Full text: 2.1923=Nr. 4 (1923000204)

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PELO MUNDO... 
UM GRITO NA NOITE 
(Continuação da pag. 29) 
Esta madrugada, Si r John está sentado na 
bibliotheca; parece despertar dum sonho hor 
roroso. Tem os olhos fitos no local em que, 
na vespera, Lady Lesterham tombou. Pensa 
nos annos passados e interroga-se. 
Ella morreu sem deixar-lhe um indicio, uma 
palavra. Comtudo, ella teria podido dizer-lhe 
tantas coisas que elle tinha necessidade de sa 
ber! O que representava para ella esse ho 
mem? Tudo parece indicar que ella se dirigiu 
ao “cottage” para abatel-o; mas por que? Fa 
laram-lhe duma Sra. Alliston; nunca conhecera 
mulher com esse nome; mas si fosse o seu an 
tigo sobrenome? 
Elle lembra-se de que, no ultimo instante de 
seu matrimonio, ella lhe pedira permissão pa 
ra revelar o nome que occultava, ao pastor 
que os unira. Si este sacerdote estiver vivo ain 
da, poderá dizer si Lady Lesterham chamou- 
se outr’ora a Sra. Alliston... 
Ao amanhecer, communicaram ao infeliz ba 
ronete que. o medico viera e tornára a partir; 
que se fizera a Lady Lesterham a ultima “toi 
lette”, e que tudo estava prompto para o en 
terro. Sir John lelvantou-se e subiu lenta 
mente. para contemplar pela ultima vez os 
tragos ^aquella que tanto amára e cuja me 
moria continuava a venerar, a despeito de 
tudo. 
O sorriso altivo ainda lhe enrugava os la 
bios, apezar da morte. Notou com reconheci 
mento um pequeno ramalhete de flores, di<ffi 
céis de acha r nessa estação, colhidas po r mão 
piedosa. Curvou-se e pousou ligeiramente os 
labios sobre a fronte gelada; seus olhos se en 
cheram de lagrimas; arrancou uma florzinha 
á coroa e occultou-a no peito. Durante uma 
hora, mais ou menos, contemplou-a, pen 
sando no passado ; depois, quando a luz 
do dia começou a filtrar-se pelas persia 
nas fechadas, poz-se de joelhos e orou. 
Orou como só o faria um homem forte, 
quando a extensão do seu abandono lhe é, de 
repente, impiedosamente revelada. Levantou- 
se, afinal, e tornou a descer á bibliiotheca. 
Apanhou as joias que ella deixára sobre a me 
sa e contemplou-as com assombro, sem poder 
explicar-se o motivo de sua presença nesse 
logar. Apalpou os objectos que ella empregava, 
quando se dispunha a trabalhar: sua penna, o 
pequenino e mimoso 1 limpa-pennas, o canhe- 
nho, tudo estava lá, como se ella se tivesse 
utilizado delles até o fim. 
E o estranho romance, que tanto a absor 
vera? Devia achar-se na terceira gaveta, a 
partir do alto; sim, elle não se enganava. As 
paginas estav/am devidamente reunidas. Reco 
nhecia a pequena calligraphia arredondada, 
que elle lanto admirava. Pobre alma! Sua mão 
não mais traçaria uma só linha, dahi para di 
ante. 
Apanhou o manuscripto e olhou-o; lendo a 
primeira linha, deixou escapar um grito de 
surpresa: “Confissão de Lucy Alliston, conhe 
cida geralmente sob o nome de Lady Lester 
ham 
XXVII 
ONDE O VÉO SE ERGUE 
“Começo esta confissão, declarando que fui 
a autora do assassínio de Richard Alliston, no 
territorio de Greenleafhurst, no verão pas 
sado. 
Richard Alliston era meu esposo. Tinhamo- 
nos unido em L ; ma (Peru’), ha quinze annos. 
Eu fora para lá como “prima donna” duma 
“troupe” de opera em “tournée”, e lá é que 
nos conhecemos. Elle me pediu mais tarde que 
fosse sua esposa. Parecia occupar uma alta 
posição, sob o duplo ponto de vista de fortuna 
e influencia e, por isso, não indaguei de mais 
nada. Em minha vida, nunca soube o que foi 
ama r alguém ou alguma cousa. Nunca pro 
curei a felicidade sinão para mim e agora é 
demasiado tarde para reconsiderar a extensão 
de meu erro. Poderia talvez achar uma des 
culpa para meus sentimentos, attribuindo-os 
aos meus successos n o mundo theatral. Conce- 
cebera um futuro de esplendor. Ai de mim! 
Era muito joven ainda para ter idéas sensa- 
A PBINCEZA YOLANDA, COJO ENLACE ACABA OE SE 
===== BEALIZAB. =— 
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Filha primogênita dos soberanos da 
Italia, a princeza Yolanda se dis 
tingue pela formosura e pela bondade 
de coração. Seu enlace com o ca 
pitão C-alvi de Bergolo, nobre des 
cendente de histórica familia italiana, 
atiesta a sua ternura e a firmeza de 
seu coração. Yolanda Margarita nas 
ceu a I de junho de 1901. Herdou 
a belleza e as virtudes maternas. Du 
rante os dias angustiosos da guerra, 
soube consolar as victimas do sacri 
ficio, auxiliando sua mãi na pratica 
da caridade.
	        
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