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CORREIO para os ESTADOS
NOVAS DO RIO
O MEZ FATIDICO... —A TRAGEDIA DA GAVEA — AS BOMBAS DAS AGUAS-FERREAS... — UMA
REPRESENTAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO COMMERCIAL DO RIO DE JANEIRO — COISAS MAIS
AMENAS...
Os primeiros dias deste agosto apenas cumpriram
o seu dever, sendo desvairados e terríveis. O carioca
e, antes de tudo, um ente supersticioso, que acredita
na bôa sorte e no máo azar com uma firmeza e uma
seriedade dignas talvez de melhores fins...
Se agosto nao começasse como começou, o ca
rioca se sentiría roubado...
Segunda-feira, 2 de agosto, logo depois do meio-
dia, a noticia de uma tragedia saccudiu a Avenida:
— o barão de Werther fora assassinado, quando
assaltava a casa em que a baroneza se escondera
com os filhos! —
Ha dois anuos, vendo que nao poderiam viver
mais juntos, tantas e tao repetidas eram as desaven
ças que perturbavam o seu lar, a baroneza e o barao
de Werther decidiram separar-se por um divorcio
amigavcl. Mas o barao, que já dera o consentimen
to afim de que os filhos do casal ficassem com sua
esposa, resolveu, de repente, o contrario. Nestas
condições, em 18 de agosto de 1913, a baroneza de
Werther propoz no juizo federal da secção do Esta
do do Rio, uma acçao de divorcio. O juiz julgou a
acçao improcedente, e assim reconheceu o patrio
poder do barao sobre os seus filhos. Com isto, o ba
rao obteve a apprehensão dc duas meninas; reco
lheu-as ao Collegio da Sagrada Familia, em Petro-
polis, de onde foram raptadas.
Desde essa epocha, elle nao viu mais os filhos,
apezar de tudo o que fazia para conseguir a apprc-
hensao delles. Ultimamente, os seus Íntimos sempre
o encontravam exaltado, a dizer que nao podia
continuar por mais tempo separado daqucllas crean-
ças que sua mulher escondia.
E pesquizava. procurava, até que, ha cerca de
duas semanas, foi ter ao edificio da Policia Central,
entendemlo-se com o 2. 0 delegado auxiliar, a quem
participou que conhecia o paradeiro dos filhos. Es
perava, pois, que fosse feita a apprehensão legal, nu
casa numero 35 da estrada da Gavea. A nossa po
licia, porém, não podia agir sem uma requisição da
policia do Estado do Rio, ou por precatória de man
dato do juiz federal do mesmo Estado. Ante essa
exigencia, o barão de Werther compronietteu-se a
apresentar á policia, precisamente no dia da funesta
tentativa de rapto, os mandatos com as formalidades
legues.
Na vespera, julgou melhor agir por conta própria.
Contratou com diversos individuos da ralé o rapto
das creanças. A’s dez horas da manhã, acompa
nhado de um amigo, foi encontrar os assaltantes, que
o esperavam em tres automóveis, nas furnas da Ti-
juca. Dirigiram-se em seguida para a casa da Gavea.
Desceram perto. O barão ordenou que. cercassem
todas as possíveis sahidas. Elle e o amigo entraram
na casa.
A baroneza, adivinhando o que mais tarde ou
mais cedo tinha de acontecer, estava guardada. Os
assaltantes foram repellidos á bala pelos seus em
pregados. O barão, fugindo, cahiu ferido na estrada,
morrendo minutos depois. O chefe do bando, al
cunhado de Gazohna, tombou sem vida ainda no
terreno da casa. O amigo do barão escapou por
milagre... Os companheiros de GazoHna puzeram-se
a salvo, desapparecendo. Affirma-se que ellcs não
iam armados.
Findo o tiroteio, a baroneza de Werther retirou-
se, acompanhada dos seus filhos e dos seus fieis ser
vos, tomando dois automóveis. Descansou um mo
mento ii" Hotel Itamaraty, nas Larangeiras, e segu.u
para a cidade, para a residencia de unia amiga.
Terminou desta maneira triste o caso de um di
vorcio.
A baroneza de Werther é filha do finado barão
do Rio Branco; chama-se Amelia de Werther Rio
Branco. O seu marido chamava-se Gustav Karl
Marian von Werther.
Rela madrugada de quarta-feira, a po'icia do Rio
interrompeu os trabalhos, já em largo adiantamento,
de uma conspiração que, se tivesse feliz resultado,
transformaria a administração publica, revogaria a
Constituição e substituiria por outros os homens que
dirigem actualmente o Brasil. Esta ultima eia a 1110-