Full text: 4.1925=Nr. 9 (1925000409)

Outubro de 1925 
PELO MUNDO... 
Quando ouvimos al 
guém a queixar-se da mal 
dade duma mulher, ima 
ginamos sempre uma de- 
sapiedade envenenadora de corações : a femea abo 
minável das Escripturas, a "bella judia” em voga 
durante o passado século ou a cruel figurinha de 
muitas pelliculas americanas. Com- 
tudo, essa creatura funesta pôde ser 
uma mulher commum, a menos litera 
ria e talvez a menos perversa de todas 
ellas, pois o facto de todas as mulheres 
terem uma hora má na sua vida não 
implica em que sejam más todas as 
mulheres. 
Ha momentos, porém, em que Eva 
experimenta a necessidade irresistível 
de fazer mal, de chegar com seu amor 
á disputa, á ruptura, ao crime... Por 
que? Ella própria nâo o sabe explicar : 
talvez por palpitar em cada mulher 
um inexorável poder de destruição, 
como diz Mirbeau ; talvez por apreciar 
melhor, depois, a felicidade. O certo 
HORA IVIÁ 
imperceptíveis. Acaba 
nière", "a de todos 
emanando ternura em 
n 
¡i 
é que esse sadismo exis 
te. Nenhum homem 
deixou de ouvir dizer 
uma ou varias vezes á 
sua amada. 
— Perdoa-me por ter 
procedido assim com- 
tigo. Dominava-me algo 
mais forte do que eu, 
uma aggressividade que 
que nâo comprehendo... 
Estava numa hora má. 
A hora má 1... Como 
o "quarto de hora”, 
como o "moment o 
psychologico", é mys- 
teriosa e inquietante, 
dorme no fundo da fe 
minilidade e levanta-se 
de improviso com alei- 
vosias de gato. Symp- 
tomas ? Desconhece- 
mol-os, a nâo ser um bri 
lho anormal do olhar, 
uma impaciencia súbita 
de movimentos q u a s i 
de chegar á vossa "garçon- 
os dias’. E’ meiga e dócil, 
torno de si. Hoje, porém, 
fita-vos com dureza, e, apoia 
da contra o respaldo duma 
cadeira, sem ter tirado o 
chapéo, espera que formuleis 
o menor desejo para se op- 
por a elle ; se nâo falardes, 
vos recriminará por tâo des- 
cortez mutismo. Julgaes que 
descobriu alguma das vossas 
infidelidades masculinas. 
Nâo. Soffre simplesmente 
uma hora má e nadá mais. 
Procurae, por exemplo, que 
a tormenta se desencadeie 
sobre essa lampada que, ao 
lado delia, brilha, ou sobre 
esse precioso "bibelot” de 
que tanto gostaes ; dentro em 
pouco, a nuvem se dissipará 
e julgar-vos-eis muito feliz 
emquanto só houver fúteis 
prejuízos matenaes a la 
mentar. 
Ah 1 Mulherzinhas 1 Mu- 
lherzinhas 1... Que espíri 
tos máos se apossam de vós, 
em certos momentos, que 
nos chegam a atemorizar ? 
Quanto mais nos approxi- 
mamos das vossas almas, 
menos nos entendemos. Se 
reis, por acaso, a suprema 
perfeição que a nossa igno 
rancia de creanças grandes 
nâo alcança, ou resnmis o 
"nihil” duma esphinge ôca 
que se diverte á nossa custa ? 
Germán Gómez de la Matta. 
O photographo.- — Fite 
os seus olhos, ali, n’aquelle 
retrato. Assim. Agora, ale 
gre a physionomia. 
Ella: — Nâo posso; 
aquelle retrato é o do meu 
marido. 
nnn
	        
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