Full text: 1.1915,16.Jun.=Nr. 3 (1915000103)

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3 VARIEDADES 
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QUANTO CUSTOU O PARTHENON? 
Querer conhecer o custo de um edifício que remonta 
a dois mil annos e do qual não restam em pé 
senão poucas columnas sem as respectivas architra- 
ves, pode parecer a muitos uma cousa impossível. 
Todavia, para quem sabe interrogar o passado, ser 
vindo-se dos restos do proprio Parthenon e dos do 
cumentos archeologicos e epigraphicos disseminados 
por toda a parte, o impossível desapparece e a ver 
dade mostra-se, se não completamente núa, coberta 
apenas de subtilíssimos véos, deixando entrever o 
conjuncto. E isto foi feito recentemente por um mem 
bro do Instituto de França, o professor Máximo Cal- 
lignon, já notável por diversos trabalhos sobre a 
estatuaria grega. 
Mas a conta que faz o professor Collignon sobe a 
muitos milhões de mais para ser aceita sem um in 
ventario. E’ preciso ter presente que a Grecia do 
tempo de Pericles construía, além do Parthenon, 
outros edifícios não menos sumptuosos sobre a Acró 
polis e algures, edifícios que, entretanto, deviam 
custar não pequenas quantias. 
Façamos, pois, o inventario pelo estudo do profes 
sor Máximo Collignon sobre o custo daquella joia 
architectonica que ainda se perfila sobre o céo puro 
de Athenas. 
Si, entretanto, o Parthenon já é demasiadámente 
conhecido relativamente á sua forma original e tam 
bém á sua significação no espirito de Pericles, que 
decretou a sua execução em 447 A. C. no Acrópolis, 
não é conhecido o modo como foi regulada a admi 
nistração da sua construcção, quando Callicrates 
dava execução aos desenhos de Ictinos e Phidias 
modelava a celebre estatua em pé de Athena Par- 
thenos. 
A administração da construcção foi assim regulada: 
Uma commissão de epistatis (superintendentes) 
inspeccionava as ablações e a despeza e todos os 
annos apresentava a nota, numerada progressiva 
mente e datada, ao secretario da suprema magistra 
tura atheniense (Pritania). Este, por sua vez, trans- 
mittia essa mesma nota ao magistrado supremo 
(Archonte Eponimo) para approvação superior. 
Infelizmente, porém, as ditas notas que se gravavam 
no mármore, foram em grande parte destruidas. As 
duas únicas, fragmentadas, que atravessaram os 
séculos trazem a data dos annos 434, 433, 432 e re 
montam aos XIV e XV exercidos. Comquanto a 
indicação das despezas seja necessariamente incom 
pleta, pode-se todavia reconstruil-a por hypothese, 
assegurando, com muita probabilidade de não errar 
por muito que o Parthenon no XV exercício já custava 
700 talentos. Como o talento (moeda) se divide em 
60 minas ou 6000 drachmas, o que equivale a cerca 
SUPPLEMENTO 
de 3:240$000, resulta que 700 talentos devem ser iguaes 
a 2.268 contos de reis. 
Plutarcho, de facto, conta-nos na vida de Pericles, 
que este ultimo foi accusado de esbanjar os dinheiros 
públicos para «fundar templos que custavam 1.000 
talentos». 
Se, pois, no XV exercício o templo cuja construc 
ção se podia dizer, então, quasi terminada, já custava 
700 talentos, os outros 300 talentos serviram sem 
duvida para os trabalhos de remate: para os altos 
relevos das decorações superiores, para a decoração 
dos frisos e da celia, para o polimento das paredes, 
das columnas, etc., cuja despeza tctal não póde ter 
sido menor do que os 1.000 talentos mencionados,, 
ou 3.300 contos de reis. 
Mas o Parthenon foi feito para servir de sanctuario 
á deusa padroeira de Athenas cuja estatua chryso- 
elephantina, isto é, de marfim e ouro, estava sendo 
trabalhada n’essa época, por Phidias. Esta estatua 
era objecto de uma conta especial, administrada por 
uma commissão chamada «dos epistatis da estatua 
de ouro». Os epistatis recebiam o dinheiro dos the- 
soureiros da deusa e com elle compravam os mate- 
riaes preciosos que passavam a Phidias e aos seus 
collaboradores. 
Num só anno elles compraram ouro no valor de 
cerca de 6 talentos de peso (o talento peso, era igual 
a 26,107 kilogrammas) isto é 156,642 kilogrammas, 
correspondentes em moeda a 87 talentos e 4.652 
drachmas. No total os epistatis gastaram, sempre 
num só anno, 90 talentos e 5.295 drachmas. 
Phidias foi accusado de ter-se apropriado de uma 
parte desse ouro£e por isso foi encarcerado. Os eli- 
dinos, para os quaes elle tinha promettido esculpir o 
famoso Júpiter, querendo libertai-o tiveram de pagar 
por elle 40 talentos. 
Segundo alguns historiadores o peso de ouro em 
pregado na estatua de Minerva teria sido 44 talentos, 
no peso de 1.148, 708 kilogrammas, representando 
um valor de 735 talentos e 1.300 drachmas. 
Se a essa despeza se accrescenta a do marfim e o 
da mão de obra, a despeza total oscillará entre 700 e 
1.000 talentos, quasi tanto como pelo edificio. O cal 
culo dessa despeza póde variar conforme a valor que 
se quizer dar ao talento tomado como moeda e como 
peso; mas o Parthenon com a estatua crysoelephan- 
tina não póde ter custado menos de 2.000 talentos, 
isto é, cerca de seis mil e seiscentos contos. 
O professor Máximo Collignon sustenta que uma 
e outra obra custaram mais de quatorze mil e oito 
centos contos, um pouco caro para um templo rela 
tivamente pequeno, medindo 69™,80 de comprimento,, 
36™,16 de largura e 21'",12 de altura.
	        
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