SELECTA 
como que por mão violenta, na realidade por dous 
lagartos esmeraldinos que se perseguem no meio da 
folhagem. N’esse jardim silvestre nao ha alinhamen 
to, nao ha regra, nao ha arte. Os jardins de Versa 
lhes, os canteiros minúsculos do Trianon, a tristeza 
correcta dos jardins inglezes de Hampton Court, a 
secular imponencia dos parques da Villa Adriana 
sao vencidos por esta luxuriante exuberancia, por 
esta profusão oriental encerrada n’uma cinta de mu 
ralhas sepulcraes dignas de um convento ou de urna 
fortaleza. 
O viço da vegetação venceu a tenacidade de quem 
a queria curvar a uma linha, a um desenho anteci 
padamente determinado; cada planta quer vencer 
m&S. 
b 
t. 
Os jardins do Alcázar 
M 
m 
-> 
C* % 
m Vf 
■ m 
m 
Fonte de Neptuno 
; 
e suffocar a que lhe está próxima: é urna 
luta feroz de todos os momentos, cousa com- 
mum nos climas tórridos. 
E o silencio no qual se dá esse combate 
é tão completo que se tem a illusâo de ouvir 
correr vigorosamente a limpha nos troncos, 
de ouvir desabrochar os brotos e abrirem-se 
as flores e rangerem os seixos ao ardor do 
sol e palpitarem os corações dos lagartos que 
atravessam rápidos as rúas. 
As palmeiras destacam-se altíssimas, im- 
moveis de encontro ao céo esmaltado de 
azul, digno de Malaga ou de Argel, e as fi 
gueiras da India enchem de sombra os 
caminhos com a sua monstruosa folhagem. 
Absoluta falta de agua n’esses jardins. En- 
contram-se grandes espelhos côr de turqueza 
pallida nos recantos mais escondidos e en 
sombrados, cobertos de limo, circumdados ñas bordas 
por pequenos vasos de plantas. Em se caminhando, 
encontra o pé fragmentos azues dos celebres azu- 
0 Pavilhão de Carlos V. 
lejos, reliquias do antigo calçamento. Esses azulejos 
multicores brilham entre a folhagem, e mdesenhos 
harmoniosos, no pavilhão mandado construir por