Full text: 3.1924=Nr. 1 (1924000301)

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PELO MUNDO... 
UM CRIME EXTRANHO 
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(Continuação da pagina 19) 
E botando o chapeo sahiu atraz do ame 
ricano. No dia seguinte, de manhã, soube 
mos da morte mysteriosa do sr. Drebber. 
— Esta narrativa, epilogou o agente, foi 
intercortada por lagrimas e suspiros. Por mo 
mentos, a senhora Charpentier falava tão 
baixo que eu mal podia ouvir o que ella dizia. 
Tomei algumas notas para fazer um resumo 
e não errar. 
VUL TOS DE BROAD WA Y 
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Helen Lee Worthing, do Ziegfeld Follies, o grande 
cabaret novayoik'no. 
— De facto, é emocionante! disse Sher- 
lock Holmes bocejando. E depois ? 
— Quando ella acabou, continuou o agen 
te, convenci-me de que tudo aquillo repousava 
sobre uma única base. E olhando para ella, 
de um modo especial que, eu sei, faz grande 
effeito sobre as mulheres, pedi-lhe que me 
dissesse a que horas o filho tinha entrado 
em casa, aquella noite. 
— Não sei! respondeu-me. 
— A senhora não sabe ? 
— Não senhor. Elle tem chave da porta 
da rua e entra sempre com cuidado para 
não incommodar. 
— A senhora já estava deitada ? 
— Já, sim, senhor. 
— E a que horas se deitou ? 
-— A’s onze, mais ou menos. 
■— Seu filho demorou-se uma ou duas ho 
ras talvez... 
— Talvez. 
— Pôde ser mesmo umas quatro ou cinco ? 
— E’ possivel. 
— E o que fez elle em todo esse tempo 
que esteve fóra ? 
— Isso, não sei. 
Eu não precisava mais. Certifiquei-me do 
logar onde poderia encontrar naquelle mo 
mento o guarda marinha Charpentier, levei 
dois agentes commigo e fui procural-o. As 
sim que lhe puz a mão no hombro, e o con 
videi calmamente a acompanhar-nos, pergun 
tou-me descaradamente: 
— E’ como culpado da morte desse cana 
lha do Drebber que o senhor vem pren 
der-me ? 
Ora, como nenhum de nós lhe havia dito 
qualquer coisa sobre o assumpto, aquillo fez- 
me especie... 
— De certo! disse Holmes. 
— Tinha ainda na mão a pesada bengala 
com que, segundo a senhora Charpentier, elle 
tinha sahido de casa para seguir Drebber. 
E’ um bom traste, de carvalho. 
— A sua opinião é então ? 
_— Lógica, respondeu Gregson. Elle se 
guiu Drebber até Brixton Road. Ahi, nova 
altercação se originou entre ambos, e Dreb 
ber recebeu talvez, eu não sei onde, mas póde 
ter sido na bocea do estomago, uma bengala- 
da que o matou sem deixar vestigios. A noite 
estava tão chuvosa que nem um gato andava 
pela rua, ei Charpentier poude levar, arras 
tando-o talvez, o cadáver para a tal casa des 
habitada. Quanto á vela accesa, ao sangue espa 
lhado e á tal palavra escripta na parede, são 
trues para desnortear a policia. 
— Bem achado tudo isso e bem deduzido, 
Gregson, disse Holmes parecendo encorájal o. 
Decididamente você fez progressos e é bem 
provável que lh’os recompensem... 
— Posso gabar-me, com effeito, de haver 
conduzido este assumpto com bastante tacto. 
O rapaz declarou que seguiu Drebber por al 
gum tempo, até que elle, dando por isso, to 
mou um fiacre para se lhe eçcapar. Pretende 
ter encontrado, então, quando voltava para 
casa, um velho camarada da marinha e feito 
com elle um passeio demorado. Quando lhe 
perguntei onde morava esse «velho camarada», 
não poude dar uma resposta satisfactoria. 
Creio que não será preciso mais para uma 
conclusão... E o que me diverte é pensar que 
o Lestrade galopa atraz de uma pista falsa. 
Receio que, esse, não vá longe na carreira... 
Oh! Mas... Eil-o ahi em pessoa! 
Era com effeito Lestrade que acabava de 
subir a escada' e entrava nesse momento. Mas 
não parecia o mesmo. O rosto transtornado, 
a roupa em desordem. Vinha, sem duvida, 
consultar Sherlock Holmes, porque a pre 
sença de seu collega Gregson pareceu em 
baraçai-o, contrarial-o vivamente. Ficou para 
ah no meio da sala, sem dar palavra, a amar 
fanhar o chapéo nas mãos, sem saber que 
partido tomar. 
— _ E’ um caso bem extraordinario este! 
Perfeitamente incomprehensivel 1 disse por 
fim.
	        
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