Novembro de 1927
PELO MUNDO...
rae e rugas de mulher velha, perguntou-me
° C| Í |C desejava o honorable gentlemm.
. Falar còm o francez que está lá Cm-
cima...
Pareceu-me que as virgulas pretas toma
vam uma bizarra expressão naque-lia velha
cara asiática, entre as dobras da gordurq.
Certamente- o gordo celeste hesitava.
Não obstante, murmurou:
— Honorable gentíeman, deseja falar com
o francez lá de cima?... Velly good... velly
good... comee!... (bem, bem, venha!)
t, com algumas reverencias, conduziu-me a
urna porta escondida a meio pelo balcão,
de madeira e q U e, aberta, deixou ver urna
escada estreita e escura. 0,s outros chins
"ão se tinham dignado reparar em mim.
Subi as apalpadellas ao único andar. Mi
nhas mãos empurraram uma
porta por trás da qual
ouvi dizerem-me: Por aqui,
entre!
Em um quarto apenas
mobiliado, aquelle francez
ávido de saber onde se
achava o yachi Daphnc,
achava-se sentado sobre as
pernas cruzadas, em cima
de um tapete.
Uma cabeça redonda,
calva, um rosto inchado,
sem pellos, salvo alguns
pellos ralos e grisalhos á
giusa de bigode, tinha uma
cor biliosa, quasi verde,
usava um grande sobretudo
que lhe cobria as pernas
cruzadas por baixo delis,
e lambem as mãos, que
elle tinha enfiado uma em
cada manga do lado op-
Posto, como os frades.
abert'^ 0 3 janellinha
— Bom dia, senhor...
Queira ter a bondade de
sentar-se e desculpe-me
nao lhe apertar a mão,
sou aleijado... disse elle
e m se mexer, immovel
cuu 10 1 um Molo... A sua
silhueta, a sua attitude, a
a physionomia apathica,
a cor ! quasi esverdeada do seu rosto, o
aziam parecer... a que?... com quem ?... não
consegui descobril-o senão mais tarde...
"pEm que poderei ser-lhe útil?... Ignoro
nde se acha o yachi que o senhor pro-
cura , mas talvez, tomando informações...
e ° senhor salvar-me-ia, mais do que a
■ ncia --- E’ uma historia terrível... Po-
lere! perguntar-lhe o seu nome?... e mes-
1 desculpe-me, o senhor parece-me um
*' m de bem... mas, se tivesse comsigo o
11 Passaporte... poderia mostrar-m’o ?
I inha-o commigo. Colloquei-o por baixo
do nariz do honrem, porque elle continua
va immovel, com as mãos sob as mangas.
“rodrigado, senhor... e desculpe-me [.... O
s niior vae saber... Mas, primeiro, quer fazer-
me o favor de fechar a janella ?... Obri
gado!... Agora ouça...
Abaixou a voz, que se transformou num
sussurrar offegante:
— Ouça: Sou de Paris, nasci na rua das
Archivos... Meus paes puzeram-me no col-
Iegio, mas eu tinha um gosto declarado pelas
aventuras e pelas viagens naturalmente, não
sei se por causa de Julio Verne, Bouscenard
ou outro .qualquer... Como cheguei a em
barcar, é sem importancia, mas, aos deze-
sete anuos, em vez de estudar rhetorica,
eu estava em Zanzíbar e para obter o meu
bread and butter (pão com manteiga) aju
dava aos negros, a descarregar os navios
que vinham da Europa, via Le Lap... De
pois corri o mundo, vivendo como podia...
segundo a moral dos paizes onde- me acha-
«5
>•«
A prancha curvava-se por causa do peso do idolo e» eu tinha as pernas
mergulhadas na agua gosmenta.
va, o que quer dizer que nem sempre ho
nestamente, senhor. Muito rico ás vezes, mas
a riqueza não d u r a va nunca muito tempo...
Lavei pedras no Alaska para encontrar ouro...
fui 'escaphandrista em Vancouver, dono de casa
de jogo em EJ Paso, cosinheiro em Ca
racas, agricultor jia Havana, exhibidor de
'bonecos em Lima,' usurário em Santiago do
Chile... Falo cinco línguas e uma dezena
de dialectos... Estive Cm varias prisões... Ti
ve febre- amarella, typho, a biliosa hema-
turica... Em cem typos que levam uma
vida destas v noventa e nove morrem antes
de terem cabellos grisalhos. Eu escapei...
Em summa, durante dez annos, até ha onze
mCzes atrás, vegetei na Oceania...
Conhece aquellas ilhas ?....
O paraíso, senhor!... Um tempo sempre