Full text: 2.1923=Nr. 1 (1923000201)

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PELO MUNDO... 
BANQUETE MACABRO 
Ao imperador Tito, cognominado delicia 
dos romanos, pelas virtudes que o adornavam, 
entre as quaes se distinguía a beneficencia, 
succedeu seu irmão Domiciano, seu assassino, 
segundo dizem alguns historiadores, acérrimo 
perseguidor de todos os cidadãos probos e 
doutos, manchado de toda a casta de torpezas, 
e em summa, 
um dos mais 
execráveis e 
abjectos ty- 
rannos que 
aviltaram o 
t h r o n o de 
Roma. 
Encheria 
muitas pagi 
nas a descri- 
pção das in 
famias d’este 
despota tão 
cruel como tí 
mido, o qual 
na edade de 
45 annos e 
aos 15 do seu 
reinado veio 
a morrer ás 
mãos de um 
liberto de sua 
mulher Comi 
da, no anno 
96 de J. C„ 
sem que !he 
valessem pre 
cauções que 
o medo I he 
suggerira 
para evitar o 
merecido cas 
tigo dos seus 
crimes; mas 
só trataremos 
aqui, para 
que se forme 
urna idéa da 
sua engenho 
sa maldade, 
d’um singular 
banquete da 
do per elle 
aos princi- 
paes senado 
res, segundo 
o que refere . 
João Xiphilino, patriarcha de Constantinopla, 
no livro 67 do seu epitome da historia 
romana de Dião Cassio. 
N’uma sala, cujo tecto, paredes e pavimento 
eram negros, assim como os leitos que a 
guarneciam, foram, no silencio da noite, intro 
duzidos os convidados, sem acompanhamento 
albura. 
Os primeiros objectos que defronte de cada 
um d’elles puzeram foram urna columnasinha 
com o seu nome aberto, semelhante ás que se 
collocam sobre os túmulos, e urna lampada do 
feitio daquellas que pendiam por cima dos 
sepulchros. 
nirska 
II 
mam 
num estudo singular de dansa 
Uns escravos moços, nús e pintados de pre 
to entraram na sala, quaes phantasmas, execu 
taram dansas lúgubres em torno dos comen- 
saes, e deixaram-se ficar a seus pés; vieram 
então as cousas usadas nos banquetes fúne 
bres e tudo era negro, bem como a baixella, 
de sorte que os senadores, tomados de medo, 
esperavam tremendo a morte, a cada momento. 
O silencio que entre elles reinava como se 
já fossem defuntos, e os discursos de Domi 
ciano, que para se divertir, só falava em 
mortes e as 
sassínios, re- 
dobravam- 
lhes o terror. 
Despediu- 
os finalmente, 
e como hou 
vesse manda 
do com ante 
cedencia reti 
rar os servos 
que no vestí 
bulo os espe 
ravam, fel-os 
transportar 
em liteiras ou 
em carros, 
por homens 
desconheci 
dos, o que 
lhes causou 
i n d i s i v e I 
medo. 
Mal come 
çavam a co 
brar animo 
em suas ca 
sas, eis que 
lhes veem an- 
nunciar que 
alguem os 
procura da 
parte do im 
perador. Jul- 
garam-se en 
tão perdidos, 
mas eram ho 
mens a quem 
D o m i c iano 
incumbira de 
lhes levarem 
successiva- 
mente, a um, 
a columnasi 
nha a c i m a 
menc ionada, 
a qual era de 
prata; a outro 
um dos vasos que serviram no banquete; a 
um terceiro alguma peça preciosa de primo 
roso valor, e por fim receberam, porém lava 
do e bem trajado, o escravo que fizera o pa 
pel de espectro e o servira. Assim passaram 
toda a noite em sustos, recebendo um após 
outro diversos brindes. 
— Mas, diga-me: a que attribue as propri 
edades curativas das suas pilulas ? 
— Olhe, meu caro amigo,—replicou o phar- 
maceutico, inventor d’ellas,— quer-me parecer 
que é ao muito que eu as tenho annunciado.
	        
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