Full text: 7.1928=Nr. 4 (1928000704)

■ 76 - 
PELO MUNDO... 
Maio de 1928 
\ri 
Havia já dois presos no cubículo novo para 
onde eu fóra levado. Um dclles, um homem 
alto, corpulento, de barba preta, assim fa 
lava, conversando / . 
em voz baixa com 
o companheiro: 
— Na semana pas 
sada eu só consegui 
comer um rei. Vo 
cê teve mais sorte, 
devorou dois ! 
O outro, sem se 
perturbar, respon 
deu: 
— Não se lembra 
mais você da rainha 
que comeu o mez 
passado ? 
— Santo Deus, 
disse aos meus bo 
tões, estou aqui, 
numa prisão, com 
dois loucos terri- 
veis t Esses homens, 
verdadeiras féras, 
falam em devorar 
um rei, como se um. 
spberano, de scCptro 
e corôa, fosse um 
bife que se come ás 
pressas na hospe 
daria da estrada. 
Eram, com certeza, 
republicanos exalta 
dos, que arrastados 
pela paixão política 
haviam perdido o 
uso da razão; e ,a mania delles, ¡no triste 
estado de demencia em que se achavam, era 
a extravagante preoccupação d« transformar 
todos os monarchas da terra em iguarias 
e manjares. 
Confesso que tive grande medo dos meus 
copipanhei r o st 
de prisão. E 
se elles me to 
massem por al 
gum soberano 
da Grecia ou 
da Bulgaria? 
estaria eu irre- 
mediavelmen t e 
perdido. 
Lembrei - me 
então do con 
selho prudente 
de um velho 
medico amigo 
meu: «Quando 
estiveres entre 
os doidos, fin 
ge-te doido 
também.» 
E foi isso que resolvi fazer. Passar, aos 
olhos daquelles dois loucos, por um terceiro 
louco, victima da mesma mania. Levantei- m e 
então, solemne, e a elles me dirigi (da se 
guinte fórma: 
— Isso que os senhores ccxntam não é 'nada I 
Já comi, em menos de um ainno, varios reis, 
rainhas e princezas. 
E como os regicidas já me observassem 
com grande espanto, 
achei mais prudente 
accrescentar: 
~~ - — Já enguli vivo 
um archiduque com 
roupa, medalha e 
tudo! 
— Esse camarada 
está doido, murmu 
rou o homem da 
barba preta. 
— Louco varrido, 
ajuntou o outro. O 
melhor é não lhe 
dar importancia al 
guma. Vamos jogar 
uma partida. 
O homem da 
barba preta puxou 
então de sob uma 
banqueta rustica um 
taboleiro de xadrez 
e uma collecção de 
peças encardidas e 
toscas, desse conhe 
cido jogo. Só então 
percebi o engano e 
atinei com o ridi 
culo em que havia 
cahido, Aquelles dois 
homens não passa 
vam de simples e 
pacafos e n xadr:Sta s ; 
as peças do jogo — reis, damas, bispos, 
cavallos, etc., — na falta de material pro- 
prio, eram fabricados com miolo de pão. 
Pela combinação original existente entre elles, 
o vencedor de cada partida tinha o direito 
de devorar o rei adversario. Isso impor 
tava, para o vencido, em um grande sacri 
ficio, pois era forçado a economizar, nas re 
feições' seguintes, uma parte do pão suffi- 
ciente para fabricar um novo rei. 
MaWa Tahm 
Entre médicos: 
— A doença do Martins te»e um funesto 
desenlace. 
— Afinal morreu ? 
— Não. Está bom e são, mas nãoi me 
pagou a conta. 
Certo medico, sendo chamado para um 
doente atacado de indigestão, receitou-lhe 
um purgante. 
O doente, que era um gastrónomo incor 
rigível, ap ouvir a preseripção do medico, 
perguntou-lhe: 
— Diga-me, doutor, poderei tomar esse pur 
gante acompanhado de umas batatinhas fritas?
	        
© 2007 - | IAI SPK
Waiting...

Note to user

Dear user,

In response to current developments in the web technology used by the Goobi viewer, the software no longer supports your browser.

Please use one of the following browsers to display this page correctly.

Thank you.