Full text: 1.1915,18.Aug.=Nr. 12 (1915000112)

SELECTA 
num cartão no qual está indicado o genero de traba 
lho, o salario, as condições e outras informações de 
caracter geral suficientes para que a pessoa compre- 
tienda e veja se a offerta lhe convém ou não. Se lhe 
convem, o aspirante não tem mais nada a fazer senão 
introduzir numa abertura, junto do compartimento 
uma moeda de um quarto de dollar; o comparti 
mento abre-se e elle póde retirar o cartão que traz 
no verso o endereço de quem offerece o trabalho. 
Se por uma razão qualquer o aspirante não conse 
gue se entender com quem lhe offerece o trabalho 
so tem que restituir o cartão á sociedade dos distri 
buidores automáticos e ella restituir-lhe-ha o seu di 
nheiro. Em cada compartimento não ha senão um 
cartao para cada offerta de emprego ; o aspirante tem 
assim a certeza que o seu lugar não está occupado 
quando aprezenta a sua offerta de serviço. 
* * 
ÇhcafPOS Existiam já em Londres diversos 
microscópicos theatros microscópicos, se assim 
os podemos 'hamar,e entre outros 
_ o Little Theatre, que não compor 
ta senão trezentos espectadores, o Court Theatre que 
comporta quatrocentos, o Kingswuy Theatre què po 
de admitir uns quinhentos e cincoenta, o Crite ion 
que admitte quinhentos e setenta e cinco e o Royaltv 
no máximo seiscentos. 
Ha pouco se inaugurou mais um theatro pequeni- 
mssimo, comportando só nente quatrocentos lugares 
e ao qual foi dado o neme de Ambassadors. Ao pri 
meiro espectáculo que se deu lá, parecia assistir se a 
uma recepção de sociedade, pois entre os espectado 
res era fácil distinguir-se as mais conspicuas persona 
gens de Londres, qur r do campo litterario ou artísti 
co, quer do político, social e financeiro. 
Mas parece que o theatro, com uma media entre 
quatrocentos e quinhentos lugares, seja considerado 
em certos círculos, como ainda giande demais, e es 
tão construindo no coração de Londres outros dous 
theatros que não acolherão mais de duzentos especta 
dores. Naturalmente o preço dos bilhetes será muito 
alto, os espectáculos não podem ter muito luxo nem 
serem muito complicados, mas serão característicos e 
de cunho artístico perfeito. 
Sobretudo se quizer manter na escolha das produ- 
cçoes dramáticas o que na Inglaterra se chama um 
alto standard, tanto no genero como na escolha dos 
actores. A experiencia merece ser executada com 
attenção pois synthetisa a reacção artística contra a 
invasao do Music Hall e do espectáculo de varieda 
des, invasão que da Inglaterra ameiça invadir o con 
tinente europeu, transformando-se e peiorando o seu 
caracter na travessia do canal. 
0 Puhirismo Já se disse algures que o futurismo 
não é uma novidade. Os Débats 
dao uma prova celebrando a memoria de Jules Val- 
les, o paradoxal chranista nascido na primeira me 
tade do século passado. A ousadia das ideas de Vallès 
e, entre as suas man festações, a que - mereceu a 
maior attenção dos seus contemporâneos. Um dia 
na pensão onde elle tomava habitualrnente as suas’ 
refeições, Vallès poz-se a discutir com um joven es- 
cuiptor que tinha ousado elogiar a arte antiga. «Que 
ha mais gracioso — declamava o esculptor — que 
uma amphora etrusca, que póde haver mais nobre e 
divino ?» 
Vallès respondeu com vehemencia: «O litro!» 
Uma outra vez no Café de l’Union, onde o tinham 
appelhdado o antropophago jus amente por causa da 
sua vehemencia e aspereza, Vallès escandalísou os 
que o ouviam, dizendo: «E’ preciso quebraras esta- 
SUPPLEMENTO 
mas c rss"T r os quadros I Raphael e Miguel Angelo 
sao apenas os rontifices da pintura e da esculptura 
de ínfima ordem ! Dante não se chamava Dante mas 
Durand !... O riso é o único meio que nos resta hoje 
para nos libertarmos, üífenbach é um precursor! 
Abaixo os Pindaros de peruca e os Homeros anti 
quados !» Vallès cra chamado de incendiario, mas 
uma noite um jornalista tendo ido á sua casa para 
pedir-lhe uma intrevista encontrou-o soprando debalde 
a lenha da sua chaminé. «Olhe que bello incendiario 
eu sou! — gritou Vallès ao vizitante — Ha uma hora 
que estou soprando para accender o meu fogo e não 
consigo.» 
* * 
(litis CâPfâ Eis uma carta de Víctor Hugo que 
v. tem a data de 1862 e que mostra 
ve vlCiOP migo em que alta consideração o grande 
poeta tinha a nação belga . 
Hauteville-House, 12 de Janeiro — «Vivo solitario, 
e, ha mezes, um trabalho urgente occupa-me de modo 
que não sei mais nada do que acontece em volta de 
mim. 
Esta questão do Hainauít é, para a Bélgica, no que 
diz respeito ao progresso, uma das grandes opportu- 
miau es das quaes os povos surgem grandes ou pc* 
quenos. Suppüco a nação belga que seja grande. 
Um povo que tem a liberdade deve ter também a 
vontade. Tribuna livre, imprensa livre, eis o organismo 
da opinião. Falle pois a opinião; é uma hora deci 
siva. 
, A Bélgica, apezar de pequena, póde se quizer por-se 
a frente da civilisação. A nobre Bélgica, que é Oallia 
como a França, póde gloriosamente afirmar a sua 
nacionalidade com uma explendida excepção, sendo 
a única agremiação humana que não tem as mãos 
ensanguentadas. 
E’ bello pensar-se que um pequeno povo dá licções 
aos grandes e que só por esse facto se torna maior 
do que elles. 
E’ bello imaginar-se que, diante das abomináveis 
terras que se estendem, diante das barbarias recru- 
descentes, a Bélgica, assumindo o papel de grande 
potencia na civilisação, dá ao genero humano os es 
plendores da verdadeira luz, proclamando a inviola 
bilidade da vida humana e repelindo definitivamente 
para as profundezas da noite o monstro que é a pena 
de morte e que tem a gloria de ter levantado na terra 
dous crucifixos: o de Jesus Christo, no amigo mundo 
e o de John Brown, no novo. 
Seu sempre affeiçoado Víctor Hugo.» 
é * 
Um curioso ° principe de Monaco, voltanto da 
sua vigessima sexta viagem de pes- 
pnenomeno quizas oceanographicas no Atlântico 
septentrional, expoz á Academia de 
Sciencias de Paris um curioso phenomeno. As son 
dagens feitas durante a viagem demonstraram que 
milhares de animaes habitantes das profundezas do 
Oceano, os chamados animaes do abysmo, duas vezes 
ao dia, em cada maré ascendente, sobem dos abys- 
mos profundíssimos das aguas até poucas centenas 
de metros da superficie do mar. A’s vezes sobem 
de uma profundidade de 7000 metros a uma profun 
didade de 200 metros. O príncipe dirigiu-se aos 
homens de sciencia para que o auxiliem a determinar 
porque fazem essa diaria mudança de diversos kilo 
metros os habitantes dos abysmos para a superficie 
do mar e como esses mesmos seres podem snppor- 
tar duas vezes ao dia uma variação de pres-ão que 
equivale a uma differenç* de diversas centenas de 
atmospheras. 
Dr. Dulcamara
	        
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