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PELO MUNDO...
Carlos II, de Inglaterra
Carlos 11, que se achava refugiado na Hol
landa, foi chamado pelo Parlamento inglez, e
recebido como rei, em Maio de 1660, entu
siásticamente.
Tinha, então, o filho de Carlos I trinta an-
nos, e era homem audacioso e de sangue frio,
como provou na guerra da Escocia. Mas era
pouco amigo do trabalho.
Sendo um libertino, tornou a córte de Ingla
terra a mais corrompida de todas, durante os
vinte e cincoan-
nos do seu rei- martha
nado.
Profundamen
te anglicano, e
pretendendo
submetter todo
o reino ao An-
glicanismo, com
bateu os Purita
nos. Pelo bilí de
uniformidade,
obrigou, no rei
no, o uso do li
vro de orações
anglicanas.
A vida de pra
zeres de Car
los II custava
sommas enor
mes, e eram es
cassos os 30 mi
lhões de fran
cos, correspon
dentes a 90 mi-
lhões actuaes,
que o Parlamen
to lhe concedia
como subsidio
annual. Então,
Carlos II pro
curou Luiz XIV;
e, em 1662, ven-
deu-lhe Dunker
que, que Crom-
well havia ad
quirido, e em
1670, pelo tra
tado de Dover,
vendeu-lhea sua
alliança contra
a Hollanda, pro
metiendo, ou-
trosim, conver-
ter-se ao catholicismo. Como consequência do
tratado de Dover, Carlos II promulgou em
1672 uma declaração de indulgencia, cessando a
perseguição contra puritanos e catholicos, e,
com Luiz XIV, declarou guerra á Hollanda.
Carlos II, que acarretou assim as iras do
Parlamento, fez a paz com a Hollanda, casou
uma filha com Guilherme d’Orange, que era
inimigo de Luiz XIV, e declarou guerra ao
rei de França, tudo para acalmar os ánimos
exaltados.
Por fim, em 1679, chegou a dissolver o Par
lamento. Mas a Camara dos Communs afastou
o duque de York, seu irmão, da successão á co
roa. Eisto deu origem aos partidos Torye Whig.
O rei, auctoritario como era, governou como
soberano absoluto até o dia 16 de Fevereiro de
1685, em que morreu.
*-
UM ANTEPASSADO
Uma visão deliciosa de graça e frescura.
O nosso amigo D. Polycarpo mandou reno
var o seu palacete da rua de S. Bento, e pas
sando todos os dias pelo mercado de bric-á-
brac, que alli ha, deparou n’uma das lojas com
um grande quadro representando um cavallei-
ro, vestido de armadura de ferro e com urna
vistosa cruz de Aviz pendente ao pescoço. '
mansfield Pareceu-lhe,
alem do mais,
que o cavallei-
ro do quadro
tinha com elle
uns certos ares
de familia, e
por isso lhe
occorreu adqui-
ril-o para ini
cio de uma ga
leria de ante
passados com
que se lembrá-
ra de adornar o
restaurado pa
lacete. Entrou
em ajustes com
o bric-a-braquis-
ta; mas não
chegaram a ac-
cordo na ques
tão do preço.
Passada uma
semana, D. Po
lycarpo, sem
pre com a mes
ma idéa ferra
da, decidiu-se a
abrir a bolsa e
voltar ao mer
cado, succursal
da feira da La
dra, para ad
quirir definiti
vamente o re
trato. Este, po
rém, tinha sido
vendido já.
Consolou-se
como poude da
sua má ventura
e já a tinha es
quecido quasi,
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quando lhe succedeu ir jantar a casa de seu ve
lho amigo D. Manuel Travassos. Foi ¡Ilimitada
a surpreza que teve ao entrar na sala de jantar
e ao vêr na melhor parede d’ella o cavalleiro
de Aviz, de que estivera quasi a ser dono, mas
que se persuadira jamais tornar a vêr. E como
o velho Travassos notasse a insistencia com
que o seu hospede fitava o quadro, disse-lhe:
— E’ urna excellente pintura. Veio-me ás
mãos de um modo muito curioso. Representa
um companheiro do grande condestavel e é
meu antepassado.
— Isso é verdade? observou D. Polycarpo.
Pois asseguro-lhe que esteve por bem pouco a
ser antepassado meu!