Full text: 1.1915,4.Aug.=Nr. 10 (1915000110)

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CONSELHOS PRÁTICOS 
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Para tingir de preto roupas de iã 
Para tingir-se de preto qualquer tecido deve-se tin- 
gil-o primeiramente de azul escuro e laval-o até não 
deixar mais tinta alguma. 
Para 50 libras de panno, colloca-se, envoltos num 
panno ralo, 4 libras de páo campeche em raspas e 6 
libras de galhos de Alepo em pó, que devem ser fer 
vidas durante 12 horas numa caldeira com bastante 
agua. Depois muda-se a terça parte desse cozimento 
para outra caldeira e ajunta-se meia libra de verdete 
em pó. 
Passa-se a peça de panno por este banho, agitan 
do-a sem parar por espaço de duas horas. 
Tira-se, então, o panno e ajunta-se ao banho a se 
gunda terça parte do cozimento de pau campeche e de 
galhos de Alepo, accrescentando-Ihe duas libras de 
sulphato de ferro; diminue se o fogo e deixa-se dis 
solver o sal. 
Ajunta-se um pouco de agua fria e deixa-se em 
repouso meia hora. 
Colloca-se de novo o panno nesta tinta, mexendo 
continuamente durante duas horas, depois do que se 
expõe ao ar a peça de roupa. 
Accrescenía-se, afinal, a ultima terça parte do cozi 
mento de pau campeche, 5 libras de sumagre e dá-se- 
lhe uma fervura. 
Toma-se a esfriar a agua deiíando-se-!he mais meia 
libra de sulphato de ferro; e, depois de meia hora, 
põe-se dentro o tecido com as mesmas precauções. 
Depois de uma hora, tira-se a peça da tinta para 
arejar bem e volta-se, de novo, a mergulhai-a no 
mesmo banho, onde deve ficar hora e meia, mexen 
do-se sempre. 
Lava-se, depois, em agua limpa até deixar agua 
dara quando fôr expremido. 
Coze-se, então, um pouco de resedá e passa-se no 
cozimento o tecido para amacial-o e lustral-o. 
Para tingir de azul 
Faz-se o preparado com 150 garrafas de agua, uma 
libra de bom anil cobreado, pouco mais de uma libra 
de sulphato de ferro, unia libra de cal e a quarta parte 
de uma libra de soda. 
Reduz-se o anil e a cal a um pó muito fino; 
díssolve-se á parte o sulphato de ferro, deita-se tudo 
na caldeira, mexe-se bem o liquido, e leva-se a uma 
temperatura de 40 a 50 graus por 24 horas, agitan 
do-se frequentemente durante as duas primeiras horas; 
está, então, em estado de poder tingir. 
Logo que o banho enfraquecer, ajunta-se-ihe uma 
libra de sulphato de ferro e rneia libra de cal para 
dissolver o anil que, pelo contacto do ar, se terá pre 
cipitado. 
^ Amendoeiras em flor 
O nortada aspera, as chuvas tinham-me impedido de 
“ ir olhai-a de perto. Mas eis que a primavera 
surge da terra e das nuvens em pesados effluvios de 
tempestade, em calores oppressivos de estufa; as flo 
res desabrochara. As amendoeiras estão descoradas, 
já brotam nas pontas dos galhos pequeninas flores 
estrelladas, renda delicada, de um verde amarellado 
e claro. 
Milagre mais encantador não existe, como a d’esse 
esqueleto de pau florido de neve rosada e branca, 
cheirando a mel. Toda a suavidade da primavera, a 
graça enteroecedora e a eternidade maravilhosa das 
cousas se contem n’essa grande obra, tão delicada e 
tão feminina. 
Dizer-se que aqueile pau, galho duro, pardacento, 
disforme com os nós da casca gretada, cousa que du 
rante todo o inverno dava uma impressão de soffri- 
mento, de miseria extrema; e paf! de cada coto le 
nhoso, surgem os brotos verdes, rebentos de vida 
que, todos os dias, crescem a vista d’olhos, coroados 
pela estrella tríplice ou quadrupla das flores alegres, 
das flores molles e abertas até o coração! 
Flores divinas, com todas as suas pétalas de nacar 
húmido, mais macias ao tacto do que a seda, do que 
a cutis das creanças, com o seu feixe de alfinetes 
brancos com cabeça de ouro, surgindo de uma cruz 
com cinco pontas de um verde rosado com beiras 
avelludadas. 
E o seu aroma delicioso que perfuma todo o jar 
dim ! 
Os sumptuosos iris côr de malva, liiazes, violetas, 
tão frágeis, na extremidade de seus talos, também 
exhalara, e ainda mais violento, esse aroma de puro 
mel; e parece que urna mancha de mel amarello se 
estende em riscas nas suas pétalas. 
As violetas brancas abundam, tenazes e discretas 
sob as folhas. As anemonas de corollas verde e rosa, 
de nuança pallida, lembrando os tons delicados das 
cassas e das sedas inglezas, descobrindo o seu pe 
queno coração de alcachofra verde e rosa, apenas 
verde e apenas rosado. Os cravos purpurinos côr de 
morango, brancos de neve, expandem a volúpia da 
sua alma. As mimosas espargem doce purpura n’utn 
suspiro meigo, de acre languidez. E por toda a parte, 
no ar pesado e carregado de enervantes effluvios, a 
primavera aquece e incha os brotos que estalam es 
pargindo perfumes que tonteiam e perturbam. 
Soes frouxos, cerrações mornas, mar sem reflexo, 
de estranho branco ou de chumbo cinzento, luz con 
fusa que debuxa a esfuminho as montanhas, mau 
estar do coração cheio de nostalgia, de esperança 
vaga, a primavera allí está, terrível e doce, ainda mais 
do que o outomno, para as almas soffregas. 
Flor de neve e de mel. Milagre do galho secco. 
Paul Marguerítte.
	        
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