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PELO MUNDO...
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Gamillo, cujo centenario, tão brilhantemen
te commemorado em Portugal e Brasil, trans
correu ha pouco, é, sem contestação possível,
uma personalidade culminante na historia da
literatura portugueza do século passado. Sua
Obra, ■ tão variada e vasta, tão intensamente
sentida, drama pungente duma vida a quem
os máos fados perseguiram) expressão dum
genio atormentado até ao delirio da loucura,
é a prosa fulgurante, revoltada que, esplen
dendo em fulgores de pedrarias, explodindo
Catnillo aos 41 annos.
em torrentes de sarcasmos ou amargurando
em ironías mordentes que provocam lagrimas,
nos enche de um sentimento 'de respeitosa
admiração por esse batalhador heroico, que,
ao fim de tremenda luta, vencido pela des
crença, esgotado pelo desanimo da hora der
radeira, desesperado pelos mysteriosos desig
nios dum trágico destino, teve ainda forças
para encerrar com urna bala libertadora toda
a miseria e soffrimento duma existencia agi
tadíssima. Toda a sua vida foi um constante
sobresalto; inquietação, desasocego, luta de
todas as horas contra inimigos poderosos:: _ a
adversidade, o jogo, a invega, a calumnia.
Desancando impiedosamente as varias egre
sólas belletristas que na raiva da sua impoten
cia o offendlam, mettido lem duellos e brigas
com maridos infelizes, arrastado na voragem
das paixões amorosas, o mago de S. Miguel
de Sefde trabalhou, no entanto, febrilmente,
até ao momento final do seu dramático suici
dio 1 , dispersando em cercã de duzentos volu
mes, que abrangem varios géneros de ficção
literaria, toda a vehemencia de idéas e sen
timentos que nelle se fundiam, toda a intensi
dade vulcanica da sua alma feita de bronze
e de gloria, toda a grandeza do seu longo
soffrimento terreno. Manejando a lengua como
mnguem, enrlquecendo-a prodigiosamente a
cada novo, llvro que lançava á publicidade,
Gamillo deixou urna obra regionalissima, cujas
paginas de ouro fixam em linhas perfeitas
quadrots e 'aspectos característicos da vida por
tugueza, desde as mais remotas regiões do
Mlnho, até ás scenas burguezas dos meios
lisboetas. Foi O mhis nacional de todos os
escriptores luzltanos.
Embora o romance constitua a feição pri
macial da obra camilliana, Gamillo abordou
outros géneros com egual felicidade, escre
vendo poesias e alguns dramlas e comédias,
e estreando conto dramaturgo num theatro da
provincia de Trás os Montes.
Collahorou, além disso, em grande numero
ele jornaes e revistas, |onde sustentou ternvéis
polémicas que derreavam os adversarlos. Seu
genio de pamphletarl|o expandia-se em paginas
de lncrlvel violencia, em formidáveis periodos
de vocabulario sempre potente e virulento,
manejado pela garra poderosa dum gigante
da língua. Traduziu ainda o «Gelnio do Chrisr
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Casa do Largo
do Carmo, em Lisboa,
onde nasceu Camillo
Castello Branco.
tlanlsmo», de Chateaubriand e outras obras
dO franoez e do lnglez.
O suicidio do mestre ¡occorreu no dia i de
junho de 1890. Appellando para um oftalmo
logista de Aveiro, o dr. Magalhães Machado,
escrevéra-lhe a seguinte carta, numa ultima
esperança:
«Ha poucas horas ouvl ier no «Commerdo
do Porto» o norme de V. Ex. Sentí na alma
urna extraordinatla vibração de esperança.
POderá V. Ex. salvar-me? Se eu pudesse,