Full text: 3.1925=Nr. 12 (1925000312)

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PELO MUNDO... 
numa caixa de vidro, como nas vitrinas, ás 
vezes, as mãos de cêra mostram anneis ou 
braceletes. 
São as mãos de meu pae... 
Súbito ouviram ruido por detrás delles e 
voltaram-se para ver. Na sombra, sobre um 
sofá, uma fórma se mexia e se dirigia para 
elles, rápido, a pronunciar palavras que o 
rapaz não entendia. Um homem avançou, ves 
tido como os tziganos que Rouletabille tinha 
visitado na vespera em companhia de Ivana, 
numa aldeia próxima ao lado do cemiterio. 
— E’ o nosso pastor Vello, devotado como 
um cão. Não sei por que meu tio o poz 
aqui com ordem de não deixar entrar nin 
guém. Está dizendo que nos vamos embora, 
e vae prevemr, disto, meu tio... 
Ivana dirigiu-se para um cofre enorme pin 
tado de imagens simples e todo guarnecido 
de cobre, collocado num tamborete byzantmo, 
— Foi aqui, respondeu ella mostrando um 
angulo do vasto aposento... minha irmã e 
eu tinhamo-nos refugiado detrás desse jau- 
teuil... 
— A senhorita não me disse nunca que 
tinha uma irmã! 
— Digo-lh’o agora. Morreu, em Constan 
tinopla... Lançaram-n’a no Bosphoro. 
— No Bosphoro ? 
— Sim, num sacco de couro, parece... O 
meu amigo comprehende... Não temos a cer 
teza... Contaram-nos isso. Pobre Irene!... Por 
que é que me está olhando assim ? Lem 
bra-se, o anno passado, da visita que eu re 
cebi, na Pitié, de Athanase Khetew... 
•— Oh ¡ Lembro-me perfeitamente da visita 
do Huno... 
— Foi essa... Ia dar-me parte da morte de 
minha irmã. Eu tomei, então, luto. 
— Mas... Ainda se lançam mulheres no Bos- 
OE£> OS MODERNOS FOGOS DE ARTIFICIO 
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v* 
Beltissimo effeito pyrotechnico obtido durante uma festa recentemente realizada em Versalhes. 
ao lado dos despojos manuaes do illustre 
morto... 
Abnu-o com uma pequena chave. 
— As recordações de minha mãe estão aqui 
dentro, disse ella. 
E tirou, sem emoção apparente, mas de 
pois de as haver beijado devotamente, algu 
mas reliquias... pannos de velha seda... um 
par de luvas... luvas compridas brancas, to 
das manchadas de atrozes nodoas amarellas... 
— Vieja, estas luvas! Pobre mamãe!... Po 
bre mamãe!... Veja!... E o vestido que ella ti 
nha, essa noite... Vestira-se magníficamente... 
Dèvia haver festa em casa, com certeza... Veja 
° vestido... em que estado... os bandidos... Pre 
ciso dizer-lhe que elles arrastaram mamãe pelo 
vestido até á janella... quando a matarám... 
Queriam lançar-lhe o cadiaver á populaça. Mi 
nha irmãzmha e eu, porém, gritámos, como 
80 póde imaginar. 
— C quê ? A senhorita estava lá ? 
phoro, mettidas em sáceos de couro ? 
— Oh! Foi ha oito annos, e nós só o sou 
bemos o anno passado... Comprehende... Não 
mandam cartas de participação. 
De certo, Ivana não brincava pronunciando 
essa extraordinaria e inesperada phrase. Es 
tava agora por detrás do fauteúil, aquelle 
mesmo que a tinha occultado, por instantes, 
aos olhos dos assassinos quando ella tinha 
seis annos. 
— Que scena, amiguinho, que scena! Tí 
nhamos vindo com a nossa velha aia russa 
para admirar a toilette de mamãe. A velha 
creada também foi assassinada. Foi num' mo 
mento... Ouça... Stamboulov, valente como as 
armas, não tomava precaução alguma. Em 
15 de julho de 1895, saiu, pelas oito horas, 
do Union Club, com Petkof e !meu pae subia 
na carruagem para ir para casa, quando os 
assassinos se lançaram sobre Stamboulov e 
sobre meu pae e os acabaram a punhal e â
	        
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