¡~ ANNO I
Rio de Janeiro, 30 de Junho de 1915
NUM. 5
Iv
Revista semanal
Publica-se ás Quartas - feiras
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Anno 185000 - Semestre 10$000
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po^ssignâturas são no mínimo de 6 mezes,
termmo°j PnnCipiar em < l ua ^ uer mez, mas
n ° sempre em fim de Junho ou
_ Dezembro.
CTTH/rn/r a n-rr-v SUPPLEMENTo*'í Notasvselectas — O Theatro
O U JYLJYLAJbCKJ em familia — Pedro Barqueiro (Conto regional) —
Esperteza de coelho — Conselhos práticos —
O gato.
TEXTO: Cartas femininas - Renata - Lemberg - Perfil de S. S. o Pana
Benedicto XV A dahlia — Waterloo — Os cafés cariocas — Os es-
í; u Í£ to ^r s t un i s * anos — O Castello da Pena - As creanças prodieio —
S Ç*? Cosmopolita — O Mundo Pittoiesco — Mulhères luctadoras —
Hotel do Globo — As bibliothecas infantis na America — O paiz do
Mundo que se veste mais barato - Friedli e Trinèle - No Paiz do
Crime - Paginas da guerra - Moda - Livrarias do Rio - Reservistas
italianos A guerra (drama de actualidade) — Os Dezenhistas de renome -
Solo de flauta - A felicidade.
= O :
CARTAS FEMININAS
Rio
Maria da Graça,
a lua carta veio inutilizar ama que ea já tinha
escn Pta para ti. Escrevi-a ha coisa de uma semana,
e > ( omo me acontece sempre, deixei de mandal-a ao
orreio logo... E’ que eu acho que a gente escreve
ar tas mais para si proprio do que para a pessoa
Q Ue as deve ler.
Eu não faço uma idea nem approximada, crê,
a vida que se faz na provincia. Parece-me, entre
unto, q Ue c [ eve ser mu n 0 sanãavej ¿ s t 0 ¿ > muito
00(1 Para a pelle.
A d’aqui não, minha querida. Diz-se mal, so-
jetudo do clima do Rio... Quanto a mim, apezar
0 uieu bairrismo e de não conhecer outro pois,
Quando eu ahi estive era tão pequena!...— acho in-
Sll Pportavel. Insupportavel: já meditaste que i nsup-
or avel quer dizer - o que se não póde supportar?
05 outras empregamos a toda hora este adjectivo
n m ^ ar P e ^° sentido que tem ... Mas é justamente
6Ssa acce PÇão exacta que eu o emprego aqui, para
Qualificar o clima do Rio. Seguidamente appare-
lor ~ me man E /as no rosto, manchas de sói, de ca-
••• Não são indeleveis, mas, por isso mesmo,
a °-me um trabalho enorme.
Este e outros accidentes cutâneos, minha cara
amiga, são o preço do nosso prazer. Estou, entre
tanto muito disposta a pagal-o sem maior discus
sões. Hei de continuar a ir ao theatro, ao baile, á
festa de caridade, a toda parte, ainda que fique
mais malhada do que uma onça. EJ que eu tenho
mais amor á vida do que á pelle.
Bairrismo a parte, cara Maria da Graça, gosto
i inmensamente do Rio. Acho que só falta inverno
a essa magnifica cidade. Dirás, com acerto, que é
justamente isso, essa tropicalidade implacável, que
afaz assim original... Pois que não fosse origi
nal, ou, pelo menos, tanto quanto o é, mas que
se pudesse usar roupas com motivo, aqui no Rio,
que se pudesse andar razoalmente vestida. Oh! a
desgraça de não poder usar pelles! Não a conhe
ces, não a comprehendes, tu que és obrigada a
agasalhar-te com boas e manchons de maio a ou
tubro cada anno.
Aqui é impossível. Peior: por mais que o Rióse
civilize não se poderá nunca usar pelles! E hor
rível!
Não é tudo: é-se obrigada a andar na rua com
vestidos d interior, com toilettes, porque nem o
tailleur ésuppurtavel.