Full text: 8.1922,19.Aug.=Nr. 33 (1922000833)

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NA ALLEMANHA — Gigantesca manifestaç ão operaria, na parte oeste de Berlim, contra o assassinato de Rathenau. A igreja que se vê 
ao fundo foi erguida em memoria do imperador Guilherme I. E’ o primeiro comicio republicano que se realisa naquelle ponto da capital. 
lio da mala de lai 
| Tm romance de amor acabando com um 
crime covarde foi o que succedeu ha 
alguns annos na Inglaterra, reprezentando 
Arthur Devereux o papel de vilão e Bea 
triz Gregory o de heroina e de victima. 
Talvez nunca um tão negro coração se 
escondeu sob tão bello exterior como com 
Arthur Devereux. Alto, esbelto, o corpo 
athietico, o rosto delicado e formoso, co 
roado por cabellos castanhos anntdados, 
elle era um excedente exemplar do inglez 
de boa familia. 
As Suas maneiras aííaveis e o ar de dis- 
tincção faziam crer na historia que nas suas 
veias corria o mesmo sangue da Imperatriz 
Eugenie. Era justamente um rapaz para 
inspirar um amor apaixonado. 
Na primeira scena do drama, vèmos Ar 
thur Devereaux bem vestido, sorridente, 
passeiando com um amigo em Hastings. 
Encontraram-se com duas lindas irmãs, 
conhecidas do amigo, a quem o aprezen- 
tam; depois de alguns minutos de conver 
sa, continuam no passeio, Devereux escol 
tando uma das irmãs, Miss Beatriz Gregory 
Sonho de amor 
Assim a sorte reunia a bella e innocente 
rapariga e o homem destinado a pôr um 
termo trágico á sua vida 
3Não admirava achar Beatriz o seu com 
panheiro um intelligeilte e encantador ca 
valheiro, e acceitar a proposta de um novo 
encontro. Assim um encontro foi seguindo 
ao outro, pie-nics, passeios de bote, excur 
sões— cada qual mais cheio de encantos e 
que ia forjando novo elo na cadeia que 
unia os dois namorados. 
Os dias bonitos pouco duraram. 
O qué se sabe é que se separaram depois 
e alguns mezes de convivencia. Durante 
tres annos Beatriz soffreu as torturas da 
saudade, não vendo mais o homem que lhe 
tinha roubado o coração, até que não po 
dendo mais supportar a separação, foi a 
Londres, procurou-o e convenceu-o de re 
novar o noivado. E num dia de Novembro 
de 1898, ella aprezeritou-se ao seu lado no 
altar de uma igreja de Paddington, noiva 
feliz, sem imaginar que sorte lhe reservava 
o futuro. 
Terrível despertar 
Durante algum terhpo ella foi feliz com 
o seu seductor marido e quando lhe nasceu 
um filhinho, considerou-se a mais invejá 
vel esposa da Inglaterra. Mas, assim como 
no tempo do noivado, os dias bonitos aca 
baram. O marido começou a revelar o seu 
verdadeiro caracter. Ao amor substituiu-se 
a indifferença —á indiíTerença a crueldade. 
A sua vida de familia era sempre entris 
tecida pela faita de recursos; Devereux 
sempre desempregado gastava comsigo o 
pouco dinheiro que arranjava. Comprehen- 
deu que o seu marido era preguiçoso, ego is- 
ta e ainda mais um miserável pois logo 
após o nascimento de seus gemeos, elle 
foi condemnado a 9 mezes de prisão por 
fraude. 
Quando sahiu do cárcere foi habitar um 
sobrado em Harlesden. 
Assim que installou a mulher e os filhos, 
poz a procurar emprego como ajudante de 
pharmaceutico; e em 13 de Janeiro de 1905, 
elle passou este telegramma em resposta 
de um annuncio : 
«Serve viuvo de 34 annos, com um filho 
dé 6 annos, meio pensionista? Sessenta li 
bras salario. Devereux. 
Não tendo podido obter o emprego man 
dou igual telegramma a outro annunciante, 
esta vez com melhor resultado. 
Devereux tinha obtido o emprego mas 
antes de occupal-o quer«a arranjar os seus 
negocios. No dia 28 de Janeiro, Mme Deve 
reux acompanhada da mãe fez algumas 
compras; desde o momento que se despe 
diu da mãe, ella nunca mais foi vista. 
O dia seguinte de manhã, Devereux disse 
aos fornecedores que não precisaria de 
mais nada delles: foi buscar o filho, Stan 
ley, no collegio e dispoz da mobilia. Final 
mente, antes de sahir do sobrado, mandou 
levar a um deposito de moveis a sua mala 
de folha, explicando ao proprietário que 
continha livros e remedios e que dahi a 
alguns mezes iria reclamai-a. 
Quando a mãe, M me Gregory foi vizitar a 
filha, encontrou a porta trancada e com 
um annuncio para o aluguel do sobrado. 
Um receio terrivel acerca de Beatriz apo 
derou-se da mãe, e emquanto as suas pes- 
quizas não a fizeram descobrir o paradeiro 
da filha, a pobre senhora entregou-se ao 
desespero. 
Na pista 
Entretanto, Devereux aprezentara-se em 
Coventry como um viuvo com um único 
filho a quem elle parecia querer muito bem. 
O seu novo patrão parecia encantado 
com o ajudante intelligente e de bellas ma 
neiras. Devereux havia rompido com o pas 
sado e começado nova vida, sem o receio 
que o seu segredo fosse descoberto. 
Mas elle tinha esquecido a sogra que 
cheia de desesperada tenacidade não dei 
xava de procurar os vestigios da filha per 
dida. 
Tinha de facto ouvido fallar na mala que 
estava no deposito de moveis e com um 
instincto tétrico imaginou o que continha 
a mesma. 
Quando declarou ao proprietário do de 
posito os seus receios elle riu-se delia, 
também a policia ficou surda ás suas ideias 
desconfiadas. Foi só mente quando ella ap- 
pellou para um magistrado que obteve li-, 
cença para mandar abrir a mala. 
A tampa foi arrombada e revelou dentro, 
uma caixa de madeira segura por traves 
sas parafusadas. Quando se abriu essa 
caixa, descobriram-se os restos mortaes de 
Mmo Devereux e dos dois gemeos. 
Dentro de 24 horas da descoberta maca 
bra a mão da justiça estava sobre De 
vereux.
	        
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