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PELO MONDO...
Outubro de 1927
me lembrar, não, não posso. Que especie
de flôr é essa ?
A maça — Não sei, está tão murcha.
Poderá talvez ser uma prímula pelo feitio.
O velho — Uma prímula! ah!... quasi...
parece... que me lembro... talvez... não...
não. Não posso me lembrar, é como uma
sombra. Quem foi ella? Quem foi?
A moça — Como ? COm certeza foi a
vovó!
O Velho —
Não, não foi
a tua avó,
ella era loura,
loura, não
era ?
A moça —
Sim, vôvô,
ella tinha uma
linda cabel-
leira loura, a
mamãe me
fala frequen
temente sobre
os cabellos
delia.
O velho —
Creio que
sim. A minha
memoria hoje
em dia está
tão fraca!
Sim, lembro-
me... era lou
ra... mas, esta
outra era mo
rena...
A moça —
Então, lem
bras-te delia ?
O velho —
Desejaria po
der me lem
brar, deseja
ria tanto!
A moça —
Alguém a
1 quem conhe
ceste antes de
conhecer a
vóvó ?
O velho —
Não, não . . .
Foi depois,
muito de
pois... eu ti
nha-me esque
cido. Eu era
um rapaz for
te, desempe
ñado çpmo o
teu querido
Tom. Chama-
vam-me Guilherme, o Bello, e agora... não
consigo nem vêr, . nem sentir, nem recor
dar! Nem me lembrar! Tom parece-se com-
migo.
A moça — Ah, não!
O velho — Sim, -parece-se commigo pela
força, mas... todos chegamos a velhos.
A moça — Estás me assustando.
O velho — Esta foi a amada de todas as
mulheres e não posso, não consigo me lem
brar nada delia... não posso... faz-me tanta
peni 1 -
A moça — Tom nunca me esquecera.
O velho — Elle te disse isso ?
A moça — Tem-me jurado muitas vezes.
O velho — Não, não, elle certamente não
quer te enganar... pode ser... póde ser... A
minha cabeça está estalando, isso porque fiz
algum esforço para me. lembrar. Uma prí
mula, não é ?
A moça —
E’ sim, vôvô.
O velho —
As prímulas
florescem na
primavera, is
so eu me
lembro... sim,
sim... agora
estou m: lem
brando, a pri
mavera... es
sa primave
ra,.. quem foi
ejla ? Creio
que... cabel
los negros...
olhos ne
gros... olhos
g rfa n des...
Uma bocea
vermelha .,..
muito fres
ca... um bos
que onde ella
me beijou . . .
Por que ? Por
que seria que
me deu um
beijo ? Ha
tantos a n -
nos... Parece-
me que a co
nheci ha mui
tos, muitos
annos... Amei-
a muito,, mas
quando ?...
onde ?...q uem
era ella ? . ..
quem era?... |
Ha já dez an- I
nos que estou
sempre senta
do aqui n«sta
cadeira, não
é certo ?
A moça —
E’ sim vôvô.
O velho ■—
Paree e-m e
que me lem
bro que quan
do pela primeira vez m e sentei aqui ainda
pensava mella. Podia ainda vel-a então na
minha imaginação.
A moça — E Vóvó ?,
O velho — Oh! Nunca eu a amei tanto
assim! Não, de modo algum! Era uma bôa
esposa. Mas a outra, como se chamava ella ?
A mais querfda de todas as mulheres... Ha
verdadeiras falhas na vida... as mulheres são
exquesitas. Tua avó... atrevo-me a confessar,
:i ESTRELLAS DA TELA i:
'
Leactrice Joy, que o Rio tanto conhece e admira.