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PELO MUNDO...
Dezembro de 1925
clavel rapto! Com que autoridade sobre
humana ella o empurrara para elle ir dizer
a StanisTawof que os planos de mobilização
tinham 1 sido roubados f
Mas também (imaginava Rouletabille, sem
pre o imaginava), com que alegría ella devia
ter visto voltarem 1 os carrascos que a le
varam, que carregaram com ella e com 1 es
píanos roubados!... Por que lutar? Por que
gritar ? Os documentos não iam no auto que
a levava, mías nãol a conduziam 1 para o mis
terioso reducto, onde ficaria perto delles ?...
A sua attitude fôra, de certo, dictada por
aquella idea flxa, Approxlmar-se, tocar o
I'
— A agua, á tarde, está mais suja, Anacleto.
— E’ que as Villarinhos se banham de \manhd,
Josephina.
cofre byzantino! Rehaver os documentos!
E se naquella noite se sentava tão, calma,
junto de Kara Selim, é porque era preciso, 1
por causa do cofre byzantino.
Rouletabille não tinha duvidas a esse res
peito.
Não foi preciso ella falar-lhe, nem mesmo
lançar-lhe um! olhar para lfue ler nos olhos
aquelle pensamento!
E se amanhã ella se resignasse em ser
Ivana Hanoum, a primeira cadine de Kara
Selim 1 , é porque era preciso ainda!... Reli
gião, honra, seu amor, talvez, tudo sacri
ficaria no altar da patria'!
Rouletabille exaltava-se ao pensar nesse
ideal tão alevantado;; sentia-se forte, moral
e physicamente forte pelo orgulho que sentia
de se approximar dum destino assim tão
bello! E sentia a certeza de vencer numa
noite!
Tinha uma noite deante de si, uma só!
Amanhã, seria muito tarde! Amanhã, seria
a victoria de Gaulow.
Olhou para o relogio que trazia a vêr
as horas. Fez signal a Priski.
Disse-lhe que tanto- elle como os seus com
panheiros estavam extenuados e desejavam
ir deitar-se. Pnski informou-o que nada se
oppunha agora a que se retirassem! e iel-os
sair á franceza. A’ porta da untnensa sala,
cheia da fumaça dos perfumes, dos chibouks
e do barulho cada vez mais frenético da
festa, Rouletabille voltou-se. Oh! Aquelle se
gundo, aquelle segundo em que seus olhares
se cruzaram, feriram-se... Oh! Aquelle cho
que eléctrico que o galvanizou, que a ella
fez sentir a alegria duma grande esperança!...
Tinham-se comprehendido. Sabiam que po
diam’ contar um com o outro, e que se
algum 1 morresse, não morreria sem 1 o outro.
O mordomo conduziu o pequeno grupó
para o torreão, pelo mesmo caminho pór
onde tinham 1 vindo. Nos pateos e entrln-
cheiramento reinava um grande pagode. Os
soldadas também festejavam o acontecimento
a exemplo dos officíaes e viam-se a dansar
em volta das fogueiras, bohemios de an
drajos vermelhos.
Quando chegaram ao, pateo circular do
torreão, Priski deu-lhes bôa noite, depois
de perguntar a que horas queriam’ que ps
acordassem 1 na manhã seguinte e o que de
sejavam para o almOço.
E o mordomo ia retirar-se, quando Rou
letabille, tendo empurrado para trás de si
a porta que dava para o corredor, fez si
gnal a Priski de querer falar-lhe.
X
O TORREÃO
— Sr. Mordomo, começou Rouletabille, o
senhor disse-nos, ha pouco, que eramos livres
dentro do> castello.
— Sim, senhor, absolutamente livres. Po
dem passear á vontade.
— Quer dizer, continuou Rouletabille, que
se nos der na telha, daqui a pouco, de
sair do torreão, aquelle diabo de albanez
que está do outrp lado da porta inão, tem
nada com 1 isso,
— Perdão, sr. Elle está ali justamente para
os impedir de saírem;... Comprehenda-me
bem... Os senhores podem passear á von
tade pelo casteEo, más de dia... á noite,
depois de tocar a sineta, ha uma ordem
geral que manda que toda a gtente se re
colha aos seus aposentos. Os senhores, acho
eu, não têm! nenhum motivo importante para
sair á noite do torreão...
— Essa ordem restringe singularmente a
nossa liberdade... E se a gente, ainda assim',
teimasse em sair ? Que succederia? "Póde
nos dizer ?
— Ora! O albanez passal-os-ia pelas ar
mas, depois de ter chamado a guarda em
seu auxüio! Emfim, é uma conjectura que
não consideramos.
Mal acabara Priski de dizer estas pa
lavras, quando se sentiu brutalmente derru
bado por Rouletabille, que o atacara inopi
nadamente pelas costas.
(Continúa no próxima numero)