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— Meu Deus, como és bello, papá!
Tinha menos temor, menos timidez; sentia-se
mais mãe de Lili. Lili nao era sómente de Valburgo
e da avó Virginia e da ama de leite e dos amigos
da familia, mas era seu, sobretudo, seu, da verda
deira mama que o tinha tido. Era um pouquinho
tambem do bello avosinho, que tinha surgido ines
peradamente urna bella manha, com uma malinha
cheia de brinquedos inúteis...
A creada tinha acabado de pôr a mesa. Sahiu
rapida mente, escorregando sobre o brilhante parquet.
Dona Virginia trabalhava silenciosa, a cabeça
abaixada.
A luz coada da lampada delineava o seu perfil
inclinado; tomava-o mais branco, mais diaphano.
Ella estava fazendo uma touquinhacôr de rosa para
um Lili de seis mezes ao menos. E o seu trabalho
parecia na verdade uma occupaçâo de joven mama:
um trabalho mesmo côr de rosa.
Innocente lia. O que ? Provavelmente um livrinho
tirado da bibliotheca de Cesarina: uma velha histo-
na de amôr fatal encadernada em couro azul...
Levantou-se, seduzido pela doçura intima
d aquella sala na penumbra, da mesa posta da se
nhora inclinada sobre o trabalho.
r echou o volumesinho; deu alguns passos.
~C ara Virginia!—disse elle.
Ella deix u a agulha; olhou para elle, sorriu.
~ Para Lilino ?
~~Sim, para Lilino.
EBe sentou-se junto d’ella. Contemplou-a. Ella
era ainda bonita. Havia ainda qualquer cousa
n’aquelles olhos, n’aquellas- pupillas de uma expres
são indizivel, absolutamente feminina, como têm as
pupillas de certas mulheres quando olham para os
homens. Havia allí dentro feminilidade, sinceridade,
uma voz que não fallava, que não cantava, que não>
gritava, que era uma voz que vinha dos olhos: era
um olhar profundo de mulher.
— Cara Virginia! — repetiu elle.
Ella sorriu ; retomou a agulha, interrogando :
— Então, que está olhando ?
— Onde poz as suas chaves ?
— Dei-as a Cesarina...
Muito bem; agora trabalhe. Cesarina. A senho
ra, descanse. Contente-se em trabalhar no tulle. As
suas mãos são mais brancas e mais bellas do que as
de Cesarina. Caras mãos trabalhadoras !
Ora, ora! disse a mãe de Valburgo com um
extranho sorriso de altivez e desconforto. O que im
porta que as minhas mãos sejam jovens se eu sou
velha.
Não, não... Que diz ? E eu então ? E’ preciso
morrer porque não se tem mais vinte, nem trinta,
nem trinta e cinco annos ?. Não se deve ser mais
nada aos cincoenta e aos sessenta annos ? Pense um
pouco, Virginia.
— Com que fim ?
— Para pensar.
— Não. Prefiro pensar na felicidade de meu filho
e em ver crescer Lili. Olhe, quando Lili puzer esta
touca, não ficará lindo ?
— E nós?