Full text: 3.1924=Nr. 10 (1924000310)

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PELO MUNDO... 
a rrunha tolice. A caixeira da loja estava 
ali á espera e eu, recostando-me na cadeira, 
comecei a sentir-me cada vez mais envergo 
nhada. Ao mesmo tempo, experimentava uma 
especie de desillusão, pois devo dizer que 
o roubo da companhia, parecendo-me um rasgo 
de heroismo, despertava em mim urna secreta 
sympathia. Só mais tarde vim a saber quem 
era o autor do desfalque, um tal Mr. Quest, 
lanzudo e embirrante. Era desses santarrões 
que arrotam virtude, sempre de livros de 
reza debaixo do braço. 
De todas as contradictorias emoções, que 
agitavam o coração de Carol, havia uma, 
porém, que a assustava: — já não poder 
restituir as pérolas. Conhecia Hirsh suffi- 
cientemente para saber que o homem não 
as largaria pelo mesmo preço. Que expli 
cação daria áquelle Mr. Rayner de olhos 
tão bellos ? Seria preciso ter de dizer-lhe 
que o chegara a considerar gatuno ? 
Tão aborrecida se sentia comsigo mesma 
que começou a falar asperamente ao com 
panheiro de mesa. Não sei como foi isto; 
commetti um erro ridiculo, disse ella, mas 
não faz mal. Ha uma coisa, entretanto, que 
quero perguntar-lhe. Foi o senhor... isto é, 
trata-se duma caixa que me trouxe um men 
sageiro, ha quinze dias. O senhor não sabe, 
por acaso, quem a mandou ? 
Ao menos, nesse ponto não se enganara. 
A confusão delle e o olhar supplicante que 
lhe lançou bastaram para confirmar as suas 
supposições. 
— Eu explico, começou ellie. 
—• Acho bom, replicou ella acremente, ten 
tando esquecer que estava sentada em cima 
do magnifico presente do poeta. 
— Sempre detestei o escriptorio, continuou 
William, approximando-se mais. Não tinha lá 
nenhum amigo e além disso sempre fui soli 
tario e retraido. Não havia ninguém com 
quem pudesse falar sobre litteratura, assumpto 
que me interessa, pois já publiquei nas re 
vistas, sob pseudonymo, alguns poemas e 
contos. O engraçado é que quando recebi 
o dinheiro, ha dois mezes... 
— Que dinheiro ? exclamou Carol. 
— Meu avô deixou-me 100.000 libras. Nunca 
esperei tal coisa, pois, em toda a minha 
vida, só o vi duas vezes. Esse dinheiro deu- 
me a liberdade e a esperança de realizar 
todos os meus sonhos e, por isso, preparava- 
me já para abandonar a F. T. C., e sem 
dizer a ninguém o que se passara, quando 
a vi, pela primeira vez. Ha tres anuos que 
trabalhavamos juntos sem nos conhecermos 
e se não fosse o acaso de entrar naquella 
casa de chá... 
— E’ verdade, confirmou Carol escondendo 
a custo a sua crescente emoção. 
— Sel que fui inconveniente, continuou Wil 
liam, principalmente quando a segui até á 
outra loja de chá, mas não pude resistir. 
Tão importuno me tornei, que a senhorita 
se aborreceu e só então comprehendi o meu 
ridiculo papel. Resolvi, por isso, trabalhar 
e fazer alguma coisa que me elevasse, tor 
nando-me digno da senhorita. Pensei em es 
crever um livro e mandar-lh’o depois, com 
dedicatoria, dizendo tudo o que sentia, mas 
não tive paciencia para esperar tanto e tnan- 
dei então as pérolas, como expressão dos 
meus sentimentos, e crente de que não me 
julgaria mais um simples basbaque incap 
de fazer alguma coisa. O livro comecei mg 
a escrevel-o, mas esta manhã tive a u 
pressão He não poder passar mais um “ 
sem a ver e por isso vim. Fiz mal ? 
— Fez, —• respondeu Carol promptameaj-- 
No entanto, cada vez se convencia m 
de que o poeta precisava de alguém <l ue ,. 
amparasse; só ella se julgava com esse 
reito. Era necessário, porém, dizer-lhe a ve 
dade. 
— Não faça caso, — disse Carol, brus ^ 
mente, mas tenho uma historia para lhe co^_ 
tar. Àlguem falsificou os livros da F. d. ’ 
e eu pensei que fosse o senhor para comp 
as pérolas. disse 
— Não tut eu, mas era muito capaz, u 
elle. 
— Oh ! — exclamou Carol. 
William sorriu e encarou com ella. ^ 
— Por causa dessas pérolas que lhe man 
matava até o presidente da companhia. ^ 
— Pois eu fiz coisa peor, disse Carol. ve ^ 
hoje as pérolas, pensando que o senhor P ^ 
cisasse de fugir. Estou sentada em cima 
dinheiro. . 0 
— Oh! Que bella acção 1 — suspi r0 
poeta em extase... . gra 
Carol já estava muito atrazada na 
de voltar ao escriptorio, mas nem se 
brava de tal coisa. toU 
Dahi 'a vinte minutos, William P^^.-rjcil» 
como vendera o collar. «Olhe que é dit 
— explicou. -ntori 0 
— No outro dia levei-o para o escnp 
e um cliente da F. T. C. offereceu 
libras por elle, a qualquer hora que eu 4 
zesse e sem fazer perguntas mdiscre 
William Rayner teve um movimento ue . 
presa. «Que coragem!» — comnientou 
casticamente. _ j 0 go 
Foi Mr. Hirsh, principiou Carol, ¡a- 
interrompida por uma gargalhada do seu 
panheiro. foi 
— Que bicho! — exclamou o P°® ta " p 0 r 
elle mesmo que me vendeu o eolia 
1.500 libras! p geta 
Uma hora depois, Carol e o se u -^taí 
saiam da casa de chá dispostos a. ° n . n o 
iuntos as miserias do mundo e deixa 
juntos as miserias do mundo e - 
logar onde a moça se sentara uma bo1® rr a. 
tendo 500 libras do Banco da Ing 
/. D. Beresjor^ 
O serviço florestal dos Estados Unido or g a n¡ zaf 
cargo de "engenheiro de diversões’’ P ara ue s%° 
diversões publicas nos parques nacionaes, ^ e ¡ 0 ae 
visitados annualmente por cinco milhões 
turistas. 
o . j e ¿oC eS 
Devido, ao que parece, á carencia as 
na Inglaterra depois da ultima 
creanças possuem, agora, nesse P al 
dentadura. 
0 m cerca de 
Do imperio do Japão fazem parte 
quatro mil pequenas ilhas. 
o ^ na de 
Em cada atino morrem na Europ 
berculose, cem mil individuos em ^ 
Entre os operarios que trabalham d a qU a 
nas não se declarou nunca o cote 
varíola, escarlatina nem grippe-
	        
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