Full text: 1.1915,9.Jun.=Nr. 2 (1915000102)

TO 
¿¡TRIAS ORIGINA 
AS RENDAS 
Artigo instructivo e muito curioso: trata-se nelle da fabricação, nos diffe 
rentes centros especialistas, das diversas especies de rendas e das dis 
tinções que as caracterizam. 
manufactura das rendas remonta 
á mais alta antiguidade. A Biblia 
fala de cortinas de fino linho bordado 
com desenhos á agulha, azues, purpura, 
escarlate, com cherabins lindamente tra 
balhados ; Isaías fala das redes das mu 
lheres, e o livro dos Reis dos cordões 
entrelaçados em forma de rede, do tem 
plo de Salomão. No Exodo, Aholiab 
é citado como hábil bordador. Emfim 
no livro de Salomão fala-se que a filha 
do rei será aprezentada ao rei com ves 
tidos bordados. Na antiguidade pagã, 
os trabalhos de agulha não foram tidos 
em menor apreço. 
Sabe-se que castigo Minerva inflingiu 
a Arachnéa que tinha pretendido igua 
lai a na arte de bordan 
Homero fala-nos dos véos ricamente 
bordados que a bella Helena levava ao 
templo de Minerva e collocava no eolio 
da deusa para acalmar a sua colera. 
Era um bordado o tecido tão fallado 
de Penelope cujo interminável compri 
mento desesperava os pretendentes. As 
pinturas funerarias dos egypcios mos 
tram que as roupas de apparato eram 
feitas de rede trançada ou de crochet 
bordadas á ouro, á prata ou de dife 
rentes cores nas bainhas. 
As Phrygias eram tão habéis n’essa 
arte que todo o bordado bonito tomava 
° seu nome. Nas antiguidades de Por 
fiei, encontrou-se uma elegante estatua 
de Diana, de mármore, vestida á moda 
das damas romanas ; o vestido tem uma 
renda exactamente igual ao ponto mo 
derno. 
A idade media não ficou estranha a 
esse requinte do luxo. As anglo-saxo- 
meas eram afamadas pela finura e ma 
ravilhoso brilho dos seus bordados a 
ouro e a prata. 
Os mais bellos specimens que exis 
tem da sua arte são a capa d’asperges 
e manipulo de São Cuthbert que foram 
transportados do seu caixão para a bi- 
bliotheca do capitulo de Durham ; um 
dos lados do manipulo é guarnecido 
com rendas de ouro cujo bordado é de 
uma belleza sem igual. 
Os bordados, a confecção das rendas 
de seda, de ouro e de prata era a occu- 
pação predilecta das rainhas e das cas- 
tellãs nos seus vastos castellos no longo 
vagar do tempo das cruzadas e das 
guerras continuas e na solidão forçada 
em que as retinham a difficuldade das 
communicações. Rainhas e damas da 
nobreza gabaram-se da sua vida activa; 
um dos maiores elogios feitos a Catha- 
rina de Aragão, mulher de Henrique 
VIII é que passava o tempo a cozer 
diligentemente, habito que herdara da 
sua mãe, Izabel a Catholica. Maria 
Stuart primava n’essa arte como nas 
outras mais; e Catharina de Medieis 
era incomparável n’ esses trabalhos. 
Reunia em torno de si Claudia, Izabel 
e Margarida, suas filhas, assim como as 
suas primas de Guise e «passava o 
seu tempo depois do jantar, diz Bran- 
tôme, occupada nos seus trabalhos de 
seda em que era tão perfeita quanto 
possível ». 
Os trabalhos de agulha eram occupa- 
ção quotidiana dos conventos. Havia 
mesmo monges afamados pelo seu ta 
lento em bordar, como os da abbadia 
de Wolstrope, no condado de Lincoln. 
Em todos os paizes onde os conventos 
foram suprimidos o preço das «rendas* 
augmentõu. 
EntreÇ as religiosas que primaram 
n’essa arte citam-se as freiras hespa- 
nholas que executaram maravilhas de 
paciencia e delicadeza. Esses trabalhos 
eram na maioria destinados a ornamen 
tar os altares. Um facto bastará para 
mostrar que thesouros d’esse genero 
possuíam certas igrejas : era preciso ás 
vezes nomear senhoras camaristas para 
as madonas mais afamadas afim de 
cuidarem dos vestidos e roupas brancas 
que constituíam o seu enxoval e que 
vestiam nos dias de grande gala. Na 
época da Renascença as rendas toma 
ram ifm novo impulso, os artistas occupa- 
ram-sé em dar-lhes um cunho artístico 
que até então não tinham tido. Va 
riaram-se os desenhos; divisas, brazões, 
emblemas foram reproduzidos nos seus 
delicados tecidos, satisfazendo assim á 
faceirice da mulher e ao orgulho da 
fidalga. 
Sob a administração de Colbert 
começou-se a fabricar rendas em Alen- 
çon. 
Essa renda imita o ponto de Veneza, 
d’ahi é que foram operarias para ensi 
nar em Alençon. 
A renda é feita á mão sobre perga 
minho com uma agulha e uma pinça. 
Só com fio de linho, nunca se emprega 
o fio de algodão. Trabalhavam n’essa 
fabrica em 1789 cerca de 9.000 opera 
rias. Cahiu em abandono até cerca de 
1830 quando tomou novo impulso. E’ 
considerada uma das mais bellas rendas. 
O ponto de renda de Alençon como 
o de Veneza é de origem italiana. O 
fundo e a cercadura são feitos á agulha. 
Esse ponto foi ensinado em França por 
uma senhora Gilbert d’Alençon a quem 
Colbert fez um adiantamento de francos 
1 50.000 para que pudesse estabelecer 
na sua cidade natal uma manufactura de 
rendas. Um vestido feito na fabrica de 
Alençon esteve em exposição em 1859. 
Avaliado em 200.000 francos foi adqui 
rido por Napoleão para a Imperatriz 
que o mandou transformar em sobre 
pelliz e offereceu-o ao Santo Padre. 
— Veneza, berço dos bellos pontos 
perdeu o seu segredo e Genova é a única 
cidade da Italia em que se faz renda. 
As mais bellas rendas de fio de linho 
são as rendas flamengas. A Bélgica 
conservou a superioridade que tinha 
adquirido. As rendas de Bmxellas são 
as mais procuradas. Cada renda é feita 
por diversas operarias, uma faz o fundo, 
a segunda a flor, uma outra borda, etc. 
As flores d’essas rendas são circumda- 
das por um cordão fino que indica a 
proveniencia do tecido e serve de marca 
de fabrica. 
As de Valenciennes são feitas com 
um mesmo fio e um só bilro. O seu 
ponto cruzado e enlaçado dá-lhe muita 
solidez.
	        
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