PELO MUNDO...
%
S7?.
vr
m'
f
— Está -com muita ¡pressa, senhor Gam-
barcl? Sente-se mais um pouco.
— E’ que são quasi dez horas, senhor
Mqutier.
— ¡Ora! o mercado so acaba ao meio dia #
Tem muito tempo ainda para lá chocar.
— Sim, senhor Moutier; mas marquei en
contro com minha mulher diante do vendedor
de estofos e retalhos.
— Oh! então, se ella está apreçando fa
zendas, não ficará impaciente. Eu queria qu»
o senhor não sahisse daqui sem ver meu ]_
lho.
— E’ verdade! Voltou de Paris o «eu ra
paz. Está contente, o senhor ? Acabou bem
seus estudos de doutorado, o seu íilho? ^
— Acabou; hoje é douto r em direito. A
mãe está satisfeitíssima. Commigo, a . cousa e
outra. Acho-o parisiense de mais. fule tico ^
Por iá a estudaj* direito com artistas. As con
versas que tem agora não me agradam. Deva
fazer prelecções sobre a honestidade, «o ie
propriedade, sobre a justiça... Ifontem,
mesa, se não fosse o meu rapaz que estivess
a falar, ter-mo-ia retirado. E tive de conter-
me para não lhe dar um pa r de bofetadas, s
depois, não sei se deixou alguma ligaçao e
Paris, mas gasta-me muito dinheiro. Pou-..ne
constantemente, e elle anda sempre J uril O 5'®'
mãe a procurar mais... Deita-se muito c " ^
e é uma canseira, pela manhã, para fwze -o -
vantar-.se. Ah! não, não. Isso não são maneira
Se quizer fazer successo na adívocacia, s
preciso enveredar por outro caminho.
— Eu pensava que o senhor quizesse fa
zer delis um magistrado.
— Disse que por emqua-nto. não. Espere
mos que lhe venha esse desejo. ^
— Sabe que o 'Mégnin voltou como juiz
de instrucção?
— Sei. E’ um camarada de meu filho. Pa
rece-me urr rapaz multo serio.
— O Mégnin? Faria condemnar o propri»
Pae. Não seria com elle que se abafaria um
escándalo, como o do collegio, no anno pas
sado... Oh! diabo! senhor Moutier, dez horas
e um quarto! Preciso retirar-me... Olá! Que
b.ella panoplia tem o senhor!
— Não é má. Mas a que tenho lá embaixo,
na sala de espera, é bem mais interessante.
Vamos descer, que quero mostrar-lh’a. E mos
trar-lhe-ei meu punhal mal ai o, que possuo a
dous dias apenas. Imagine que passou por
aqui — foi ante-hontem — um marinheiro na
sei de que paiz, que tinha toda especie
curiosidades dos paizes exóticos. Comprei
uma arma que elle chamava punhal ma ai •
Será um verdadeiro punhal malaio? nao. ^ .
cm todo caso é um instrumento curiosísimo-
J'á o havia visto em um livro; mas não s
Que existia realmente. Quando o punhal
na ferida, faz-se pressão' em uma mola, di -
tão a lamina divide-se em varias partes.
Quando se retira a arma, esta faz uma
Q PUNHAL ® ®
1 a ti MALAIO
CONTO DE
—TRISTAN BERNARD =====
horrível, em fôrma de cruz... Desgamos...
Vou mostrar-lh’o. Cuidado com os últimos de
graus, porque a sala de espera é muito es
cura.. Mas a panoplia está perto da janella. ..
Que quer dizer isto?
— Que foi?
— Esta é boa!
— Mas que foi?
— O punhal malaio já íá não está! Quem
.poderia tel-o tirado? Oh! E’ preciso esclarecer
este facto.
— Veja se não está no chão, senhor Mou
tier. Talvez tenham cahido os pregos que o
sustentavam...
Não; os pregos estavam firmes, e nada ha
no chão. Oh! vou esclarecer o caso!
— Eu retiro-me, senhor Moutier.
Até logo. senhor Gambard... Justina!...
Justina!... Então? é você, Clemencia? Onde
está Justina?
— Justina não está ahi, senhor. Está no
fundo do jardim com a senhora. Eu acabo de
chegar do mercado!
Mas que é que tem, Clemencia? Pa
rece-me tão perturbada!
35 c om razão, senhor! Aconteceu uma
desgraça horrível. A velha senhora do castel-
lo, que o senhor conhece...
— E então?
Foi assassinada no parque, hontem, á
noite, por volta das neve horas. O jardineiro
ouviu’ um grito. E, quando se approximou, en
controu-a morta... Não se. sabe quem a ma
tou mas deve ter sido um terrivel bandido...
Imagine senhor, que tila tinha no peito um
ferimento em forma de cruz. .. Mas que ê
quê o senhor tem?
_ Nada. Fri a morte dessa senhora...
Tinlia, no peito, iim ferimento em fôrma
de eriíz
\