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PAGINAS CONTEMPORANEAS
Artigo de Arnaldo Fraccaroli, brilhante publicista italiano. Reduzimol-o, sem o alterar
nos seus termos, para tornal-o mais fácil de ser lido pelos nossos leitores. Por essas im
pressões de viagem se poderá ter uma idéa da vida no pequeno e glorioso paiz que se
bate galhardamente ha mais de doze mezes contra a poderosa monarchia dual.
ñ estação da estrada de ferro de Vordar
a Salónica.
Uma manhã nublada e fria. O ca-
vallinho somnolento, acordado cedo
Q □ n □ demais depois das longas horas de
trabalho do dia antecedente, deixara
cahir a cabeça pesada de somno, dormitando. Pou
cas figuras de passageiros embuçados nos sobretudos
perfilam-se na atmosphera livida.
Algumas figuras femininas embrulhadas nas pelli
cas desapparecem, tagarellando, na estação.
A praçasinha está vasia.
Diante da entrada da estação alguns vendedores
offerecem os poucos recursos das suas mal providas
tendas: pão preto, figos séceos, vinho, tangerinas,
queijo, ameixas. O trem não tem carro restaurante
— cousa que eu nunca tinha esperado —- e o paiz
que elle atravessará não poderá offerecer cousa al
guma.
E’ preciso cuidar-se das provisões !
— Velas? Quem quer velas?
Durante a viagem o trem não será ¡Iluminado e
viajar-se-á também á noite.
Compremos velas.
Um gendarme faz-me parar: um gendarme ves
tido de preto com larga faxa vermelha. São gendar
mes cretenses, e que a Grecia achou bons para man
dar aqui manter a ordem na sua nova Macedonia.
O gendarme quer ver o passaporte. Está em regra?
Tres vezes em regra. Traz o visto do Consulado da
Servia em Milão — cinco francos — , depois o do
governador grego de Salónica — outros cinco fran
cos — , depois o do cônsul da Servia em Salónica:
mais outros cinco francos. O gendarme verifica, mas
não desarma: é preciso ainda ser visado pela auto
ridade política de partida. Meu Deus, mais cinco
francos ?
Passamos ao gabinete da autoridade política.
Dous subordinados dos gendarmes e um delegado
examinam o passaporte que se vae tomando pre
cioso com os autographos, os sellos, os carimbos.
Mas assim se pode entrar e tomar lugar no trem,
que deveria partir ás oito horas, mas que ás sete c
trinta e cinco se põe em movimento. E’ um atrazo
ás avessas: terrível para quem se fia nos horarios •
Este trensinho asseiado e confortável não vae á Ser
via : apenas se approximará, chegando só até Gu-
mendge, a ultima estação grega da Macedonia.
Depois volverá atraz. E’ pena, pois é comniodo
o trensinho, e tem compartimentos aquecidos. D
trem servio que encontraremos depois não terá este
luxo.
A Servia que anda em guerra ha tres annos tem
mais em que pensar!
O trensinho corre para a Servia com uma veloci
dade moderada, seguindo em sentido inverso o
valle do Vardar.
O grande rio está cheio e as suas aguas estão tur
vas por causa das enxurradas d’estes últimos dias-
A nova terra da Macedonia que a Grecia recebeu
de presente das guerras balkánicas, tem um aspecto
de abandono. Nos pastos requeimados, um ou ou
tro rebanho de carneiros com os seus pastores.
E’ esta a terra pela qual se continua a gritar e a
protestar na Bulgaria.
Para o trem o limite é Gumendge : um limite pu
ramente ideal porque a Servia começa além. Em
Gumendge muda-se de trem, um outro comboio
muito inferior espera nos trilhos: um comboio dos
Chetnins de íer de 1’Elat Serbe.
Este trem servio parece mesmo encarregado de
dar o primeiro aspecto do paiz em guerra no qua
entramos. Os pobres carros devem ter passado P° r
todas as fadigas e afflicções e o desesperado heroís
mo de uma mobilisação vertiginosa. Se elles dura
rem até o fim da guerra precisam de um merecido
descanso. Os assentos estão usados, rotos, surrados-
O frio é constante, entrando o vento por algum
vidro partido ou batente de porta que não fecha
bem, cousa que em geral acontece muito frequente-
fl