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PELO MUNDO...
UM CRIME EXTRANHO
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(Continuação da pagina 19)
E botando o chapeo sahiu atraz do ame
ricano. No dia seguinte, de manhã, soube
mos da morte mysteriosa do sr. Drebber.
— Esta narrativa, epilogou o agente, foi
intercortada por lagrimas e suspiros. Por mo
mentos, a senhora Charpentier falava tão
baixo que eu mal podia ouvir o que ella dizia.
Tomei algumas notas para fazer um resumo
e não errar.
VUL TOS DE BROAD WA Y
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Helen Lee Worthing, do Ziegfeld Follies, o grande
cabaret novayoik'no.
— De facto, é emocionante! disse Sher-
lock Holmes bocejando. E depois ?
— Quando ella acabou, continuou o agen
te, convenci-me de que tudo aquillo repousava
sobre uma única base. E olhando para ella,
de um modo especial que, eu sei, faz grande
effeito sobre as mulheres, pedi-lhe que me
dissesse a que horas o filho tinha entrado
em casa, aquella noite.
— Não sei! respondeu-me.
— A senhora não sabe ?
— Não senhor. Elle tem chave da porta
da rua e entra sempre com cuidado para
não incommodar.
— A senhora já estava deitada ?
— Já, sim, senhor.
— E a que horas se deitou ?
-— A’s onze, mais ou menos.
■— Seu filho demorou-se uma ou duas ho
ras talvez...
— Talvez.
— Pôde ser mesmo umas quatro ou cinco ?
— E’ possivel.
— E o que fez elle em todo esse tempo
que esteve fóra ?
— Isso, não sei.
Eu não precisava mais. Certifiquei-me do
logar onde poderia encontrar naquelle mo
mento o guarda marinha Charpentier, levei
dois agentes commigo e fui procural-o. As
sim que lhe puz a mão no hombro, e o con
videi calmamente a acompanhar-nos, pergun
tou-me descaradamente:
— E’ como culpado da morte desse cana
lha do Drebber que o senhor vem pren
der-me ?
Ora, como nenhum de nós lhe havia dito
qualquer coisa sobre o assumpto, aquillo fez-
me especie...
— De certo! disse Holmes.
— Tinha ainda na mão a pesada bengala
com que, segundo a senhora Charpentier, elle
tinha sahido de casa para seguir Drebber.
E’ um bom traste, de carvalho.
— A sua opinião é então ?
_— Lógica, respondeu Gregson. Elle se
guiu Drebber até Brixton Road. Ahi, nova
altercação se originou entre ambos, e Dreb
ber recebeu talvez, eu não sei onde, mas póde
ter sido na bocea do estomago, uma bengala-
da que o matou sem deixar vestigios. A noite
estava tão chuvosa que nem um gato andava
pela rua, ei Charpentier poude levar, arras
tando-o talvez, o cadáver para a tal casa des
habitada. Quanto á vela accesa, ao sangue espa
lhado e á tal palavra escripta na parede, são
trues para desnortear a policia.
— Bem achado tudo isso e bem deduzido,
Gregson, disse Holmes parecendo encorájal o.
Decididamente você fez progressos e é bem
provável que lh’os recompensem...
— Posso gabar-me, com effeito, de haver
conduzido este assumpto com bastante tacto.
O rapaz declarou que seguiu Drebber por al
gum tempo, até que elle, dando por isso, to
mou um fiacre para se lhe eçcapar. Pretende
ter encontrado, então, quando voltava para
casa, um velho camarada da marinha e feito
com elle um passeio demorado. Quando lhe
perguntei onde morava esse «velho camarada»,
não poude dar uma resposta satisfactoria.
Creio que não será preciso mais para uma
conclusão... E o que me diverte é pensar que
o Lestrade galopa atraz de uma pista falsa.
Receio que, esse, não vá longe na carreira...
Oh! Mas... Eil-o ahi em pessoa!
Era com effeito Lestrade que acabava de
subir a escada' e entrava nesse momento. Mas
não parecia o mesmo. O rosto transtornado,
a roupa em desordem. Vinha, sem duvida,
consultar Sherlock Holmes, porque a pre
sença de seu collega Gregson pareceu em
baraçai-o, contrarial-o vivamente. Ficou para
ah no meio da sala, sem dar palavra, a amar
fanhar o chapéo nas mãos, sem saber que
partido tomar.
— _ E’ um caso bem extraordinario este!
Perfeitamente incomprehensivel 1 disse por
fim.