Full text: 4.1925=Nr. 3 (1925000403)

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PELO MUNDO... 
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Gamillo, cujo centenario, tão brilhantemen 
te commemorado em Portugal e Brasil, trans 
correu ha pouco, é, sem contestação possível, 
uma personalidade culminante na historia da 
literatura portugueza do século passado. Sua 
Obra, ■ tão variada e vasta, tão intensamente 
sentida, drama pungente duma vida a quem 
os máos fados perseguiram) expressão dum 
genio atormentado até ao delirio da loucura, 
é a prosa fulgurante, revoltada que, esplen 
dendo em fulgores de pedrarias, explodindo 
Catnillo aos 41 annos. 
em torrentes de sarcasmos ou amargurando 
em ironías mordentes que provocam lagrimas, 
nos enche de um sentimento 'de respeitosa 
admiração por esse batalhador heroico, que, 
ao fim de tremenda luta, vencido pela des 
crença, esgotado pelo desanimo da hora der 
radeira, desesperado pelos mysteriosos desig 
nios dum trágico destino, teve ainda forças 
para encerrar com urna bala libertadora toda 
a miseria e soffrimento duma existencia agi 
tadíssima. Toda a sua vida foi um constante 
sobresalto; inquietação, desasocego, luta de 
todas as horas contra inimigos poderosos:: _ a 
adversidade, o jogo, a invega, a calumnia. 
Desancando impiedosamente as varias egre 
sólas belletristas que na raiva da sua impoten 
cia o offendlam, mettido lem duellos e brigas 
com maridos infelizes, arrastado na voragem 
das paixões amorosas, o mago de S. Miguel 
de Sefde trabalhou, no entanto, febrilmente, 
até ao momento final do seu dramático suici 
dio 1 , dispersando em cercã de duzentos volu 
mes, que abrangem varios géneros de ficção 
literaria, toda a vehemencia de idéas e sen 
timentos que nelle se fundiam, toda a intensi 
dade vulcanica da sua alma feita de bronze 
e de gloria, toda a grandeza do seu longo 
soffrimento terreno. Manejando a lengua como 
mnguem, enrlquecendo-a prodigiosamente a 
cada novo, llvro que lançava á publicidade, 
Gamillo deixou urna obra regionalissima, cujas 
paginas de ouro fixam em linhas perfeitas 
quadrots e 'aspectos característicos da vida por 
tugueza, desde as mais remotas regiões do 
Mlnho, até ás scenas burguezas dos meios 
lisboetas. Foi O mhis nacional de todos os 
escriptores luzltanos. 
Embora o romance constitua a feição pri 
macial da obra camilliana, Gamillo abordou 
outros géneros com egual felicidade, escre 
vendo poesias e alguns dramlas e comédias, 
e estreando conto dramaturgo num theatro da 
provincia de Trás os Montes. 
Collahorou, além disso, em grande numero 
ele jornaes e revistas, |onde sustentou ternvéis 
polémicas que derreavam os adversarlos. Seu 
genio de pamphletarl|o expandia-se em paginas 
de lncrlvel violencia, em formidáveis periodos 
de vocabulario sempre potente e virulento, 
manejado pela garra poderosa dum gigante 
da língua. Traduziu ainda o «Gelnio do Chrisr 
§1 
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... m» *.'•»» 
Casa do Largo 
do Carmo, em Lisboa, 
onde nasceu Camillo 
Castello Branco. 
tlanlsmo», de Chateaubriand e outras obras 
dO franoez e do lnglez. 
O suicidio do mestre ¡occorreu no dia i de 
junho de 1890. Appellando para um oftalmo 
logista de Aveiro, o dr. Magalhães Machado, 
escrevéra-lhe a seguinte carta, numa ultima 
esperança: 
«Ha poucas horas ouvl ier no «Commerdo 
do Porto» o norme de V. Ex. Sentí na alma 
urna extraordinatla vibração de esperança. 
POderá V. Ex. salvar-me? Se eu pudesse,
	        
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