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¿¡TRIAS ORIGINA
AS RENDAS
Artigo instructivo e muito curioso: trata-se nelle da fabricação, nos diffe
rentes centros especialistas, das diversas especies de rendas e das dis
tinções que as caracterizam.
manufactura das rendas remonta
á mais alta antiguidade. A Biblia
fala de cortinas de fino linho bordado
com desenhos á agulha, azues, purpura,
escarlate, com cherabins lindamente tra
balhados ; Isaías fala das redes das mu
lheres, e o livro dos Reis dos cordões
entrelaçados em forma de rede, do tem
plo de Salomão. No Exodo, Aholiab
é citado como hábil bordador. Emfim
no livro de Salomão fala-se que a filha
do rei será aprezentada ao rei com ves
tidos bordados. Na antiguidade pagã,
os trabalhos de agulha não foram tidos
em menor apreço.
Sabe-se que castigo Minerva inflingiu
a Arachnéa que tinha pretendido igua
lai a na arte de bordan
Homero fala-nos dos véos ricamente
bordados que a bella Helena levava ao
templo de Minerva e collocava no eolio
da deusa para acalmar a sua colera.
Era um bordado o tecido tão fallado
de Penelope cujo interminável compri
mento desesperava os pretendentes. As
pinturas funerarias dos egypcios mos
tram que as roupas de apparato eram
feitas de rede trançada ou de crochet
bordadas á ouro, á prata ou de dife
rentes cores nas bainhas.
As Phrygias eram tão habéis n’essa
arte que todo o bordado bonito tomava
° seu nome. Nas antiguidades de Por
fiei, encontrou-se uma elegante estatua
de Diana, de mármore, vestida á moda
das damas romanas ; o vestido tem uma
renda exactamente igual ao ponto mo
derno.
A idade media não ficou estranha a
esse requinte do luxo. As anglo-saxo-
meas eram afamadas pela finura e ma
ravilhoso brilho dos seus bordados a
ouro e a prata.
Os mais bellos specimens que exis
tem da sua arte são a capa d’asperges
e manipulo de São Cuthbert que foram
transportados do seu caixão para a bi-
bliotheca do capitulo de Durham ; um
dos lados do manipulo é guarnecido
com rendas de ouro cujo bordado é de
uma belleza sem igual.
Os bordados, a confecção das rendas
de seda, de ouro e de prata era a occu-
pação predilecta das rainhas e das cas-
tellãs nos seus vastos castellos no longo
vagar do tempo das cruzadas e das
guerras continuas e na solidão forçada
em que as retinham a difficuldade das
communicações. Rainhas e damas da
nobreza gabaram-se da sua vida activa;
um dos maiores elogios feitos a Catha-
rina de Aragão, mulher de Henrique
VIII é que passava o tempo a cozer
diligentemente, habito que herdara da
sua mãe, Izabel a Catholica. Maria
Stuart primava n’essa arte como nas
outras mais; e Catharina de Medieis
era incomparável n’ esses trabalhos.
Reunia em torno de si Claudia, Izabel
e Margarida, suas filhas, assim como as
suas primas de Guise e «passava o
seu tempo depois do jantar, diz Bran-
tôme, occupada nos seus trabalhos de
seda em que era tão perfeita quanto
possível ».
Os trabalhos de agulha eram occupa-
ção quotidiana dos conventos. Havia
mesmo monges afamados pelo seu ta
lento em bordar, como os da abbadia
de Wolstrope, no condado de Lincoln.
Em todos os paizes onde os conventos
foram suprimidos o preço das «rendas*
augmentõu.
EntreÇ as religiosas que primaram
n’essa arte citam-se as freiras hespa-
nholas que executaram maravilhas de
paciencia e delicadeza. Esses trabalhos
eram na maioria destinados a ornamen
tar os altares. Um facto bastará para
mostrar que thesouros d’esse genero
possuíam certas igrejas : era preciso ás
vezes nomear senhoras camaristas para
as madonas mais afamadas afim de
cuidarem dos vestidos e roupas brancas
que constituíam o seu enxoval e que
vestiam nos dias de grande gala. Na
época da Renascença as rendas toma
ram ifm novo impulso, os artistas occupa-
ram-sé em dar-lhes um cunho artístico
que até então não tinham tido. Va
riaram-se os desenhos; divisas, brazões,
emblemas foram reproduzidos nos seus
delicados tecidos, satisfazendo assim á
faceirice da mulher e ao orgulho da
fidalga.
Sob a administração de Colbert
começou-se a fabricar rendas em Alen-
çon.
Essa renda imita o ponto de Veneza,
d’ahi é que foram operarias para ensi
nar em Alençon.
A renda é feita á mão sobre perga
minho com uma agulha e uma pinça.
Só com fio de linho, nunca se emprega
o fio de algodão. Trabalhavam n’essa
fabrica em 1789 cerca de 9.000 opera
rias. Cahiu em abandono até cerca de
1830 quando tomou novo impulso. E’
considerada uma das mais bellas rendas.
O ponto de renda de Alençon como
o de Veneza é de origem italiana. O
fundo e a cercadura são feitos á agulha.
Esse ponto foi ensinado em França por
uma senhora Gilbert d’Alençon a quem
Colbert fez um adiantamento de francos
1 50.000 para que pudesse estabelecer
na sua cidade natal uma manufactura de
rendas. Um vestido feito na fabrica de
Alençon esteve em exposição em 1859.
Avaliado em 200.000 francos foi adqui
rido por Napoleão para a Imperatriz
que o mandou transformar em sobre
pelliz e offereceu-o ao Santo Padre.
— Veneza, berço dos bellos pontos
perdeu o seu segredo e Genova é a única
cidade da Italia em que se faz renda.
As mais bellas rendas de fio de linho
são as rendas flamengas. A Bélgica
conservou a superioridade que tinha
adquirido. As rendas de Bmxellas são
as mais procuradas. Cada renda é feita
por diversas operarias, uma faz o fundo,
a segunda a flor, uma outra borda, etc.
As flores d’essas rendas são circumda-
das por um cordão fino que indica a
proveniencia do tecido e serve de marca
de fabrica.
As de Valenciennes são feitas com
um mesmo fio e um só bilro. O seu
ponto cruzado e enlaçado dá-lhe muita
solidez.