SELECTA
Caruso Graças á sua bella voz que se tornou de
urna extraordinaria robustez ñas notas cen-
traes, pouco perdendo nas agudas e nas medias,
sempre fresca, sempre seductora, graças aos lucros
que ella lhe deu, Caruso poude mandar construir na
Toscana, vivendas realmente invejáveis.
Um collaborador da Tribuna entrou num desses
ninhos do Divo, em Bellosguardo, numa villa em tudo
principesca : enormes avenidas de arvores seculares,
balaustradas, estatuas, fontes, lagos, jardins elegantes,
e, em redor, terras que produzem Deus sabe quanto. O
palacio e a herdade serão em breve reunidos por uma
grande arcada do século setecentos, com columnas e
ioda envidraçada ; serão collocados nelle as obras de
arte que Caruso sempre compra em toda a parte ; e,
com mais alguns milhares de liras, a villa tornar-se-á
luxuosíssima.
E só a 11 kilometros de distancia, em linha recta,
está a sua outra villa de Belvedere, em Cercina.
Grande trabalho dá Caruso diariamente ao correio;
não ha viuva que não recorra a elle pedindo-lhe pen
são, não ha festa para que se não queira o seu patro
cinio, não ha rapariga que não o queira para compa
nheiro da sua vida. «Mas isto não a nada—acrescenta
o tenor ao jornalista — Não póde ter idéa do que
acontece na America. Aproveito o enthusiasmo para
augmentar os preços. Faço-me pagar agora doze mil
e quinhentas liras. E sabe quanto me rendem, ao anno,
os discos ?
— Sessenta mil liras.
— Adivinhou a quantia... mas é ao mez.»
E mandou buscar os documentos para provar o
que dizia. Quando se pensa que elle canta para o
gramophone um dia por anno, passando por Lon
dres, se comprehende que o theatro se tornou para
elle questão de menor importancia. Cantou para o
jornalista com voz menos retumbante, mas sempre
cheia e sonora, as novas melodias de Tosti: Tor
mento, O dolce meraviglia, Perdut mente, e depois
uma outra do mesmo autor em inglez com perfeita
pronuncia britannica: Parted, e a Serenatella de
Mario Costa, e o Lasciati amar, escripta para elle ha
pouco tempo pelo maestro Leoncavallo. E em italia
no, em francez, em inglez, expande a sua bella voz.
é *
0 terceiro mariòo a Revuede THistoiredeVer-
sailles dá uma curiosa noticia
òe (Daria Luiza, sobre o terceiro marido de Ma-
ria Luiza, duqueza de Parma.
ouqueza oe Parma A viuva de Napoleão, como se
sabe, despozou em segundas
nupcias o general austríaco Neipperg. Morrendo elle,
tomou por espozo Carlos Bombelles, fidalgo francez,
emigrado na Austria depois da revolução de Julho
de 1830. Maria Luirá, á morte de Neipperg, tinha de
clarado que nenhum outro homem a poderia conso
lar; Bombelles viuvo, levava sempre onde ia o cora
ção de sua mulher fechado dentro de um cofresinho
de chumbo. Entretanto esses inconsoláveis consola
ram-se juntos e a duqueza despozou secretamente
Bombelles, que lhe tinha sido mandado por Metter-
nick para auxilial-a no governo. Durante a lua de mel
via-se a duqueza toda curva, parecendo muito mais
velha do que era na realidade, passeiando a pé por
Parma ao braço de Bombelles, escoltada por um só
creado que levava um saquinho cheio de pequenos
rolos de prata para distribuir ao povo.
Bombelles soube inspirar a Maria Luiza ideias de
ordem e de religião, mas essa educação moral não
bastou para a tomal-a fiel. Em 1847, Maria Luiza mor
reu deixando ao marido 300.000 francos e o seu re
trato pintado por Gérard.
SUPPLEMENTO
Bombelles voltou á Austria, mas a revolução de
1848 fel-o voltar á França e elle acabou a sua vida na
sua cidade natal, em Versailles.
& &
0 Hirono Ò0 Scha Na occasião de ser coroado
solemnemente o pequeno Scha
03 PCl’Sia da Pérsia, descreve o corres
pondente de um jornal inglez
o throno famoso sobre o qual elle se senta e que é o
mais rico que existe :
«E’ uma especie de leito de prata macissa ornado
de lavores de uma arte delicadíssima reprezentando
guerreiros, cabeças de animaes e outras scenas figu
radas ; todas as partes que não são lavradas têm enor
mes diamantes incrustados. Em volta dos diamantes
passam linhas feitas de pedras preciosas.
Emfim, no meio do espaldar, vê-se um brilhante
phenomenal que por si só reprezenta uma fortuna.
Mas não é tudo; sobre esse leito regio que serve
de throno sómente nas grandes cerimonias, o Scha
actual collocou uma coberta e um coxim semeado de
diamantes, rubis e saphiras.
Esse maravilhoso throno é avaliado em 75.000.000
francos.
* *
n acção òos perfumes E’ muito difficil definir a
acção que os perfumes
pódem ter no organismo, porque esta acção muda se
gundo a natureza dos perfumes e segundo os indivi
duos.
O perfume das rosas fazia Gretry perder os senti
dos ; a princeza de Lamballe não podia supportar o
das violetas.
Ao contrario, citam-se exemplos de estranha tole
rancia. Ñero pulverizava com agua de rosas todos os
seus apozentos. Luiz XIV vivia no meio de flores de
larangeira. O marechal Richelieu passava o dia n’u-
ma sala, cujo tecto deitava continuamente uma poeira
perfumada. O almiscar deu o seu nome aos Incroya-
bles do Directorio. A imperatriz Josephina perfuma
va violentamente de almiscar o seu gabinete de toi
lette. Napoleão cobria-se iodas as manhãs de agua
de Colonia.
Agora, algumas informações sobre os effeitos que
pódem produzir certos perfumes: Piesse aconselha
aos oradores que perfumem o lenço com agua de
Hungria.
Esta precaução é muito util em certas reuniões pu
blicas...
O doutor Morius não crê que o abuso dos perfu
mes constitua verdadeiro perigo, mas admitte que se
possa perder o olfacto completamente.
E’ preciso, pois, evitar o mais possivel os aromas
muito activos, nocivos e importunos.
Existem entretanto perfumes que têm um caracter
antiséptico: estes eram bem conhecidos dos antigos
que se serviam d’elles para o embalsamamento. Foi
com o benjoim e outras hervas aromáticas que os Egy-
pcios se livraram por muito tempo da peste.
Emfim os camponios asseveram que a presença de
um bode n’uma estrebaria impede a epizootia. Até
um certo tempo se considerou absurda uma tal cren
ça ; depois, porém, se pensou que o acido hircico de
senvolvido pelo bode devia tornar o ar improprio
para a vida de certos microbios.
Seria interessante conhecerem-se todos os perfu
mes inimigos dos microbios; poder-nos-iamos salvar
de não se sabe quantas doenças.