Full text: 1.1915,25.Aug.=Nr. 13 (1915000113)

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PAGINAS CONTEMPORANEAS 
Artigo de Arnaldo Fraccaroli, brilhante publicista italiano. Reduzimol-o, sem o alterar 
nos seus termos, para tornal-o mais fácil de ser lido pelos nossos leitores. Por essas im 
pressões de viagem se poderá ter uma idéa da vida no pequeno e glorioso paiz que se 
bate galhardamente ha mais de doze mezes contra a poderosa monarchia dual. 
ñ estação da estrada de ferro de Vordar 
a Salónica. 
Uma manhã nublada e fria. O ca- 
vallinho somnolento, acordado cedo 
Q □ n □ demais depois das longas horas de 
trabalho do dia antecedente, deixara 
cahir a cabeça pesada de somno, dormitando. Pou 
cas figuras de passageiros embuçados nos sobretudos 
perfilam-se na atmosphera livida. 
Algumas figuras femininas embrulhadas nas pelli 
cas desapparecem, tagarellando, na estação. 
A praçasinha está vasia. 
Diante da entrada da estação alguns vendedores 
offerecem os poucos recursos das suas mal providas 
tendas: pão preto, figos séceos, vinho, tangerinas, 
queijo, ameixas. O trem não tem carro restaurante 
— cousa que eu nunca tinha esperado —- e o paiz 
que elle atravessará não poderá offerecer cousa al 
guma. 
E’ preciso cuidar-se das provisões ! 
— Velas? Quem quer velas? 
Durante a viagem o trem não será ¡Iluminado e 
viajar-se-á também á noite. 
Compremos velas. 
Um gendarme faz-me parar: um gendarme ves 
tido de preto com larga faxa vermelha. São gendar 
mes cretenses, e que a Grecia achou bons para man 
dar aqui manter a ordem na sua nova Macedonia. 
O gendarme quer ver o passaporte. Está em regra? 
Tres vezes em regra. Traz o visto do Consulado da 
Servia em Milão — cinco francos — , depois o do 
governador grego de Salónica — outros cinco fran 
cos — , depois o do cônsul da Servia em Salónica: 
mais outros cinco francos. O gendarme verifica, mas 
não desarma: é preciso ainda ser visado pela auto 
ridade política de partida. Meu Deus, mais cinco 
francos ? 
Passamos ao gabinete da autoridade política. 
Dous subordinados dos gendarmes e um delegado 
examinam o passaporte que se vae tomando pre 
cioso com os autographos, os sellos, os carimbos. 
Mas assim se pode entrar e tomar lugar no trem, 
que deveria partir ás oito horas, mas que ás sete c 
trinta e cinco se põe em movimento. E’ um atrazo 
ás avessas: terrível para quem se fia nos horarios • 
Este trensinho asseiado e confortável não vae á Ser 
via : apenas se approximará, chegando só até Gu- 
mendge, a ultima estação grega da Macedonia. 
Depois volverá atraz. E’ pena, pois é comniodo 
o trensinho, e tem compartimentos aquecidos. D 
trem servio que encontraremos depois não terá este 
luxo. 
A Servia que anda em guerra ha tres annos tem 
mais em que pensar! 
O trensinho corre para a Servia com uma veloci 
dade moderada, seguindo em sentido inverso o 
valle do Vardar. 
O grande rio está cheio e as suas aguas estão tur 
vas por causa das enxurradas d’estes últimos dias- 
A nova terra da Macedonia que a Grecia recebeu 
de presente das guerras balkánicas, tem um aspecto 
de abandono. Nos pastos requeimados, um ou ou 
tro rebanho de carneiros com os seus pastores. 
E’ esta a terra pela qual se continua a gritar e a 
protestar na Bulgaria. 
Para o trem o limite é Gumendge : um limite pu 
ramente ideal porque a Servia começa além. Em 
Gumendge muda-se de trem, um outro comboio 
muito inferior espera nos trilhos: um comboio dos 
Chetnins de íer de 1’Elat Serbe. 
Este trem servio parece mesmo encarregado de 
dar o primeiro aspecto do paiz em guerra no qua 
entramos. Os pobres carros devem ter passado P° r 
todas as fadigas e afflicções e o desesperado heroís 
mo de uma mobilisação vertiginosa. Se elles dura 
rem até o fim da guerra precisam de um merecido 
descanso. Os assentos estão usados, rotos, surrados- 
O frio é constante, entrando o vento por algum 
vidro partido ou batente de porta que não fecha 
bem, cousa que em geral acontece muito frequente- 
fl
	        
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