Full text: 2.1923=Nr. 2 (1923000202)

PELO MUNDO... 
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— Está -com muita ¡pressa, senhor Gam- 
barcl? Sente-se mais um pouco. 
— E’ que são quasi dez horas, senhor 
Mqutier. 
— ¡Ora! o mercado so acaba ao meio dia # 
Tem muito tempo ainda para lá chocar. 
— Sim, senhor Moutier; mas marquei en 
contro com minha mulher diante do vendedor 
de estofos e retalhos. 
— Oh! então, se ella está apreçando fa 
zendas, não ficará impaciente. Eu queria qu» 
o senhor não sahisse daqui sem ver meu ]_ 
lho. 
— E’ verdade! Voltou de Paris o «eu ra 
paz. Está contente, o senhor ? Acabou bem 
seus estudos de doutorado, o seu íilho? ^ 
— Acabou; hoje é douto r em direito. A 
mãe está satisfeitíssima. Commigo, a . cousa e 
outra. Acho-o parisiense de mais. fule tico ^ 
Por iá a estudaj* direito com artistas. As con 
versas que tem agora não me agradam. Deva 
fazer prelecções sobre a honestidade, «o ie 
propriedade, sobre a justiça... Ifontem, 
mesa, se não fosse o meu rapaz que estivess 
a falar, ter-mo-ia retirado. E tive de conter- 
me para não lhe dar um pa r de bofetadas, s 
depois, não sei se deixou alguma ligaçao e 
Paris, mas gasta-me muito dinheiro. Pou-..ne 
constantemente, e elle anda sempre J uril O 5'®' 
mãe a procurar mais... Deita-se muito c " ^ 
e é uma canseira, pela manhã, para fwze -o - 
vantar-.se. Ah! não, não. Isso não são maneira 
Se quizer fazer successo na adívocacia, s 
preciso enveredar por outro caminho. 
— Eu pensava que o senhor quizesse fa 
zer delis um magistrado. 
— Disse que por emqua-nto. não. Espere 
mos que lhe venha esse desejo. ^ 
— Sabe que o 'Mégnin voltou como juiz 
de instrucção? 
— Sei. E’ um camarada de meu filho. Pa 
rece-me urr rapaz multo serio. 
— O Mégnin? Faria condemnar o propri» 
Pae. Não seria com elle que se abafaria um 
escándalo, como o do collegio, no anno pas 
sado... Oh! diabo! senhor Moutier, dez horas 
e um quarto! Preciso retirar-me... Olá! Que 
b.ella panoplia tem o senhor! 
— Não é má. Mas a que tenho lá embaixo, 
na sala de espera, é bem mais interessante. 
Vamos descer, que quero mostrar-lh’a. E mos 
trar-lhe-ei meu punhal mal ai o, que possuo a 
dous dias apenas. Imagine que passou por 
aqui — foi ante-hontem — um marinheiro na 
sei de que paiz, que tinha toda especie 
curiosidades dos paizes exóticos. Comprei 
uma arma que elle chamava punhal ma ai • 
Será um verdadeiro punhal malaio? nao. ^ . 
cm todo caso é um instrumento curiosísimo- 
J'á o havia visto em um livro; mas não s 
Que existia realmente. Quando o punhal 
na ferida, faz-se pressão' em uma mola, di - 
tão a lamina divide-se em varias partes. 
Quando se retira a arma, esta faz uma 
Q PUNHAL ® ® 
1 a ti MALAIO 
CONTO DE 
—TRISTAN BERNARD ===== 
horrível, em fôrma de cruz... Desgamos... 
Vou mostrar-lh’o. Cuidado com os últimos de 
graus, porque a sala de espera é muito es 
cura.. Mas a panoplia está perto da janella. .. 
Que quer dizer isto? 
— Que foi? 
— Esta é boa! 
— Mas que foi? 
— O punhal malaio já íá não está! Quem 
.poderia tel-o tirado? Oh! E’ preciso esclarecer 
este facto. 
— Veja se não está no chão, senhor Mou 
tier. Talvez tenham cahido os pregos que o 
sustentavam... 
Não; os pregos estavam firmes, e nada ha 
no chão. Oh! vou esclarecer o caso! 
— Eu retiro-me, senhor Moutier. 
Até logo. senhor Gambard... Justina!... 
Justina!... Então? é você, Clemencia? Onde 
está Justina? 
— Justina não está ahi, senhor. Está no 
fundo do jardim com a senhora. Eu acabo de 
chegar do mercado! 
Mas que é que tem, Clemencia? Pa 
rece-me tão perturbada! 
35 c om razão, senhor! Aconteceu uma 
desgraça horrível. A velha senhora do castel- 
lo, que o senhor conhece... 
— E então? 
Foi assassinada no parque, hontem, á 
noite, por volta das neve horas. O jardineiro 
ouviu’ um grito. E, quando se approximou, en 
controu-a morta... Não se. sabe quem a ma 
tou mas deve ter sido um terrivel bandido... 
Imagine senhor, que tila tinha no peito um 
ferimento em forma de cruz. .. Mas que ê 
quê o senhor tem? 
_ Nada. Fri a morte dessa senhora... 
Tinlia, no peito, iim ferimento em fôrma 
de eriíz 
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