Full text: 3.1924=Nr. 11 (1924000311)

PELO MUNDO... 
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Em urna das provincias mais formosas da 
Andaluzia, e na encosta de uma collina que 
ouve o sussurrar do Guadalquivir, encontra-se, 
branca como a neve, uma pequena povoação 
de quatrocentas, almas, rodeada de hortas pin 
torescas.. Dominando as suas ruas estreitas, 
tortuosas e limpas, destaça-se no céo, como se 
pretendesse fural-o com a sua ponta aguda 
uma esbelta torre de campanario, mais br inca 
0 mais risonha, se possivel, do que toda a 
povoação. Por baixo do campanario via-se 
um terraço ou adro de uns quatro metros 
quadrádos que forma parte de um telheiro 
em que termina urna casa modesta, contigua 
á egreja, cujas janellas são guarnecidas com 
jardineiras repletas de geraniuns, de dahlias 
e de magnolias. Aquella casa respira paz e 
sympathia por todas as suas frestas, e ao 
passar deante della os habitantes da aldeia 
parecia que a saudavam com esse carinho 
misturado de respeito que inspira urna coisa 
sacrosanta e conhecida, com essa alegría sim 
ples que produz em todo o coração nóbre 
a presença de alguma coisa sã, leal e ho 
nesta. 
Mas quando a sympathia era maior aínda, 
transformando-se até em admiração, era quan 
do o morador della sala de casa; era elle 
Um homem forte, de physionomia 'bonachona, 
que contrastava com o olhar firme e pene 
trante dos seus grandes olhos garços; o rost ’ 
curtido pelo sol, e as mãos ásperas e c ° 
bertas de pellos-, mostravam bem claramcn 
que a sua vida não se tinha passado na 
ciedade, e os seus modos bruscos, apezar 
affectuosos, vinham corroborar a opinião Q 
pelo seu physico se tinha feito. A sua roup 
era sempre a mesma ; batina muito. sln ^ 
pies, grande chapéu de feltro, grossos s 
.patos com grandes fivelas de aço brilha 11 
Tal era D. Salvador, o cura da aldeia- 
No moral, tiriha uma intelligencia clara, 1 
golpe de vista admiravel para conhecer ^ 
que tihha deante de si, e um coração no 
e generoso, sempre prompto para soCC ° t ! jC lo 
com prazer todas as desgraças, a evitar ã 1 
transe desgostos no futuro dos seus 
chianos. A sua illustração reduzia-se a 
mortal obra que basta para illustrar utn 
mem: D. Qiuchote. ¡ e j a 
Quando D. Salvador accendia a sua can ^ 
ñas nones de invernó, e saboreando a g 
o resto da suja e pegajosa ponta do cl ®Í] a r 
da sobremesa, agarrava o encebado ex ^rl 0 a. 
da sua edição de Pans, annotada por c ¿ 0 t 
que não trocarla nem pelo proprio imp er ‘j oS . 
da China; lia com avidez as passagens c e 
saes do grande livro, tantas vezes relida > qU 
sempre encontrava algum encanto novo ^ 
algum pensamento bello, escondido P ara
	        
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