Full text: 1.1915,30.Jun.=Nr. 5 (1915000105)

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SELECTA 
do o então Commandante Saldanha da Gama re 
gressou dos Estados-Unidos em 1890, foi lá que 
alguns camaradas lhe offereceram um jantar, que 
se esperava pudesse ter significação no momento. 
Receioso da facundia brasileira, Saldanha, depois 
da sopa, levantou-se e disse que aquelle jantar só 
comportava um brinde feito desde o inicio, e que 
elle erguia com enthusiasmo aos seus companheiros 
de classe. E assim evitou, talvez, alguma inconve 
niencia. 
Nao so nos banquetes, mas ñas mesas isoladas, 
tratavam-se ás vezes assumptos de muita impor 
tancia. O Sr. Quintino Bocayuva, quando Ministro 
das Relações Exteriores, morava no Cupertino e 
frequentemente ficava na cidade á tarde e jantava 
no Globo. A’s vezes era seu companheiro o Sr. F. 
Glycerio, então Ministro da Agricultura. Num desses 
]antares na pequena sala, ao lado do salão com- 
mum, trataram os dous, uma noite, da creaçao do 
ephemero Ministerio da Instrucção Publica, Cor 
reros e Telegraphos. 
Um jornalista que estava perto lembra-se dessa 
conversa em que se dizia que se deviam evitar na 
Pasta da Guerra dissenções que havia no Exercito 
e difficuldades com o Marechal Deodoro. Para esse 
nm indicava-se como acertada a entrada do Gene 
ral Floriano para o Governo, passando o General 
benjamín Constant a occupar o novo Ministerio que 
sena creado. Allí mesmo, findo o jantar, ficou as- 
sentado entre os dous Ministros fallarem no dia se 
rrante ao Chefe do Governo Provisorio, confiantes 
eni due o Sr. Benjamín Constant acceitaria fácil 
mente a combinação, pois era conhecido o seu pen- 
d0r pelas questões do ensino. 
Uma reunião famosa realizada no salao de ban 
quetes foi em 1885 a da minoría conservadora, sob 
a presidencia do Sr. Andrade Figueira. Por mais 
n gorosas que fossem as precauções tomadas para 
8uardar-lhe o sigillo, um repórter da extincta Folha 
°va, hoje do Jornal, conseguiu penetrar no salao 
como criado de servir e ouvir tudo o que se passava. 
(T ^ Figueira aconselhava entao que se votasse no 
r - Moreira de Barros, liberal, mostrando, de en 
contro aos que objectavam ser esse adversario poli- 
lc ° q ue a questao de momento era o projecto 
o icionista do Ministerio Dantas e que o interesse 
upremo dos conservadores que combatiam essa 
Ç 'da era, na impossibilidade de eleger um corre- 
‘gionano, collocar na presidencia da Camara um 
mal que fosse hostil ao projecto, 
so ° faCt °’ pordm ’ mais importante que allí se pas- 
u ’ Afectando a questao do elemento servil, foi 
ui dos banquetes com que os conservadores adian- 
o °, S cos tumavam celebrar o anniversario da lei de 
° de Setembro. O Sr. Joao Alfredo, que fora Mi- 
g S ro Imperio do gabinete Rio Branco, nem 
uipre os presidia. Esse, a que nos referíamos, de- 
q s „ er realizado sob os auspicios do Conselheiro 
ornea, quando o ex-senador pernambucano teve 
zoes para alli apparecer. 
r n s c °usas passaram-se assim : — Um dia appa- 
r a j eu em casa c i e S. Ex. um camarista do Impe- 
( ° r > o Conde de Iguassú, se bem nos lembramos, 
que, sem nenhum rebuço, disse-lhe que Sua Ma 
jestade extranhava a sua ausencia de muito tempo 
e tinha desejos de vêl-o. O Sr. Joao Alfredo res 
pondeu que não demoraria a sua visita ao Paço. 
Quando S. Ex. alli se apresentou e fez referencia 
ao occorrido, o Imperador, nao querendo logo se 
descobrir, atalhou que não dissera assim ao seu 
camarista, pois nao tinha assumpto para mandal-o 
chamar. Mas a conversa foi deslizando para a po 
lítica e o Imperador acabou chegando ao seu ponto. 
Disse Sua Majestade que os liberaes estavam se di 
vidindo muito e que, avançando a idéa da abolição, 
entendia que uma reforma tão grave como essa 
devia ser feita pelos conservadores. Achava, entre 
tanto, também que estes, scindidos de 1861, não 
tinham a cohesão necessária para levar a cabo tão 
melindrosa tarefa. 
Foi então que o Sr. João Alfredo lembrou que o 
Barão de Cotegipe tinha bastante prestigio para 
reunir todas as facções do partido. O Imperador 
animou-o a fazer alguma cousa nesse sentido, 
Isso se passava nas proximidades de 28 de Se 
tembro e, entrando no segredo do occorrido, o Ba 
rão de Cotegipe compareceu ao banquete em que 
o Sr. João Alfredo, no discurso que pronunciou, 
chamou-o «o Pontífice Máximo da Grey conserva 
dora». Nesse discurso, o ex-Senador por Pernam 
buco fez a importantíssima declaração de que «o 
partido conservador devia, podia e queria resolver 
a questão do elemento servil». 
Na tão decantada época da febre bolsista, tão 
propriamente chamada «Do Ensilhamento», todos 
os grandes successos de negociatas eram comme 
morados com sardanapalescos jantares, sempre re 
gados de custosos vinhos e do espumante Champa 
gne Clicot. 
Convem também aqui consignar que nas salas do 
velho Hotel reuniam-se os Srs. Francisco Glycerio, 
Quintino Bocayuva, Aristides Lobo e outros deno 
dados propagandistas da Republica para accorda- 
rem nos meios a empregar para o advento do novo 
regimen, victorioso desde 1889. 
Ainda no Hotel é conhecida como Sala Fio 
Branco uma pequena saleta do 2° andar, onde o . 
grande Integralizador da Patria almoçava ou jan 
tava com os Ministros da Bolivia Fernando Gua- 
challa e Claudio Pinilla, e outras vezes com os Drs. 
Euclides Cunha, Assis Brasil e Gastâo da Cunha, e 
discutia reservadamente diante de mappas o Tra 
tado de Petropolis. 
Foi no Ilolel do Globo onde se realizaram os 
mais concorridos banquetes e onde os homens mais 
notáveis nas sciencias, lettras, diplomacia, artes e 
industrias preferiam e preferem ainda fazer as suas 
refeições. 
Seria longa enumeração de factos que se reali 
zaram no famoso hotel, onde o autor destas des- 
pretenciosas notas também em áureos tempos de 
moço teve occasiâo de figurar muitas vezes no exer 
cício da sua profissão, praticando subtilezas artifi- 
ciaes para obtenção de noticias de alta importancia 
política e social. 
Ernesto Senna
	        
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