SELECTA
num cartão no qual está indicado o genero de traba
lho, o salario, as condições e outras informações de
caracter geral suficientes para que a pessoa compre-
tienda e veja se a offerta lhe convém ou não. Se lhe
convem, o aspirante não tem mais nada a fazer senão
introduzir numa abertura, junto do compartimento
uma moeda de um quarto de dollar; o comparti
mento abre-se e elle póde retirar o cartão que traz
no verso o endereço de quem offerece o trabalho.
Se por uma razão qualquer o aspirante não conse
gue se entender com quem lhe offerece o trabalho
so tem que restituir o cartão á sociedade dos distri
buidores automáticos e ella restituir-lhe-ha o seu di
nheiro. Em cada compartimento não ha senão um
cartao para cada offerta de emprego ; o aspirante tem
assim a certeza que o seu lugar não está occupado
quando aprezenta a sua offerta de serviço.
* *
ÇhcafPOS Existiam já em Londres diversos
microscópicos theatros microscópicos, se assim
os podemos 'hamar,e entre outros
_ o Little Theatre, que não compor
ta senão trezentos espectadores, o Court Theatre que
comporta quatrocentos, o Kingswuy Theatre què po
de admitir uns quinhentos e cincoenta, o Crite ion
que admitte quinhentos e setenta e cinco e o Royaltv
no máximo seiscentos.
Ha pouco se inaugurou mais um theatro pequeni-
mssimo, comportando só nente quatrocentos lugares
e ao qual foi dado o neme de Ambassadors. Ao pri
meiro espectáculo que se deu lá, parecia assistir se a
uma recepção de sociedade, pois entre os espectado
res era fácil distinguir-se as mais conspicuas persona
gens de Londres, qur r do campo litterario ou artísti
co, quer do político, social e financeiro.
Mas parece que o theatro, com uma media entre
quatrocentos e quinhentos lugares, seja considerado
em certos círculos, como ainda giande demais, e es
tão construindo no coração de Londres outros dous
theatros que não acolherão mais de duzentos especta
dores. Naturalmente o preço dos bilhetes será muito
alto, os espectáculos não podem ter muito luxo nem
serem muito complicados, mas serão característicos e
de cunho artístico perfeito.
Sobretudo se quizer manter na escolha das produ-
cçoes dramáticas o que na Inglaterra se chama um
alto standard, tanto no genero como na escolha dos
actores. A experiencia merece ser executada com
attenção pois synthetisa a reacção artística contra a
invasao do Music Hall e do espectáculo de varieda
des, invasão que da Inglaterra ameiça invadir o con
tinente europeu, transformando-se e peiorando o seu
caracter na travessia do canal.
0 Puhirismo Já se disse algures que o futurismo
não é uma novidade. Os Débats
dao uma prova celebrando a memoria de Jules Val-
les, o paradoxal chranista nascido na primeira me
tade do século passado. A ousadia das ideas de Vallès
e, entre as suas man festações, a que - mereceu a
maior attenção dos seus contemporâneos. Um dia
na pensão onde elle tomava habitualrnente as suas’
refeições, Vallès poz-se a discutir com um joven es-
cuiptor que tinha ousado elogiar a arte antiga. «Que
ha mais gracioso — declamava o esculptor — que
uma amphora etrusca, que póde haver mais nobre e
divino ?»
Vallès respondeu com vehemencia: «O litro!»
Uma outra vez no Café de l’Union, onde o tinham
appelhdado o antropophago jus amente por causa da
sua vehemencia e aspereza, Vallès escandalísou os
que o ouviam, dizendo: «E’ preciso quebraras esta-
SUPPLEMENTO
mas c rss"T r os quadros I Raphael e Miguel Angelo
sao apenas os rontifices da pintura e da esculptura
de ínfima ordem ! Dante não se chamava Dante mas
Durand !... O riso é o único meio que nos resta hoje
para nos libertarmos, üífenbach é um precursor!
Abaixo os Pindaros de peruca e os Homeros anti
quados !» Vallès cra chamado de incendiario, mas
uma noite um jornalista tendo ido á sua casa para
pedir-lhe uma intrevista encontrou-o soprando debalde
a lenha da sua chaminé. «Olhe que bello incendiario
eu sou! — gritou Vallès ao vizitante — Ha uma hora
que estou soprando para accender o meu fogo e não
consigo.»
* *
(litis CâPfâ Eis uma carta de Víctor Hugo que
v. tem a data de 1862 e que mostra
ve vlCiOP migo em que alta consideração o grande
poeta tinha a nação belga .
Hauteville-House, 12 de Janeiro — «Vivo solitario,
e, ha mezes, um trabalho urgente occupa-me de modo
que não sei mais nada do que acontece em volta de
mim.
Esta questão do Hainauít é, para a Bélgica, no que
diz respeito ao progresso, uma das grandes opportu-
miau es das quaes os povos surgem grandes ou pc*
quenos. Suppüco a nação belga que seja grande.
Um povo que tem a liberdade deve ter também a
vontade. Tribuna livre, imprensa livre, eis o organismo
da opinião. Falle pois a opinião; é uma hora deci
siva.
, A Bélgica, apezar de pequena, póde se quizer por-se
a frente da civilisação. A nobre Bélgica, que é Oallia
como a França, póde gloriosamente afirmar a sua
nacionalidade com uma explendida excepção, sendo
a única agremiação humana que não tem as mãos
ensanguentadas.
E’ bello pensar-se que um pequeno povo dá licções
aos grandes e que só por esse facto se torna maior
do que elles.
E’ bello imaginar-se que, diante das abomináveis
terras que se estendem, diante das barbarias recru-
descentes, a Bélgica, assumindo o papel de grande
potencia na civilisação, dá ao genero humano os es
plendores da verdadeira luz, proclamando a inviola
bilidade da vida humana e repelindo definitivamente
para as profundezas da noite o monstro que é a pena
de morte e que tem a gloria de ter levantado na terra
dous crucifixos: o de Jesus Christo, no amigo mundo
e o de John Brown, no novo.
Seu sempre affeiçoado Víctor Hugo.»
é *
Um curioso ° principe de Monaco, voltanto da
sua vigessima sexta viagem de pes-
pnenomeno quizas oceanographicas no Atlântico
septentrional, expoz á Academia de
Sciencias de Paris um curioso phenomeno. As son
dagens feitas durante a viagem demonstraram que
milhares de animaes habitantes das profundezas do
Oceano, os chamados animaes do abysmo, duas vezes
ao dia, em cada maré ascendente, sobem dos abys-
mos profundíssimos das aguas até poucas centenas
de metros da superficie do mar. A’s vezes sobem
de uma profundidade de 7000 metros a uma profun
didade de 200 metros. O príncipe dirigiu-se aos
homens de sciencia para que o auxiliem a determinar
porque fazem essa diaria mudança de diversos kilo
metros os habitantes dos abysmos para a superficie
do mar e como esses mesmos seres podem snppor-
tar duas vezes ao dia uma variação de pres-ão que
equivale a uma differenç* de diversas centenas de
atmospheras.
Dr. Dulcamara