes de SoccorrO e ote . 
agiotas. Essa varanda estende a sua P ^ 
ctora envergadura, que é como quem dl . a. 
seus embutidos, por cima de uma arn P 
ma porta com escudo e brasão, e de _ 
janellas simples. Entre as pittorescas va u e 
das potosinas brilha a sua graça 3 ^ u . 
serve de assignatura o sobredito escudo. 0 
cas cidades poderão disputar ao Poto
	        
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