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PELO MUNDO...
restaurante, um pontão onde se amarra
vam os botes. Elle passou na ponte felta
de taboas mal ajustadas.
O barranco que desda ao rio ostentava
a pellucia esmeralda de sua reiva húmida
e viçosa. Elle deualguns passos aspirando
o cheiro acre dos choupos, depois recli
nou-se no declive suave. Apoiado num co
tovelo, immovel, o olhar offuscado pelas
scintillações da agua, experimentou um
bem-estar delicioso.
à primavera fazia surgir em ponta de
lança as folhas das suas bainhas. A fina
folhagem dos salgueiros brotava tenra.
Acima de um muro, apresentava-se em
leque um galho florido, os passarinhos
chamavam-se de um ninho ao outro; a
— Urna proeza sensacional ~
Salto para mergulho duma plataforma situada a G)
100 metros do solo, executado por urna joven mer- [n
gulhadora, no decorrer do ultimo carnaval de gj
rua, érn Petrhima, California. m
brisa tepida, a agua fremente, arripiava-se
como ao sopro de divina caricia.
Camillo Hurlu sentiu-se .só. Quem sen
tiria a sua morte? O seu desapparecimen-
to apenas seria notado, os jornaes mencio
nariam a noticia em duas linhas, um sui
cidio a mais ou a menos não tem impor
tancia. O amigo mais bondoso diria: “Era
o que lhe restava fazer, pobre diabo!”
Desgraçado do homem que não é espe
rado por ninguem!
Elle despiu a jaqueta, e arrastando-se
sobre as mãos approximou-se da agua
traiçoeira. Nesse instante, uma silhueta
feminina se perfilou na ponte: um vulto
negro. Parando, ella olhou em torno de si
e pareceu impressionar-se com a lindeza
da manhã clara. De uma bolsa, ella tirou
uma carta, releu-a e picou-a em pedaci
nhos miúdos, e o punhado de confetti
brancos lançados por sua mão, esvoaçou
como leves borbolêtas logo dispersadas.
Rapidamente, ella dirigiu-se ã outra mar
gem.
—- Darei o mergulho quando ella tiver
desapparecido, pensou Camillo.
Frágil e como vestida de abandono na
sua “toilette’ de luto, a moça desceu até o
rio que, sob a primeira arcada, se enca-
choeirava. Lançou sobre a relva o chapêo
e a bolsa e, á vista do rapaz, cuja presen
ça ella não suspeitava e que percebeu de
masiado tarde a significação desses ges
tos, ella pulou no rio, desapparecendo.
Camillo por sua vez lançou-se á agua.
Era bom nadador, trouxe para terra a jo
ven desilludida que lhe disse o seu nome.
Mlle. Rose-Marie de la Bourdiére, or-
phâ quasi sem meios, não havia podido
soffrer o ultimo golpe da má sorte: o rom
pimento de seu noivado que lhe acabava
de impor, numa carta cortez, a mãe de
seu noivo ao saber que o dote da herdei
ra, devido a um processo de herança, re-
dr.zla-se a pouca cousa: vinte mil francos
de renda, em vez de trezentos mil. Ella
offereceu-os, reconhecida, a seu salvador,
que se contentaria mesmo com a metade.
O castello antiquado foi vendido. Elles
compraram á beira do Loing uma casita
onde Rose-Marie vê crescer tres garotos
barulhentos. E, Camillo, como poeta que
é, cultiva uma horta onde no meio das
aboboras, florescem girasôes e rosas tre
padeiras. Todos os domingos, empurrando
com uma vara o bote que vagaroso passa
entre os canniços com um ruido de sêda
rasgada, elle vae sob a arcada da ponte
pescar cadozes para uma fritada.
Lude Paul-Margueritte
O MUSEU DO CHEQUE
Na Inglaterra, o Syndicato dos Ban
queiros creou um museu especial de che
ques. O mais antigo dos que figuram
nelle tem a data do anno 1675, o seu va
lor é de 198 francos e está assignado por
Thomas Fouler, joalheiro.
Estão também expostos em logar á
vista, dois chequee que a China entregou
ao Japão como indemnisação de guerra
em 189 5, o primeiro dos quaes, no valor
de 296.221.87 5 francos, e o segundo,
205.621.000 da mesma moeda.
Acham-se expostos ainda mais alguns
cheques da Royal Steam Packet Compa-
ny, num total de 128.339.000 francos, e
outros de entidades e valores não menos
importantes.
Entretanto, não são os cheques de
quantias avultadas que mais chamam a
attenção, pois, entre elles, ostenta-se o
mais modesto que se conhece, e diante do
qual os visitantes se demoram com certo
respeito: é um do valor de cinco centa
vos, pago pela thesouraria dos Estados
Unidos ao presidente Cleveland.