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PELO MUNDO..
Outubro de 1927
uma chave na fechadura desengonçada da
porta) olhe, ella ahi estáf
E empurrou a porta cotn um pOnta-pé.
Uma só peça núa, sem cama, sem ca
deiras, sem um banco, appareceu aos meus
olhos: nada, a não ser uma cruz pendu
rada na parede. Na penumbra das telhas,
qualquer ooisa de monstruoso se movia de
um lado para outro, dando saltos extra
vagantes: era um grande passaxo negro, se
melhante a um oorvo, que arrastava as suas
azas abertas como se fossem um par d e
muletas.
A cabeça repugnante', ouvindo ruido, di-
rigiu-se saltando em direcção a nós e, abrindo
o seu largo bico, soltou por tres vezes
o seu gemido lúgubre;
— Aaah! aaah I aaah!
Os meus nervos, já abalados por aquelle
espectáculo e
pela ameaça
de tempesta-
de, pesavam
sobre a mi
nha nuca co
mo uma mão
vigorosa ; não
pude m a i s
oonter-me e,
agarrando o
caçador fur
tivo pelo bra
ço, exclamei:
— Vamos
embora, va
mos embora
daqui, d e -
prensa!
Ouvi o ba
ter da porta
que se tor
nava a fe
char, os gri
tos repetirem-
se ainda duas
vezes mais,
cada vez mais
fracos, e ca
minhei por
muito tempo
sobre a rei va
fina que aba
fava os nos
sos passos,
agarrado ao braço de Miseria, que fumava
sem falar.
A noite, cuja escurjdão tinha acabado por
nos envolver, suspirava sobre o charco in
visível, .produzindo frêmitos mas plantas e
movimentos mos passaros, tão tristemente, na-
quelle ar pesado, que o caçador furtivo sentiu
a necessidade de romper aquelle gijejicio op-
prassor.
— Eu morava ali, dantes, disse elle. Mo
rei ah até o areno passado, com minha mu
lher, que era bôa e bella, meu senhor, tão
bella que parecia o ‘retrato da saude!..,/
Basta. Ella accommodava a nossa vida o
melhor que podia; eu, durante o tempo da
caça, collocava-ms ao lado da estação e-
quando desciam os estrangeiros, levava-ois
aos logares onde havia mais caça.
Banca, o senhor sabe, aquelle pastor de
quem o jsenhor já .se serviu uma vez, o
senhor também... faz sair a caça de dentro
dagua melhor que os cães... Onde elle con
segue passar, não passariam nem mesmo os
javalis, e então «lie corria para avisar o
guarda, de modo que este ia fiscalizar para
outro lado... Comprehende ?... Finalmente re
partíamos os lucros... Que quer o senhor?
se a gente não se esforçar honestamente...
Eis que um d¡a de desgraça, desceram
na estação tres cavalheiros, mas gente bem
do alto... Imagine s.ó mm pouco; eram tres
¡nylords inglezes. Sem grandes explicações
elles declararam:
— Queremos mata javalis, nós não ¡az
questão da dinheiro.
Jmagine se me esforcei para ^servil-os!
Banca me disse:
— Leva estes senhores para a arapuca;
cuidarei do
guarda; e
de|sappa -
receu.
Aluguei ca
vados já ar
reados, mon
támos e se
guimos para
o bosque.
Era um dia
feio como o
de hoje, que
ria chover e
não levava
mos a mati
lha completa,
como quando
se caça em
particular . . .
Banca pro
curou, reme
xeu por toda
a parte; ape
nas ao longe
se ouviam os
cães latirem,
mas de java
li. nem som
bra. Tinha
vontade de
bater com a
cabeça nalgu
ma arvore,
pOr tal fórma
estava furioso. A noite vinha e continua
vamos com as mãos vazias. Então propuz
áquelles senhores que ficassem, porque 510
dia seguinte organizaríamos uma caçada se
gundo as regras.
Foi como se falasse a uma parede.
Não queriam saber de nada. Póde-se ima
ginar uma coisa assim ? Vir a Maí-emqie
por um dia daquelles, com a idéa de matar
immediatamente um javali! O facto é que
quizeram voltar para trás, resmungando entre
elles não sei o que (não consegui compre-
hender uma única syllaba) ; voltaram para a
estação', e lá, antes de subirem para o trem,
puzeram-me na mão duas moedas de ouro
e, bôa noite! Banca estava todo arranhado,
ferido, sangrando por todos os ladosj
tomou-me uma das moedas e deu meia
volta. Conservei a outra; mas eis que
Ghita delirava. E eu arrancava os cabellos, chorava e pedia a
protecçío da Virgem.