Full text: 1.1915,23.Jun.=Nr. 4 (1915000104)

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orreram os deuses. Com elles morreram os 
oráculos... 
Ninguém lamenta mais essas mortes do que eu... 
Hoje, falta-me a crença para supplicar a um santo 
qualquer da corte celeste e falta-me o respeito para 
ir pedir a uma cartomante a revelação do mysterio... 
O mysterio que me tortura é o mysterio do Thea- 
tro Nacional... 
Nao assistí a nenhuma representação de Joao 
Caetano; no tempo do grande trágico, eu era ainda 
uma força esparsa na natureza... 
Pela mesma razao, não pude bater palmas a Fur 
tado Coelho, o qual, apezar de não ter nascido sob 
a luz patrícia do Cruzeiro, deu a maior parte da sua 
mtelligencia e da sua vida aos tablados do Brasil, 
junto de Lucinda Simões e de outros actores e de 
outras actrizes... 
Também não me ri com a graça de Vasques.. 
Mas toda a minha infancia foi commovida por 
Eugenio de Magalhães. 
Lembro-me sempre do gesto lento com que elle 
tirava o chapeo, diante da cruz, naquelle acto e na- 
quella scena (VA Morgadinha de Vai-Flor, em que 
dizia: 
' O’ Christo, se e verdade que proferiste as su 
blimes palavras: — bemaventurados os que cho- 
ram > manda-me no orvalho das lagrymas a paz 
a esta alma que tanto padece 1» 
Eu tinha sete annos, e achava isto sublime!... 
Vem dahi o meu amor pelo theatro. 
Os espectáculos da companhia Dias Braga valiam, 
o infinito para mim... 
E no cáes da minha cidade, finda a temporada,, 
quando o vapor se sumia, levando os homens, as 
mulheres, os dramas e os scenarios, eu ficava a chorar,, 
a abanar o meu lenço pequenino, desconsolado e in 
feliz... 
Com treze annos, conhecia o repertorio brasileiro, 
e o portuguez, as peças excellentes, as boas, as regu 
lares e as ruins. Principalmente as ruins... Muito 
precoce... 
Depois, nem sei mesmo porque, esqueci o thea 
tro... 
Agora, volto a amal-o. E queria saber da vóz de 
um oráculo porque motivo não existe theatro na 
Brasil 1 Nao existiu já, e em épochas inferiores á 
presente ? 
Desde a Exposição, só tentativas surgem e desap- 
parecem. O Municipal, em 1912 e 1913, realisou 
uma chusma de esperanças... 
E nada mais, a não se contarem as innúmeras, 
revistas em gyria... 
Possuimos auctores, possuímos intérpretes, pos 
suímos scenographos, possuimos machinistas, pos 
suimos palcos, possuimos espetacdores... possuimos 
tudo!... e não possuimos o Theatro Nacional!... 
Mysterio, mystério, mystério... 
Aguardemos os resultados do Trianon e do Pa- 
the... 
Alvaro Moreyra.
	        
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