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PELO MUNDO...
Maio de 1928
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Havia já dois presos no cubículo novo para
onde eu fóra levado. Um dclles, um homem
alto, corpulento, de barba preta, assim fa
lava, conversando / .
em voz baixa com
o companheiro:
— Na semana pas
sada eu só consegui
comer um rei. Vo
cê teve mais sorte,
devorou dois !
O outro, sem se
perturbar, respon
deu:
— Não se lembra
mais você da rainha
que comeu o mez
passado ?
— Santo Deus,
disse aos meus bo
tões, estou aqui,
numa prisão, com
dois loucos terri-
veis t Esses homens,
verdadeiras féras,
falam em devorar
um rei, como se um.
spberano, de scCptro
e corôa, fosse um
bife que se come ás
pressas na hospe
daria da estrada.
Eram, com certeza,
republicanos exalta
dos, que arrastados
pela paixão política
haviam perdido o
uso da razão; e ,a mania delles, ¡no triste
estado de demencia em que se achavam, era
a extravagante preoccupação d« transformar
todos os monarchas da terra em iguarias
e manjares.
Confesso que tive grande medo dos meus
copipanhei r o st
de prisão. E
se elles me to
massem por al
gum soberano
da Grecia ou
da Bulgaria?
estaria eu irre-
mediavelmen t e
perdido.
Lembrei - me
então do con
selho prudente
de um velho
medico amigo
meu: «Quando
estiveres entre
os doidos, fin
ge-te doido
também.»
E foi isso que resolvi fazer. Passar, aos
olhos daquelles dois loucos, por um terceiro
louco, victima da mesma mania. Levantei- m e
então, solemne, e a elles me dirigi (da se
guinte fórma:
— Isso que os senhores ccxntam não é 'nada I
Já comi, em menos de um ainno, varios reis,
rainhas e princezas.
E como os regicidas já me observassem
com grande espanto,
achei mais prudente
accrescentar:
~~ - — Já enguli vivo
um archiduque com
roupa, medalha e
tudo!
— Esse camarada
está doido, murmu
rou o homem da
barba preta.
— Louco varrido,
ajuntou o outro. O
melhor é não lhe
dar importancia al
guma. Vamos jogar
uma partida.
O homem da
barba preta puxou
então de sob uma
banqueta rustica um
taboleiro de xadrez
e uma collecção de
peças encardidas e
toscas, desse conhe
cido jogo. Só então
percebi o engano e
atinei com o ridi
culo em que havia
cahido, Aquelles dois
homens não passa
vam de simples e
pacafos e n xadr:Sta s ;
as peças do jogo — reis, damas, bispos,
cavallos, etc., — na falta de material pro-
prio, eram fabricados com miolo de pão.
Pela combinação original existente entre elles,
o vencedor de cada partida tinha o direito
de devorar o rei adversario. Isso impor
tava, para o vencido, em um grande sacri
ficio, pois era forçado a economizar, nas re
feições' seguintes, uma parte do pão suffi-
ciente para fabricar um novo rei.
MaWa Tahm
Entre médicos:
— A doença do Martins te»e um funesto
desenlace.
— Afinal morreu ?
— Não. Está bom e são, mas nãoi me
pagou a conta.
Certo medico, sendo chamado para um
doente atacado de indigestão, receitou-lhe
um purgante.
O doente, que era um gastrónomo incor
rigível, ap ouvir a preseripção do medico,
perguntou-lhe:
— Diga-me, doutor, poderei tomar esse pur
gante acompanhado de umas batatinhas fritas?