PELO MUNDO...
PELO MUNDO..
COSTUMES HESPANHÓES — REFLEXOS DA ALBUFEIRA
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Albufeira—ninguém o ignora—significa iagoa de agua salga
da, e existem varias na Hespanha, sendo a maior a de Valença.
Sua belleza e seus thesouros mereceram em todos os tempos a
attenção de principes e de escriptores, como Plinio, como o rei
D. Jayme, como Oodoy...Os arabes a chamavam "pequeno
mar”.
Actualmente pertence ao Estado, e é uma inesgotável cria
dora de peixes, bem como um esplendido logar para caçar aves
aquaticas.
Até aqui, a informação á maneira dos manuaes de geographia.
Diz tudo e nao diz nada, porque o inventario dessa laguna de
45 kilometros nao é sufficiente, como nenhum catalogo em
estylo de tabelliao, para descobrir o mysterio, que caracteriza
a immensa lamina d’agua, o seu feitiço medroso, em que pese
os passeios domingueiros das gentes alegres da cidade. Claro
está que falamos como poetas, "os homens que se levantam tarde
e nunca acabam de despertar”, segundo a phrase dum cultor
habitual de tiradas.
No meio das hortas amenas, e junto ao Mediterráneo har
monioso e brilhante, põe a grande bolsa marinha a única nota
melancholica da paizagem levantina. Della emana a malaria, que
enche as choças dos arrozaes próximos de fantasmas trémulos.
Qs enfermos que, envoltos em suas mantas negras, jazem ao sol,
quasi exangues, ou ñas barcas que deslisam espectralmente, com
põem grupos de viajantes do paiz das sombras.
Fluctúa sobre a infinita planicie liquida o terror do naufra
gio. Quando os cahiques sem quilhas viram, o lodo do fundo
jamais devolve suas victimas. Algumas noites apparecem viajan
tes de lenda, cuja presença é assignalada por fanaes, que se di
riam brilhar dentro da agua salobre. Mas sem recorrer a episo
dios ou recordar instantes dramáticos, só o aspecto da infindá
vel superfície acerada contrasta já com a risonha veiga mourisca,
em que as culturas semelham tapetes orientaes. A lua não en
contraria outro espelho em toda a península. Mutuamente se en
feitiçam o astro e o tanque, como Narciso na agua placida em
que se mirava, e que por sua vez se mirava nos olhos do ena
morado de si mesmo.
Mudo e prolongado idyllio de duas magias, emquanto além,
entre 03 pinheiros que parecem enjaular o Mediterrâneo, se ouve
o relincho das alimarias, rasgando por vezes o pasmo do ar o
silvo duma serpente, adivinhada talvez por ser temida. Reconhe
çamos, sem embargo, que meus conterrâneos — fui baptisado na
parochia mais popular de Valença ; consignemos o dado para a
historia—não foram talhados para tristezas comtemplativas. Raça
laboriosa e pittoresca, cheia de seiva, seria capaz de povoar,
como numa pastoral grega, seus bosques, consagrando-os ao
deus Pan, si o arvoredo se entenebrecesse com corujas fatídicas.
Elles proprios, os “chés” carnosos e vermelhos, com cabel-
iras frisadas e rubras, se converteriam em faunos, dedicando-se
perseguir as nymphas de olheiras e pallidas como esse marfim
ae tanta fama deS á Venus valentina. Por felicidade não foi
reciso recorrer aos remedios heroicos. Para evitar em
terminada época que o mediterrâneo e sua filhinha se com-
Sem sem o que nJo se poderiam inundar convenientemente
i p^ntações de ’ar’roz, construiram e utiliza.«U* “'eTseu
s De igual modo impedem que se coagule a albufeira em seu
eliquio fatal. Organizam caravanas de "paelleros , P ov ° r ®“
inaes que servem ao lago de tentáculos, «¡m , p alvura
s povoados próximos; povoam os canaes de vel , 1
nerge dos feixes de juncos. Sob o domo azul «soam
risos. Atraz do dorso da montanha, em que P a ® a . .¡if '
)b 0 bosque perfumado e rumoroso, e com magesto
mça pelo vôo das mariposas entre a lyra de seus c '
¡tende a areia dourada e refulgem as ondas a ” llada ®
ildinas, com suas cristas de espuma... E nas datas memora
vade os antigos dominios regios um exercito de caçadores, q
;stroçam e anniquilam as legiões de gaivotas, que vem do centro
do norte da Europa ; dos paizes de lenda, feudaes e visionarios,
n que puderam as aves contrahir o germen da melancholia hypsr-
órea, com grave perigo de contagio para a terra predilecta do sol.
ccnpDirn HARPIA SANCHIZ.