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PELO MUNDO...
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•ea-raüro-
Historia
de urna
Uaranda
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01h:;r um balcão e olhar para um balcão
não é a mesma coisa. No primeiro caso
triumpha o continente, e no segundo adju-
dica-se a victoria ao conteúdo. O quadro e
a moldura, o copo e o licor, a melodia b
seus versos, tudo emfim que fórma parelha,
vive em apparente alliança mas em perpetua
luta.
Do «café» do predio em frente, Jorge
olhava para a varanda sem Ver a varaínda,
sorvendo o liquido da maneira que os gallos
bebem agua. Duas manhãs antes encontrara-
se, no atrio da egreja com o «conteúdo», mais
formoso desse «continente» que ali estava de-
ante delle.
Andaluz dos melhores, Jorge ceceava sem
mentir, traço esse que o distinguia de mui
tos andaluzes e, sobre tudo, dos typos que
mentem sem cece; r. Não considero a men
tira, por mãe da fortuna, mas não é a sua
mais torpe característica. Andaluz que não
mente, pouco dinheiro tem.
Jorge, portanto, resultava moffensivo.
Lá, em Sevilha, havia vivido um tanto ama
lucadamente, preferindo os divertir/entos aos
estudos. As guitarradas e as modinhas, os
namoricos e as libações são reclamos infal-
liveís para os passarinhos loucos que a ju
ventude abriga no coração. Também ha, ahi,
■varandas e flores. E por essas e outras Jorge
teve que emigrar aos vinte e dois annos.
Decidiu, então, descobrir e explorar os fi
lões potosinos, empresa essa arriscada a que
podeos andaluzes se aventuram, preferindo as
conquistas de outros paizes americanos. Jorge
herdara a poderosa accommettividade da es
tirpe. Houvera sido um bom companheiro de
Cortez e Magalhães, mas ao seu modo, já
se vê.
Antes de embarcar na caravella, ou ber
gantim, a que o destinassem, teria comprado
por uns miseráveis maravedís mil bagatelas
de latão e vidro, destinadas ao engano dos
aborigens, mas, chegado o momento de ° ¿
trocar, os camaradas de Jorge se teriam, na
delle, vendó-o negociar as suas coisas só p®|
beijos e abraços. Tudo isto, como se es j
vendo, depõe muito contra as suas faculdad
adquisitivas.
A menina da varanda, além de moça, er
rica e fazia honra ao bello sexo bolíviafl ■
Rica, em sentido monetario, era a única b
qualidade da sua amada que Jorge ignorav \
Talvez fingisse ignoral-a ou se engfinasse
si proprio creando-se a illusão de qu e
joven beldade se achava ao alcance das s
pretençôes. Em principio', o que elle not
contente é que tinha agradado á moça.
Falemos agora da varanda, movei P 11 ®^. j
que mereceria capitulo á parte. E’ uma ■
randa -- o tempo não soube respeital-o
que merece o qualificativo de movei. De r .
e formosíssima madeira, artisticamente
em talha, em columnas e rendilhados, a
bstituir com vantagem o ferro. A jnarcena. f
usurpando as funeções do ferreiro, a cons
um conjuncto digno do crcão mais luXj 1 ’
e da commoda mais custosa. Os potosí ^
mineiros afortunados, empregavam desse m°
os troncos das arvores do paiz. Podiam
forjado as grades das suas varandas, L g
nellas e cancellas com prata fina, tão ê raJ ^ 0
foi a abundancia do pallido metal l una 0
nos socavões do famoso serro. Somente*^,
temor pelos homens que haveriam de
depois, lhes tirou tal idéa da cabeça- s
suas varandas, por isso, chegaram até n ° ¿ 0 s
dias a salvo dos Montes de SoccorrO e ote .
agiotas. Essa varanda estende a sua P ^
ctora envergadura, que é como quem dl . a.
seus embutidos, por cima de uma arn P
ma porta com escudo e brasão, e de _
janellas simples. Entre as pittorescas va u e
das potosinas brilha a sua graça 3 ^ u .
serve de assignatura o sobredito escudo. 0
cas cidades poderão disputar ao Poto