Full text: 6.1927=Nr. 9 (1927000609)

— 40 - 
PELO MONDO... 
Outubro de 1927 
me lembrar, não, não posso. Que especie 
de flôr é essa ? 
A maça — Não sei, está tão murcha. 
Poderá talvez ser uma prímula pelo feitio. 
O velho — Uma prímula! ah!... quasi... 
parece... que me lembro... talvez... não... 
não. Não posso me lembrar, é como uma 
sombra. Quem foi ella? Quem foi? 
A moça — Como ? COm certeza foi a 
vovó! 
O Velho — 
Não, não foi 
a tua avó, 
ella era loura, 
loura, não 
era ? 
A moça — 
Sim, vôvô, 
ella tinha uma 
linda cabel- 
leira loura, a 
mamãe me 
fala frequen 
temente sobre 
os cabellos 
delia. 
O velho — 
Creio que 
sim. A minha 
memoria hoje 
em dia está 
tão fraca! 
Sim, lembro- 
me... era lou 
ra... mas, esta 
outra era mo 
rena... 
A moça — 
Então, lem 
bras-te delia ? 
O velho — 
Desejaria po 
der me lem 
brar, deseja 
ria tanto! 
A moça — 
Alguém a 
1 quem conhe 
ceste antes de 
conhecer a 
vóvó ? 
O velho — 
Não, não . . . 
Foi depois, 
muito de 
pois... eu ti 
nha-me esque 
cido. Eu era 
um rapaz for 
te, desempe 
ñado çpmo o 
teu querido 
Tom. Chama- 
vam-me Guilherme, o Bello, e agora... não 
consigo nem vêr, . nem sentir, nem recor 
dar! Nem me lembrar! Tom parece-se com- 
migo. 
A moça — Ah, não! 
O velho — Sim, -parece-se commigo pela 
força, mas... todos chegamos a velhos. 
A moça — Estás me assustando. 
O velho — Esta foi a amada de todas as 
mulheres e não posso, não consigo me lem 
brar nada delia... não posso... faz-me tanta 
peni 1 - 
A moça — Tom nunca me esquecera. 
O velho — Elle te disse isso ? 
A moça — Tem-me jurado muitas vezes. 
O velho — Não, não, elle certamente não 
quer te enganar... pode ser... póde ser... A 
minha cabeça está estalando, isso porque fiz 
algum esforço para me. lembrar. Uma prí 
mula, não é ? 
A moça — 
E’ sim, vôvô. 
O velho — 
As prímulas 
florescem na 
primavera, is 
so eu me 
lembro... sim, 
sim... agora 
estou m: lem 
brando, a pri 
mavera... es 
sa primave 
ra,.. quem foi 
ejla ? Creio 
que... cabel 
los negros... 
olhos ne 
gros... olhos 
g rfa n des... 
Uma bocea 
vermelha .,.. 
muito fres 
ca... um bos 
que onde ella 
me beijou . . . 
Por que ? Por 
que seria que 
me deu um 
beijo ? Ha 
tantos a n - 
nos... Parece- 
me que a co 
nheci ha mui 
tos, muitos 
annos... Amei- 
a muito,, mas 
quando ?... 
onde ?...q uem 
era ella ? . .. 
quem era?... | 
Ha já dez an- I 
nos que estou 
sempre senta 
do aqui n«sta 
cadeira, não 
é certo ? 
A moça — 
E’ sim vôvô. 
O velho ■— 
Paree e-m e 
que me lem 
bro que quan 
do pela primeira vez m e sentei aqui ainda 
pensava mella. Podia ainda vel-a então na 
minha imaginação. 
A moça — E Vóvó ?, 
O velho — Oh! Nunca eu a amei tanto 
assim! Não, de modo algum! Era uma bôa 
esposa. Mas a outra, como se chamava ella ? 
A mais querfda de todas as mulheres... Ha 
verdadeiras falhas na vida... as mulheres são 
exquesitas. Tua avó... atrevo-me a confessar, 
:i ESTRELLAS DA TELA i: 
' 
Leactrice Joy, que o Rio tanto conhece e admira.
	        
© 2007 - | IAI SPK
Waiting...

Note to user

Dear user,

In response to current developments in the web technology used by the Goobi viewer, the software no longer supports your browser.

Please use one of the following browsers to display this page correctly.

Thank you.